Starbucks: dívida da SouthRock passa de R$ 1,8 bilhão (Eduardo Frazão/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 12 de abril de 2024 às 08h28.
Última atualização em 12 de abril de 2024 às 08h56.
O processo de reeestruturação da SouthRock, dona da Starbucks no Brasil, ganhou um novo personagem recentemente. É a Zamp, empresa que opera no Brasil marcas como Burger King e Popeyes.
Em fevereiro, a companhia informou ao mercado que estava em negociações com a sede da Starbucks nos Estados Unidos para garantir o direito à licença da marca no Brasil.
Nos últimos dias, porém, aumentaram os rumores de que a negociação tinha chegado ao fim, e que a Zamp teria assinado o contrato para cuidar da Starbucks por aqui.
A empresa, porém, negou a informação na noite desta quinta-feira, 11. Em documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a administradora assumiu que as negociações avançaram, mas informou que, até o momento, ainda não estavam concluídas.
"As tratativas com a Starbucks Corporation envolvendo o direito de explorar a marca e desenvolver as operações da Starbucks no Brasil estão avançando, mas não há, até esta data, acordo ou contrato celebrado com a Starbucks Corporation, além do acordo de confidencialidade mencionado no Comunicado anterior", diz a nota.
A SouthRock corre na Justiça com um processo de recuperação judicial que envolve uma dívida de 1,8 bilhão de reais. A empresa era responsável no Brasil pelas marcas Starbucks, Eataly e Subway, por exemplo.
Desde a entrada no processo, porém, há movimentação nas marcas.
O Eataly, por exemplo, já não está mais no comando da empresa desde janeiro, segundo apurou a EXAME. A licenciadora master da Subway também recuperou para si a gestão das franqueadas, por mais que a SouthRock ainda tenha uma marca denominada Subway Brasil e que tenha a adicionado no bolo da recuperação judicial recentemente.
O grande centro das atenções, porém, segue sendo o Starbucks. A operadora chegou a fechar cerca de 60 lojas deficitárias da rede de cafeterias pelo Brasil, mas ainda há mais de 100 abertas.
O imbróglio acontece porque, desde o início da recuperação judicial, há no ar uma dúvida sobre a manutenção da marca no Brasil. No ano passado, a Starbucks Corporation, dos EUA, pediu a revogação do contrato que licenciava a marca para a SouthRock, alegando falta de pagamento. Desde então, a brasileira corre, inclusive judicialmente, para evitar a perda da marca. Ela alega que a manutenção da funcionalidade das lojas é fundamental para garantir a execução do plano de recuperação judicial.
+ Qual o plano da dona da Starbucks no Brasil para pagar uma dívida de R$ 1,8 bilhão
Funcionários do alto escalação da Starbucks nos Estados Unidos dizem à EXAME que não estão autorizados a falar sobre o assunto que envolve as negociações no Brasil. Ao mesmo tempo, a Zamp tem um contrato de confidencialidade para as negociações.
A SouthRock traçou um plano para pagar as suas dívidas. Esse plano será apresentado para os credores da empresa, que poderão avaliar se o aceitam ou não.
A proposta apresentada pela SouthRock propõe que os débitos trabalhistas serão pagos num valor correspondente a até 150 salários-mínimos, limitado ao valor total do crédito, sem aplicação de juros ou correção, em até 12 meses da homologação.
Para a maioria dos credores, que entram na classe de quirografários, a proposta é outra. Prevê-se um período de carência de cinco anos para o início dos pagamentos. Depois, uma escala de pagamentos em 16 anos, em que nos primeiros anos serão amortizados cerca de 0,25% da dívida anualmente. Depois, essa porcentagem vai crescendo.
Até o 15º ano, serão pagos 40% da dívida. Aqui está o detalhe curioso. Se esse pagamento realmente acontecer sem atrasos, a SouthRock fica isenta de pagar a 16º parcela, com os 60% restantes dos débitos.
Para microempresas e empresas de pequno porte, ficou definido que receberão pagamentos de até 50.000 reais (ou o valor total dos seus créditos, o que for menor) em um ano após a homologação do plano.
Conforme a EXAME noticiou em novembro passado, a SouthRock lida na Justiça com ações de despejo por falta de pagamentos dos alugueis de suas lojas, principalmente da Starbucks no Brasil. À época, eram pelo menos 28 processos em andamento.
No plano de recuperação judicial, a empresa traça uma estratégia para evitar -- ou então terminar -- com essas ações.
Prevê o plano que esses credores poderão aderir a uma categoria especial, chamada de "credores estratégicos locadores". Para isso, eles precisarão concordar em manter ou renovar contratos de locações em condições iguais ou mais favoráveis à SouthRock por um prazo mínimo de cinco anos, e deverão desistir de ações judiciais ou extrajudiciais, inclusive de despejo.
Caso aceitem, o período de carência, que seria de cinco anos, cairá para dois. Já o prazo de pagamento, que antes era de 16 anos, cairá para sete. Cada parcela terá uma amortização maior, de cerca de 12,8% do valor da dívida.
O pedido de recuperação judicial da SouthRock, dona da Starbucks, envolve uma dívida de R$ 1,8 bilhão. Os credores estão divididos entre as empresas do grupo que entraram no processo de reestruturação, como a Starbucks e a Brazil Airport Restaurantes. Na lista de empresas que a SouthRocks está com dívidas pendentes estão indústrias de alimentos, bancos e gráficas.
A relação, de 153 páginas, demonstra uma situação comum para empresas de varejo e serviços, como é o caso da Starbucks: há centenas de credores, cada um com uma cobrança relativamente pequena para a companhia.
Há cerca de R$ 76 milhões só com o Banco do Brasil via Starbucks. No consolidado da SouthRock, as dívidas com o Banco do Brasil estão em R$ 311 milhões. Com a securitizadora Travessia são outros R$ 469 milhões em dívidas.