Negócios

Na pandemia, ele quase quebrou um negócio do esporte. Agora, cresce 67% e quer ir para fora do país

A Ticket Sports, marketplace para inscrições em provas de corrida de rua, ciclismo e triatlo, faturou R$ 12 milhões no ano passado

Daniel Krutman, da Ticket Sports: "Nós queremos nos consolidar ainda mais no Brasil e temos ido para outras regiões do país" (Ticket Sports/Divulgação)

Daniel Krutman, da Ticket Sports: "Nós queremos nos consolidar ainda mais no Brasil e temos ido para outras regiões do país" (Ticket Sports/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 24 de março de 2024 às 08h51.

Última atualização em 25 de março de 2024 às 10h52.

Assim como muitos outros negócios, a Ticket Sports encerrou 2019 com muitos planos e com o time ansioso para acelerar o ritmo de crescimento da empresa. A pandemia de covid-19 colocou tudo por água abaixo. Os meses seguintes foram de demissões, redução de salários e negócios que ficaram congelados por quase 20 meses. Atuante do mercado de esporte e corridas de rua, um dos primeiros a parar e último a sair, a empresa viu a receita ir a zero.

“Nós tínhamos feito uma mega reestruturação em 2018, crescemos as nossas transações, o GMV, para R$ 43 milhões em 2019, alta em torno 50%. Em 2020, a estratégia apontava para o céu”, afirma Daniel Krutman, CEO da Ticket Sports desde 2018. A empresa funciona como um marketplace para inscrições em provas de corrida de rua, ciclismo, triatlo e natação.  

O profissional chegou ao negócio dois anos antes, quando a operação tinha o nome de Ticket Agora e apenas um ano de vida. O negócio foi lançado em 2015 pelos sócios André Chaco e Renato Cukier, responsáveis também pelo Fotop, de fotografia de treinos

O convite veio após experiências de Krutman em outros projetos ligados a esportes: na Abril, com o lançamento da Runner's World no Brasil, e na Iguana Sports, conhecida organizadora de corridas de rua. Foi lá onde começou a testar estratégias para atrair os corredores para as provas, como o modelo de inscrições por lotes, hoje uma prática recorrente no mercado.  

O que virou o jogo para a empresa

O período de aperto na pandemia era atenuado vez por outra com provas virtuais, uma das inovações para conter a ansiedades dos corredores, ou competições mais restritas. 

“Eu vou ser bem sincero: eu não consigo entender como sobrevivemos até hoje, mas sobreviveu”, diz Krutman. Ele conta que trabalhou 12 meses sem salário no período. “Mas a lógica durante a pandemia era a seguinte: ‘galera, depois que isso acabar, nós seremos a coisa mais importante de todas”.

Foi uma aposta que se pagou. Nos últimos anos, esse mercado registrou um crescimento acelerado. Impulsionado pela busca por novos hábitos mais saudáveis, muitas pessoas adotaram competições como corridas de rua como o principal esporte. Os posts matinais com medalhas aos domingos passando por diversos feeds e stories nas redes sociais são a face mais visível desse processo.

Para superar o momento crítico, Krutman diz que a empresa procurou se aproximar dos organizadores. “Ao invés de nos recolhermos, nós saímos para o mundo e trouxemos as pessoas para perto. Fazíamos live sobre como iríamos sobreviver, produzimos conteúdos e os organizadores começaram a nos ver como um parceiro estratégico, com um consultor para essas empresas”, afirma.

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Quando o mercado reabriu de fato, em 2022, a Ticket Sports, já com o novo nome, faturou R$ 8 milhões, 70% em relação na comparação com os números de 2019, o ano pré-pandemia. No ano passado, avançou 50%, fechando com R$ 12 milhões em receita e R$ 150 milhões em valores transacionados pela plataforma.

80% da receita são gerados a partir de provas de corrida de rua, como a São Silvestre, Asics Golden Run e Reebok Extra Mile. Ciclismo, triatlo, corrida de trilha e natação ficam os 20% restantes.  No ano passado, mais de 2,600 rodaram na plataforma - a projeção é de superar os 3.000 em 2024. 

Novos mapas e o início da internacionalização

Além do fator crescimento de mercado, a empresa tem procurado ampliar os canais com outros organizadores.“Nós queremos nos consolidar ainda mais no Brasil e temos ido para outras regiões do mapa. Nós fechamos, por exemplo, com o maior organizador de Aracaju, em Sergipe, e o maior de São Luís do Maranhão. Também temos uma relação muito boa com os organizadores de Curitiba, mas ainda tem coisas que queremos ter”, afirma. Um exemplo são as duas grandes maratonas de Porto Alegre, onde a empresa ainda não entrou.

Neste processo de expansão, a empresa começa a olhar para fora e vai fazer o seu primeiro teste internacional. Está lançando na próxima semana a “Ticket Sports Uruguay”, em parceria com um agente local para dar início às operações. 

A opção pelo país vizinho é para fazer um processo simples e sem estripulias. “Nós estamos fazendo algo com risco calculado e para entender as dores do processo de internacionalização”, diz Krutman. Neste  “tubo de ensaio”, como chama a iniciativa, o executivo prevê o investimento de “centenas de milhares de dólares”.

Outra fronteira em que pretende avançar em tecnologia, entregando mais informações baseadas em comportamentos dos mais de 5 milhões de atletas registrados na plataforma. Para o segundo semestre, deve lançar recursos com IA que oferecem recomendações de provas baseadas nos históricos desses usuários. Para os organizadores, o modelo é propor configurações de provas, distância e novos formatos. 

É da soma desses esforços que a Ticket Sports pretende encerrar o ano com um faturamento de R$ 20 milhões. A cifra equivale a 67% de alta no intervalo de 12 meses. Como diz o ditado no mundo dos esportes, "não é uma corrida, e sim uma maratona". E, pelo visto, a empresa tem feito os treinos devidos.

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