Negócios

Ela começou a empreender com R$ 800 e hoje fatura R$ 2 milhões com acessórios personalizados

Tatiana Zugman fundou a Uindi em 2014 após sucesso nas redes sociais com chapéu de praia bordado; hoje atende marcas como Nike, Chandon e American Airlines

Tatiana: negócio que surgiu "por acidente" hoje é o ganha-pão da empreendedora (Tatiana Zugman/Divulgação)

Tatiana: negócio que surgiu "por acidente" hoje é o ganha-pão da empreendedora (Tatiana Zugman/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 16 de junho de 2022 às 09h50.

Última atualização em 16 de junho de 2022 às 10h21.

A história de Tatiana Zugman com o empreendedorismo não começa com um sonho de infância ou um desejo antigo de começar o próprio negócio. Em vez disso, é o resultado de alguns acasos, de apoio familiar e de um conselho bastante útil. Tudo começou em 2014, quando a hoje CEO da Uindi trabalhava no departamento financeiro de uma empresa em São Paulo. Ao receber a notícia de que a companhia ia fechar as portas naquele mesmo ano, Tatiana também ouviu um conselho do então chefe na época: “Você tem de empreender, abrir seu próprio negócio, tenho certeza de que vai dar certo”. Ela, a princípio, resistiu à ideia, mas pouco tempo depois fundou a empresa que chefia até hoje – e que cresce ano após ano. 

A empreendedora encontrou o nicho em que atua hoje quase por acidente. No mesmo ano em que a empresa em que trabalhava havia, de fato, fechado, ela estava procurando uma oportunidade de renda para não depender dos pais – mas nada havia dado certo. No meio dessa busca por emprego, surgiu a oportunidade de ir à praia e ela, então, decidiu comprar um chapéu de palha para usar por lá. Depois de ir à rua 25 de março e comprar o acessório, Tatiana achou o chapéu “muito sem graça”, como ela mesma afirma, e resolveu customizá-lo. Ao testar algumas alternativas, resolveu que um bordado poderia atender às suas expectativas. Visitou uma bordadeira, depois outra e outra, até chegar à que tinha a técnica certa para ser aplicada no acessório (chamada de bordado manual). 

O dia de ir à praia enfim chegou e Tatiana postou diferentes fotos do chapéu nas redes sociais. Foi um sucesso. Amigas começaram a pedir ‘encomendas’ e ela, então, já de volta a São Paulo, investiu R$ 800 na compra de quatro chapéus e na mão-de-obra da bordadeira que havia feito o primeiro – e que, inclusive, permanece na empresa ainda hoje. 

O boca a boca foi se espalhando e, cerca de um ano depois, uma farmácia de manipulação encomendou 100 chapéus de uma só vez. “Fiquei perdida! Não tinha nem preço para o atacado, teria de colocar mais dinheiro para conseguir entregar tudo dentro do prazo. Mas no final, consegui entregar tudo. Essa foi a forma que entendi que precisaria atender tanto ao atacado quanto ao varejo e defini que não queria que minha marca fosse uma de revenda. Sempre gostei muito do atendimento. Com o tempo, fui aprendendo e aumentando a linha de produtos disponíveis, sempre prezando por acessórios personalizados, que entendi serem o meu forte e o que eu gosto”, diz Tatiana, à Exame.

Entre o começo e o patamar que a empresa chegou hoje, a empreendedora contou com o apoio (moral e financeiro) dos pais e, especialmente, do marido, que hoje é advogado tributarista. “Quando eu comecei a marca, nós nem éramos casados ainda e ele se disponibilizou a pagar algumas das minhas contas para que eu pudesse reinvestir o que ganhava na empresa. No começo, cheguei até mesmo a procurar por outros empregos formais e passar em processos de trainee, e ele não me deixou ir porque acreditava muito na empresa e me incentivava a acreditar também”, diz Tatiana. 

Hoje, a marca vende cangas, chapéus, produtos de couro personalizados (nada de origem animal) e tem cerca de 300 produtos em portfólio. Com o tempo no mercado, começou a ser procurada cada vez mais pelo público corporativo e passou a atender clientes maiores. Entre eles, estão Nike, American Airlines, Chandon e C6 Bank, por exemplo. A demanda deles, frequentemente, é por produtos a serem desenvolvidos e enviados aos próprios colaboradores ou a parceiros – como cases de notebook, mochilas personalizadas com o logo de cada uma e até mesmo rasteirinhas personalizadas. A demanda varia de empresa para empresa e a empresa criada por Tatiana desenvolve todos os produtos do zero

“Gosto de ser desafiada. Temos fábrica e modelista próprio, além do atendimento personalizado. Faz muita diferença eu realmente executar, cuidar desde o zíper da peça até o acabamento, porque consigo garantir a qualidade do que estou entregando”, diz Tatiana. Não à toa, o prazo de produção médio é de 20 dias úteis, uma vez que se trata de produções personalizadas e sob demanda.

Para o varejo, a companhia conta hoje com um showroom em São Paulo, localizado em Higienópolis. O atendimento aos clientes já dá uma ideia da personalização do produto: é feito com hora marcada e com tempo de sobra para tirar todas as dúvidas a respeito das peças e “tomar um cafezinho com os clientes”, diz Tatiana. Os planos para o futuro incluem abrir a primeira loja física da marca, também prezando por um atendimento de excelência.

Hoje, o faturamento anual somado do atacado e varejo é de R$ 2 milhões. Entre os principais canais de venda, estão o e-commerce e o Instagram.

A empresa vai bem, é verdade, mas nem por isso deixa de enfrentar desafios. O mais óbvio – e mais recente – é o aumento de preços de matéria-prima, resultado de um conjunto de fatores que vai desde a pandemia até à inflação e aos lockdowns da China. Driblar o aumento de preços completamente é impossível, mas Tatiana afirma que a empresa conseguiu condições melhores de prazo de pagamento de fornecedores graças à escala que a empresa tem hoje. “Antes eu comprava mil cursores e hoje eu compro 10 mil, isso certamente faz a diferença”, diz.

Ainda assim, a margem foi prejudicada recentemente. Antes da pandemia, a empresa tinha acesso a um material usado na fabricação de peças que custava R$ 23 o metro. Na pandemia, foi para R$ 42, patamar em que se mantém até hoje. O aumento fez com que a margem da empresa caísse pela metade, mesmo com algum repasse de preços aos clientes. 

O lado positivo nisso tudo é que, mesmo diante dos desafios atuais, a empresa conseguiu se manter lucrativa. O quadro de funcionários, por enquanto, continua enxuto. São 10 colaboradores no escritório e quatro fixos na fábrica, localizada na zona leste de São Paulo.  Vagas temporárias são abertas na parte de fabricação de produtos de acordo com a demanda de clientes, que flutua ao longo do ano. 

“Em julho eu tenho demanda de clientes corporativos, mas a quantidade de pedidos no site, que é de cerca de 700 por mês, cai consideravelmente. O mês mais atribulado é setembro, porque as empresas e algumas pessoas já pensam em presentes de fim de ano e nós temos um prazo de produção. E em dezembro eu enlouqueço com os clientes que resolveram deixar para a última hora [risos]”, diz a CEO. Ainda em relação à fábrica, a empresa já desenvolveu expertise em treinamentos e repassa a todos que trabalham por lá, pela dificuldade de encontrar mão-de-obra qualificada. 

De olho no futuro, a empreendedora cita alguns de seus planos para a empresa daqui para frente: abrir uma loja física na capital paulista e fazer um curso para melhorar a precificação da empresa, sempre de olho em melhorar.

"Cada vez eu fico mais feliz com a empresa. Um número cada vez maior de marcas que eu tenho na rotina procuram a empresa para comprar produtos, o que me dá a sensação de que estamos no caminho certo. Estamos crescendo e vamos continuar assim", diz. 

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