Ellus: a receita bruta da Inbrands caiu 13,5% em 2019 (FOTOSITE/Gamma-Rapho/Getty Images)
Karin Salomão
Publicado em 19 de junho de 2020 às 17h20.
Última atualização em 19 de junho de 2020 às 19h10.
O cenário da moda não está favorável para algumas marcas brasileiras, com a crise do coronavírus, fechamento de lojas e mudanças nos hábitos de consumo. A Inbrands, dona de marcas como Ellus, Richards, VR, Mando, Salinas entre outras, se prepara para renegociar suas dívidas.
Sua rival, a Restoque, dona de marcas como Le Lis Blanc, Dudalina e Rosa Chá, pediu recuperação extrajudicial no início do mês. Lá fora, as gigantes Forever 21 e Victoria’s Secret também buscam reestruturar dívidas e ajustar seus negócios às tendências atuais.
A Inbrands entrou em contato com pelo menos dois escritórios de advocacia especializados em recuperação judicial em São Paulo, mas não avançou na contratação dos escritórios. A informação é do jornal Valor Econômico. Ontem, o Estado de S. Paulo noticiou que a empresa estaria se organizando para entrar com um pedido de recuperação judicial — informação mais tarde contestada pela Inbrands em comunicado ao mercado.
A receita bruta caiu 8,8% no quarto trimestre do ano passado, último resultado divulgado ao final de março, e 13,5% em todo o ano de 2019. A empresa diz que, com estoques altos e de qualidade, decidiu não fazer nenhuma liquidação durante o ano passado, o que causou significativa queda nas vendas do ano.
A Inbrands estava em processo de reestruturação para voltar a crescer. A estratégia era manter os preços altos e sem descontos, por acreditar que isso poderia manter o valor da marca.
"Continuamos fechando lojas deficitárias, cortando custos e controlando com rigidez o crédito de clientes do atacado. Preferimos reduzir as receitas temporariamente a forçar o top line (receitas) com descontos forçados, irreais e com créditos duvidosos. Quando tivermos condições mais favoráveis voltaremos a acelerar. Com isso estamos mantendo a integridade e o valor de nossas marcas, ícones de mercado", escreveu a empresa.
No ano, a companhia havia alcançado lucro de 24 milhões de reais, ante prejuízo de 27 milhões de reais no ano anterior. A margem Ebitda ajustada, indicador de rentabilidade da empresa, foi de 34,7%, ante 14,4% um ano antes.
A Inbrands foi criada em 2007, com a união dos empresários Nelson Alvarenga Filho, fundador da Ellus em 1972, e Americo Fernando Rodrigues Breia. A Vinci Partners, gestora de investimentos de Gilberto Sayão, comprou a empresa em 2008, esperando criar uma grande companhia de moda e estilo de vida. Dez anos depois, a empresa acumulava resultados ruins e foi vendida de volta a Alvarenga Filho, que se tornou o presidente e único acionista.
A rival Restoque, dona de marcas como Le Lis Blanc, Dudalina e Rosa Chá, pediu recuperação extrajudicial no início do mês, 5 de junho. O plano busca renegociar dívidas de 1,4 bilhão de reais, cerca de 60% do que a empresa deve a bancos e instituições financeiras. São 255 lojas próprias, além de distribuir seus produtos por meio de 31 outlets e 1.500 lojas multimarcas. A empresa afirma contar com 550.000 clientes ativos e deter 5% de participação no varejo de vestuário.
Em 2015, as duas companhias, Inbrands e Restoque, chegaram a negociar uma fusão. Com a crise econômica de 2015, a união se tornou inviável e as empresas precisaram se focar na reestruturação de seus próprios negócios, disse Alvarenga Filho em entrevista ao Valor em 2017. Agora, com uma nova crise da pandemia do coronavírus, as duas seguem buscando ajustar seus negócios, reestruturar dívidas e manter a sobrevivência de suas marcas.
Se no Brasil as marcas voltadas para as classes mais altas estão sofrendo, lá fora são as marcas de fast fashion, com peças baratas e produzidas rapidamente em coleções que duram poucas semanas.
A Inditex, maior grupo de moda do mundo e dono da marca Zara, reportou prejuízo de 409 milhões de euros no trimestre de fevereiro a abril, ante lucro de 734 milhões de euros no mesmo período do ano passado. É o primeiro prejuízo apresentado desde que a empresa se tornou pública, há quase duas décadas. Como o trimestre concentrou o período da quarentena mais intensa na Europa, a empresa espanhola foi impactada pelo fechamento de quase 90% de suas lojas.
Com mais de 500 milhões de dólares em dívidas, a Forever 21 está em processo de “proteção à falência” (uma espécie de recuperação judicial nas leis americanas) desde setembro do ano passado. A varejista de moda pode encontrar uma luz no fim do túnel, pois recebeu uma oferta de compra de 81 milhões de dólares de um consórcio liderado pelos fundos donos de shoppings Simon Property Group e Brookfield Partners. Esses fundos já são os maiores locadores da Forever 21, uma vez que boa parte das mais de 700 lojas da rede está em shopping centers nos Estados Unidos.
A Victoria’s Secret, marca de lingerie e roupa feminina que há anos sofre com a mudança de comportamento das consumidoras, pode ter perdido a chance para se reestruturar. O novo dono da companhia, que em fevereiro deste ano comprou uma fatia de 55% e que estava desenvolvendo um plano para reestruturar a empresa, quer desfazer a transação.
A firma de private equity Sycamore Partners entregou um pedido para cancelar a compra. Para o controlador, as ações que a Victoria’s Secret tomou contra a pandemia do novo coronavírus, como fechamento de loja, suspensão do aluguel e licença para os funcionários, violam o contrato. A empresa tem 2.920 lojas nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e China e os produtos também são vendidos em 700 lojas pelo mundo.