Gigi Grandin, fundadora da Impulso Digital: “Meu maior conselho para as mulheres é que acreditem em si mesmas. Somos capazes de coisas que nem imaginamos e podemos ocupar todos os lugares”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 17h17.
A jornada profissional da paulistana Gigi Grandin é marcada pela habilidade de perceber oportunidades antes mesmo delas se tornarem evidentes. Seu caminho no mundo dos negócios começou quando estudava Administração de Empresas e decidiu abrir uma loja online de acessórios.
Entre 2010 e 2011, ela se destacou por utilizar as redes sociais de maneira estratégica. Muito antes dos influenciadores se tornarem a grande força que são hoje, entrava em contato com artistas e blogueiros com um bom alcance no Twitter, rede que despontava naquela época, para divulgação das peças. O sucesso do e-commerce foi imediato, mas logo ela percebeu que seu verdadeiro talento estava no marketing e na construção de estratégias empresariais; não na venda direta de produtos.
Buscou, então, capacitações. Fez graduação em Marketing com especialização em Gestão de Marketing e pós-graduação em Marketing Digital, e chegou a trabalhar em algumas agências, mas optou por direcionar a carreira para um mercado ainda incipiente – o marketing de influência.
Em 2016, fundou a Impulso Digital (ID), agência especializada na área que alcançou um faturamento de R$ 6 milhões em 2024 e tem a perspectiva de atingir R$ 12 milhões este ano. Atualmente, já são mais de 10 mil influenciadores parceiros, como Lucas Estevam, Mila Santana, Samara Felippo e Bianca Bin, e a empresa já atendeu em torno de 500 marcas, além de assessorar negócios em países da Europa, Ásia, América do Norte e América Central.
“Nas agências em que trabalhei, tive a oportunidade de participar de alguns projetos, entre 2015 e 2016, e percebi que de um lado, as empresas contavam com práticas sólidas, mas, de outro, os influenciadores não sabiam como cobrar e negociar suas colaborações”, explica. A ID surgiu justamente para oferecer a esses profissionais uma estrutura compatível com o que as companhias tinham.
À Exame, Gigi conta o caminho que percorreu até aqui, que inclui mudança de rota, desafios e autoconhecimento.
Durante a trajetória, a empresária viveu momentos de transição. Após seis anos de sucesso com a ID, recebeu o convite para se associar à Nicole Pappon e juntas fundaram a Grapa Digital, agência que faturou R$ 28 milhões no primeiro ano.
No entanto, após dois anos de parceria, resolveu vender sua parte e retornar ao que realmente a motivava: estar diretamente envolvida no dia a dia do negócio. Em janeiro de 2024, reabriu a Impulso Digital. “Quando a empresa é de grande porte passamos a olhar muito mais para as questões burocráticas, mas o que eu gosto é de pensar na estratégia, colocar a mão na massa e acompanhar todos os processos – campanhas, eventos –, estando perto dos clientes e influenciadores”.
Nesse sentido, destaca a importância do autoconhecimento para tomar as melhores decisões, tendo clareza de suas competências, habilidades, preferências de trabalho e propósito. Outro ponto fundamental, é entender o mercado em que deseja entrar. Antes de consolidar sua carreira, investiu em um negócio que não deu certo: uma esmalteria, que estava em alta na época. Mas sem conhecimento técnico, perdeu todo o dinheiro.
"Aprendi que boa parte do sucesso está em trabalhar em uma área na qual você tem domínio do ativo principal”, afirma. Segundo ela, esse entendimento auxiliou na busca de profissionais experientes em outras frentes. “É impossível saber tudo”. Assim, procurou apoio nas disciplinas que precisava, como assessoria jurídica e contábil, para estruturar a empresa.
Para Gigi, as características importantes para empreender vão além do conhecimento técnico. A empatia e a flexibilidade devem estar nessa lista. "Se você não entende o outro, não consegue fazer negócio. Além disso, nada sai exatamente como o planejado. Estar aberto a novas possibilidades e se adaptar aos desafios do caminho é essencial", afirma.
Com esse olhar, a Impacto Digital construiu um ambiente de trabalho que valoriza e respeita as relações interpessoais e a inclusão. A diversidade, por exemplo, é um valor inegociável. Por lá, 98% da liderança é composta por mulheres, 50% da equipe pelo grupo LGBTQIAPN+ e há profissionais de diferentes regiões do Brasil.
Já a gestão de pessoas é pautada pelo equilíbrio. Operando 100% no modelo home office, proporciona flexibilidade e qualidade de vida para os funcionários. “Acredito que o sucesso profissional só é verdadeiro quando vem acompanhado de uma vida pessoal equilibrada. Sou contra a cultura do excesso de trabalho e defendo que a produtividade vem do bem-estar”.
A inovação é outra frente e a agência aposta constantemente no uso da tecnologia para aprimorar processos. Entre as iniciativas está a ferramenta Power BI, que reúne os resultados de cada campanha, como o engajamento em números (quanto o influenciador vendeu versus quanto postou).
“São mais de 20 páginas que ficam disponíveis online”, explica a empreendedora, ressaltando que se trata de um grande diferencial no mercado, tendo em vista que a maioria dos profissionais de marketing relata dificuldades para medir o ROI. Agora, a ID está pesquisando o uso de inteligência artificial.
Mas chegar ao patamar atual, não foi simples. Gigi lembra que no começo teve que lidar com a síndrome da impostora, aquela voz silenciosa que abala a confiança de muitas mulheres. “Algumas vezes me questionei se realmente tinha capacidade de tocar a empresa, de ocupar aquele lugar”, conta. Em paralelo a isso, precisou driblar o preconceito e a falta de diretrizes da área de marketing de influência, que até então era nova. Mas o amor pela área nunca a deixou desistir. “Meu maior conselho para as mulheres é que acreditem em si mesmas. Somos capazes de coisas que nem imaginamos e podemos ocupar todos os lugares”, finaliza.