ESTÁTUA EM WALL STREET: companhias em que pelo menos 30% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres têm rentabilidade até 15% maior / Brendan McDermid/ Reuters
Da Redação
Publicado em 8 de março de 2017 às 19h29.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h25.
Camila Almeida
As empresas que não investem na igualdade de gênero estão perdendo dinheiro. Estudos mostram que as organizações que têm mulheres ocupando cargos executivos têm mais retorno financeiro e menos risco na tomada de decisões. O problema é conhecido: elas ainda estão longe dos cargos de liderança, numa escassez que começa no recrutamento e passa pela falta de interação das mulheres com os chefes.
Uma pesquisa do Peterson Institute for International Economics, publicada em 2016, revela que companhias em que pelo menos 30% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres têm rentabilidade até 15% maior. Foram levados em conta os dados de 22.000 empresas de capital aberto em 91 países.
Apesar dos benefícios para a receita, as mulheres líderes ocupam apenas 19% dos cargos de presidência nas empresas pelo mundo, de acordo com o relatório da consultoria empresarial McKinsey “Women in the Workplace 2016”. O problema é bem maior no topo do que na base. Nos cargos de entrada, a representatividade de mulheres é de 46%.
Dados da consultoria Grant Thornton, que publica anualmente o International Business Report (IBR) – Women in Business, mostram que o número de mulheres liderando negócios no Brasil é 16%. A pesquisa, realizada em 36 países, consulta 2.500 empresas, sendo 150 brasileiras.
O problema da falta de promoção para as mulheres começa cedo. O mesmo relatório mostra que as mulheres são preteridas logo na primeira promoção. Para cada grupo de 130 homens escolhidos para ocupar cargos de gerência, apenas 100 mulheres têm a mesma oportunidade. O estudo mostra que as mulheres são menos escolhidas para receber tarefas desafiadoras e são menos convocadas para participar de decisões estratégicas.
A igualdade traria benefícios não só para as empresas, mas também para a economia como um todo. De acordo com o relatório “O Poder da Paridade” também da consultoria McKinsey, caso as mulheres ocupassem o mesmo espaço no mercado de trabalho que os homens, o PIB global teria um incremento de 28 trilhões de dólares em 2025, uma alta de 26%. Se o Brasil tivesse igualdade, os ganhos ao PIB em 2025 seriam de 850 bilhões de dólares, gerando um aumento de 14% na comparação com as previsões no cenário atual.
Mais valor às mulheres
A questão que se impõe é como fazer as mulheres chegarem ao topo? Para a especialista em atuação da mulher no mercado de trabalho Regina Madalozzo, PhD em economia e professora do Insper, é preciso que as empresas, primeiro, identifiquem suas deficiências. “O mais importante é decidir qual tipo de programa vai ser adotado. Se algumas áreas não têm presença de mulheres, o programa precisa corrigir as práticas de recrutamento. Uma forma de fazer isso é ter como obrigatoriedade sempre compor as seleções com candidatos de qualidade de ambos os sexos”, afirma.
De acordo com a especialista, é comum que as empresas acreditem que estão realizando os processos da forma mais meritocrática possível, sem chegar a reconhecer problemas estruturais que levam ao benefício dos homens no mercado. E isso é mais latente quando se fala de promoções. “As empresas precisam aprender a verificar porque está sendo mais fácil para os homens cumprir os critérios de cargos melhores do que para as mulheres. Muitas vezes, é preciso rever as políticas de avaliação e os investimentos que são feitos nas funcionárias”, diz Maladozzo.
Para a sócia da McKinsey Heloisa Callegario, uma forma de melhorar o acesso das mulheres aos cargos de gerência e direção é ampliando a conexão das mulheres com os líderes das empresas. “Normalmente, os homens tendem a procurar mais programas de mentoria e fazem mais networking com os executivos. As mulheres normalmente preferem falar com mulheres, e precisam ser mais estimuladas a se relacionar com as lideranças”, afirma.
E, nessa discussão, um mito precisa ser derrubado: o de que as mulheres não chegam a cargos de direção por causa da família. De acordo com a sócia da consultoria de serviços financeiros PwC, Ana Maldevio, que é também líder de diversidade na empresa, o problema é a sub-valorização das funcionárias mulheres. “O fato de elas não receberem o mesmo salário e não terem as mesmas oportunidades de promoção é o que afasta as mulheres da carreira. Elas não saem para ter filhos”, afirma.
Por isso, políticas que promovem maior flexibilidade para ajudar a conciliar os cuidados com a família são importantes, mas não resolvem o problema. “Durante o primeiro ano dos filhos, as mulheres precisam ter maior liberdade para fazer home-office e para remanejar sua carteira de clientes, por exemplo, de forma que não possam fazer menos viagens a trabalho, mas são medidas de apoio”, diz Maldevio, da PwC. “Para que elas cresçam profissionalmente, o importante é que se mude a mentalidade dos gestores em relação ao papel que as mulheres desempenham nas empresas”, diz
Mudança de paradigma
Com 81% dos presidentes de empresas sendo homens mundo afora, as pautas de gênero não costumavam ser presente nas discussões. Mas isso está mudando, especialmente nas grandes corporações. “Essas empresas já perceberam que têm critérios enviesados que acabam beneficiando os homens, e entenderam como a diversidade é importante para transformar esses processos”, afirma Regina Maladozzo, do Insper. Boa parte, inclusive, adota cotas para mulheres em seus conselhos de administração. A Noruega foi pioneira ao definir, por lei, que as mulheres devem ocupar 40% das vagas nos conselhos.
Contar com um quadro de lideranças que contempla múltiplas etnias e orientações sexuais faz com que as empresas sejam mais inovadoras e tenham mais potencial para crescer. De acordo com a pesquisa da Universidade Harvard com 1.800 funcionários de mais de 40 empresas, companhias com lideranças diversas são 45% mais efetivas em melhorar a participação de mercado e 70% melhores em conquistar novos mercados. “As lideranças começaram a perceber que a diversidade é questão de sustentabilidade dos negócios”, afirma Maldevio, da PwC.
No Brasil, uma pesquisa realizada pela Câmara Americana do Comércio com 350 executivos e executivas mostrou que 76% acreditam que homens e mulheres não são tratados da mesma forma nas empresas. Apesar disso, apenas 49% adotam medidas de equidade nas companhias e, nesse grupo, só 19% acham que os programas estão sendo tocados de forma adequada.
Uma pesquisa da McKinsey mostra que as empresas que têm pelo menos uma mulher em seu corpo executivo têm 40% mais retorno financeiro. “Esse tema tem que ser visto como uma questão estratégica como qualquer outro tema estratégico”, afirma Callegario, da McKinsey. “Está na hora de os líderes começarem a entender que as mulheres na liderança trazem resultados melhores, e não apenas porque são mulheres, mas porque a diversidade – com sua pluralidade de perspectivas e experiências – ajuda a tomar decisões melhores”.