Negócios

Ela criou o primeiro e-commerce de gado de corte a preço fixo focado em cuidado e redução de custos

Em meio a pandemia, Amanda Peres fundou a Remate63, com sede em Paraíso do Tocantins (TO), que cresce 25% ao ano e já atua em cinco estados

Amanda Araújo Barbosa Peres, CEO da Remate63: empresa realiza experiências 100% digitais para comercialização dos animais.

Amanda Araújo Barbosa Peres, CEO da Remate63: empresa realiza experiências 100% digitais para comercialização dos animais.

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 15h00.

Última atualização em 6 de dezembro de 2024 às 09h27.

O mercado de leilão de gado movimenta cerca de R$ 2 bilhões todos os anos no país. Apenas em 2023, foram realizados 1,2 mil eventos transmitidos pelo Canal Rural, um dos veículos mais relevantes do segmento. Foi de olho nesse setor que Amanda Araújo Barbosa Peres criou a Remate63, empresa com sede em Paraíso do Tocantins (TO), pioneira no Brasil em realizar experiências 100% digitais para comercialização dos animais.

A companhia foi fundada em 2020, no meio da pandemia, com o objetivo de facilitar a compra e a venda de gado de corte, com preço fixo, segurança e agilidade para os pecuaristas. No modelo do negócio, os animais não são expostos e movimentados. “Assim, além de contribuir com o bem-estar do gado, colaboramos com a sustentabilidade e reduzimos em 50% o custo com a logística”, diz.

Formada em publicidade e propaganda, com MBA em gestão empresarial e analista em comércio exterior, Amanda é uma daquelas pessoas fadadas ao empreendedorismo. Aos seis anos perdeu o pai e viu a mãe empreender para criar as duas filhas. Desde então se conectou com esse universo. Ela iniciou a carreira como estagiária na Federação das Indústrias do Estado do Tocantins e em seu último cargo, como gestora da Unidade de Desenvolvimento Industrial, idealizou o Programa Ela Faz Indústria, que atendeu mais de 2 mil mulheres. “Eu tinha muito contato com a área de agronegócio e com o empreendedorismo e isso colaborou com a vontade de criar minha própria empresa”, conta.

A experiência profissional de Amanda também contemplou acompanhar mensalmente o diagnóstico industrial e o segmento de crédito. “Tudo isso me ajudou a empreender com mais segurança”, diz.

Pandemia como impulso

A Remate63 surgiu pelo avanço das medidas de distanciamento social. Na época, o Marido de Amanda, Lucas Peres, e seu sócio Danilo Pincinato – ambos médicos veterinários – já realizavam uma vez por ano o maior Leilão de Progênies de IATF da região Norte. Com os eventos presenciais restritos por conta da covid-19, ela teve a ideia de desenvolver uma tecnologia que permitisse a realização dos leilões e, ao mesmo tempo, fosse uma alternativa economicamente mais viável e que respeitasse o bem-estar animal.

No modelo tradicional, os pecuaristas enviam os bovinos para um recinto, onde os animais são adquiridos por disputas de lances com a presença obrigatória de um leiloeiro. Havendo negociação, o gado é transportado para a fazenda do comprador, caso contrário, é devolvido para a fazenda do vendedor. A empresa conta com um software exclusivo para automatizar o processo de compra e venda sem necessidade da movimentação dos animais. Desta forma, os compradores analisam as ofertas online e só há transporte depois do fechamento do contrato.

Apoio do Sebrae e planos de expansão

Atualmente, Amanda é sócia administradora e CEO da Remate63, sendo responsável por gerenciar a plataforma, elaborar mecanismos de gestão, planejamento e estratégia, além de cuidar da gestão de pessoas e gerir o relacionamento com os clientes. “Nunca romantizei o empreendedorismo. Para minimizar os riscos, busquei capacitação, analisei o mercado e elaborei um plano de negócios. O Sebrae sempre esteve presente nesta jornada e ajudou principalmente no desenvolvimento da plataforma, que foi crucial para o lançamento da empresa”, diz.

Entre os desafios ao longo da jornada, a empresária cita o de desbravar um novo mercado. “Não foi fácil emplacar a ideia, pois culturalmente os leilões presenciais apareciam como carro-chefe para a comercialização de gado, e no Brasil não havia uma plataforma 100% online e com preços fixos. Diante disso, foi preciso testar o modelo, verificar a aceitação do mercado e investir em comunicação. O mais complicado foi convencer os clientes acostumados com o formato tradicional”, afirma.

Em poucos meses de lançamento, a Remate63 vendeu quase 300 lotes de gado de corte, sendo 40% deles fêmeas. O negócio se mostrou viável e atualmente cresce 25% ao ano. “Iniciamos a operação no estado do Tocantins e agora também possuímos clientes nos Estados da Bahia, Maranhão, Pará e São Paulo”, diz Amanda, que planeja expansão para outros locais, como Mato Grosso e Pará. Outro plano é transformar a dinâmica de comercialização de gado de corte no Norte e Nordeste do Brasil.  Atualmente, todo planejamento de expansão da empresa é com renda própria. “Já tivemos contato com alguns investidores e estamos analisando”, diz.

Indicadores tocantinenses como aliados

Ao seu favor, Amanda tem indicadores positivos e um berço que alavanca o negócio. O Estado do Tocantins possui uma vocação natural para o agronegócio e está inserido em uma das últimas fronteiras agrícolas do país, em uma região conhecida como Matopiba, onde metade do território do estado tem potencial para a produção agrícola.

Além disso, nos últimos anos o Brasil registrou um crescimento expressivo no rebanho bovino, alcançando quase 220 milhões cabeças de gado, e o Tocantins ocupa o 10º lugar do país em rebanho bovino, chegando a mais de 9 milhões de cabeças. Em média, são comercializados 20 mil animais por mês em leilões presenciais no estado. Levando em consideração o valor médio de venda do gado, que é de R$ 2,5 mil para diferentes categorias, o volume de negócios gerados ao final de um ano chega a R$ 600 milhões. E é uma fatia dessa que Amanda quer abocanhar.

“O setor agropecuário no Estado está passando por um processo de transformação e esse cenário representa uma oportunidade para novos negócios, especialmente na cadeia produtiva de proteína animal. É essa oportunidade que desejo aproveitar para impulsionar a empresa”, afirma Amanda.

O desempenho da empresária já rendeu reconhecimentos. Em 2023, foi reconhecida nacionalmente com o “Prêmio Mulheres Inovadoras da FINEP” e, em 2024, a empresa recebeu o Prêmio FIETO de Inovação, ocupando o terceiro lugar geral. Além de comandar a companhia, Amanda é diretora da Câmara das Mulheres Empreendedoras e Gestoras de Negócios da Fecomércio-TO. “É sobre ajudar mais mulheres a alcançarem seus objetivos por meio do empreendedorismo”, finaliza.

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