Petrobras: "Privatizar a Petrobras em fatia vale menos do que o bolo todo" (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2016 às 18h26.
São Paulo - A Petrobras deveria ser privatizada e o modelo adotado poderia ser o usado com a Vale, com a entrada dos fundos de pensões.
A opinião é do estrategista e economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Paulo Gomes.
"Se de repente o governo chegasse a 40% do capital da estatal, a fatia valeria mais que os atuais 51%, já que com a privatização haveria mais investimentos e busca por maior produtividade", disse em mesa redonda "O desafio econômico do Brasil na era Temer" com jornalistas.
Ele discorda em realizar IPOs de subsidiárias da estatal ou mesmo a venda de alguns ativos.
"Privatizar a Petrobras em fatia vale menos do que o bolo todo. Poderia ser feito algo semelhante do que aconteceu na Vale, com a entrada dos fundos. Mas isso só depois da redução de Selic no País", disse.
A privatização da Petrobras, juntamente com as concessões em infraestrutura, é uma das medidas que o especialista avalia em aumento de arrecadação de receita para diminuir o rombo fiscal e atração de investimentos para o País.
Ele acha difícil aprovar o aumento da alíquota da Cide, uma vez que a Petrobras é prejudicada, e também não acredita na volta da CPMF.
"Lembramos que nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no auge de sua popularidade e com Aécio Neves apoiando se aprovou a CPMF. Não acredito na volta dela nem para 2016 nem para 2017", declarou.
Sobre as medidas anunciadas no governo de Michel Temer, Gomes reiterou que os esforços são necessários, positivos, mas ainda insuficientes, correndo risco de que o rombo fiscal em 2016 seja maior do que os R$ 170,5 bilhões. Para ele, o presidente em exercício não terá dificuldades em aprová-las no Congresso.
"Temer é um dos leões sobreviventes da política brasileira nos últimos 20 anos. E ele tem sido conciliador no seu discurso, tem sido hábil politicamente. Podem criticar que a sua equipe ministerial é política, mas ela é necessária para maior articulação no Congresso", falou.
Para o especialista, um maior investimento direto no Brasil esbarra na questão do grau de investimento.
"Ainda que a entrada de Temer tenha melhorado as expectativas, há o fator da perda dos graus de investimento, que deverão ser recuperados somente depois de 2018, além de os investidores verem as medidas passarem de 'discurso' para 'concreto'", disse.
Especificamente sobre a renegociação de dívida dos Estados, a maior preocupação para o especialista é o dano moral.
"É a meritocracia ao contrário. Acho que Temer não será tão flexível nessa renegociação no sentido de não perdoar dívidas. Ele poderá negociar prazos. O investidor também está de olho nisso", ressaltou.