Eike Batista: um dos projetos do empresário é um corredor logístico atravessando os Andes (Douglas Engle/Bloomberg News)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de dezembro de 2016 às 10h31.
São Paulo e Rio - Eike Batista não desiste. Alçado a um dos maiores empresários do País nos anos 2000, com negócios que iam de óleo e gás à mineração e passavam pelo entretenimento, ele viu o seu império ruir há três anos.
Com a derrocada, as empresas mudaram de mãos e sua fortuna - que chegou a ser estimada em US$ 34 bilhões - derreteu.
Mesmo sem os bilhões e os holofotes, a ambição de Eike não diminuiu. Com uma rotina pesada de trabalho, ele tenta tirar do papel diversos projetos.
Todos os dias, o ex-bilionário dá expediente em um prédio comercial na Praia do Flamengo, onde o grupo ficava antes de se mudar para o suntuoso Edifício Serrador, no centro do Rio.
Os 23 andares do prédio histórico chegaram a abrigar 400 funcionários da EBX - holding que reunia os negócios do grupo.
Hoje, a equipe de Eike se resume a 20 pessoas dedicadas a negócios minúsculos em comparação às ambições um dia associadas às empresas X.
Mas a nova realidade não desanima o empresário que queria ser o homem mais rico do País. "Ele quer dar a volta por cima", disse à reportagem uma pessoa próxima.
As novas apostas vão do lançamento de um creme dental que promete regenerar o esmalte dos dentes a um projeto logístico no Chile. Para pôr os novos planos em pé, o empresário ganhou companhia constante: seu filho mais velho, Thor, de 25 anos.
"Eike sempre se espelhou no pai (o ex-ministro e ex-presidente da Vale, Eliezer Batista, que está doente). Thor parecia não ter tanto interesse, mas passou a participar mais ativamente dos negócios", diz outra fonte próxima a Eike.
Nessa nova fase, o projeto de Eike que mais se aproxima de suas antigas empreitadas é um corredor logístico que prevê o transporte de cargas da Argentina até o Chile, transpondo os Andes.
A Rex Inversiones, 100% controlada por ele, tem 200 mil hectares de área em Copiapó, região do Atacama.
O terreno foi adquirido quando o empresário ainda tinha uma empresa dedicada ao setor de energia - a MPX - e pretendia construir uma térmica a gás.
Agora, a ideia é erguer um porto com capacidade para movimentar 15 milhões de toneladas de grãos e minério. Embora o projeto seja embrionário, Eike já o apresentou a investidores.
O projeto de infraestrutura é visto como o mais "pé no chão" entre as atuais apostas do empresário. O portfólio inclui ainda dois negócios de produtos químicos: um deles, a hidroxiapatita, que é usado em cremes dentais para o mercado premium; outro, o grafeno, que pode ser utilizado na produção de produtos plásticos e semicondutores.
O projeto do creme dental está mais avançado. Um consultor foi contratado por Eike para conduzir testes na Alemanha e nos EUA.
Segundo esse profissional, que pediu para não ser identificado, a intenção é lançar o produto entre 2017 e 2018, caso ele se mostre eficaz. O produto já tem marca (Elysium) e preço (estimado em R$ 12 o tubo).
Antes de investir na Elysium, Eike cogitou lançar um medicamento sublingual para disfunção erétil (genérico do Viagra). "Ele chegou a conversar com a farmacêutica sul-coreana CL Pharma, mas o projeto não avançou", disse uma fonte.
Outra ideia, a de exportar biomassa de cana para a Europa, também não andou. A queda do preço internacional do gás e do carvão tornou a ideia inviável.
Em fevereiro, Eike comprou 20% da Vox2You, especializada em oratória, com duas unidades no interior de São Paulo. A empresa foi fundada por Luis Fernando Câmara, de 26 anos.
Câmara disse à reportagem que fez contato por e-mail com o empresário em 2009. "Eike me convidou para visitá-lo e me deu vários conselhos." A relação continuou e Eike apostou na Vox2You, que pretende ser uma franquia.
O comportamento do empresário mudou junto com o porte de seus negócios. Ressentido com toda a exposição negativa que teve com a quebra do grupo, está mais reservado e avesso a entrevistas.
Uma fonte conta que Eike hoje tem poucos amigos. E até pessoas próximas admitem que uma "volta por cima" é improvável. "Falir aqui no Brasil é visto como fracasso. Vai ser difícil para ele recuperar a credibilidade."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.