Percalços: como resultado da investigação, a Didi Chuxing perdeu 25 aplicativos na China (Getty Images/Getty Images)
Gabriel Aguiar
Publicado em 14 de julho de 2021 às 15h10.
Última atualização em 16 de julho de 2021 às 13h29.
Você já ouviu falar da Didi Chuxing? Conhecida como “Uber chinesa”, a dona da startup brasileira 99 está no meio de uma polêmica: autoridades do país de origem removeram 25 aplicativos da gigante de tecnologia – decisão que pode afetar diretamente as finanças da empresa. E isso aconteceu semanas depois de arrecadar 4,4 bilhões de dólares com a abertura de capital (IPO) em Nova York.
De acordo com investigação da Administração do Ciberespaço da China (CAC, na sigla em inglês), a Didi Chuxing coletou ilegalmente os dados pessoais de usuários. Pouco antes do veredito, o órgão regulador já havia citado riscos à cibersegurança do país e ao interesse público. Entre as plataformas bloqueadas nas lojas de aplicativos, estão serviços de carona compartilhada e funções para motoristas.
“Aceitamos sinceramente e obedecemos resolutamente aos requisitos das autoridades competentes, de acordo com leis e regulamentos, referência em normas nacionais relevantes, investigação aprofundada e retificação séria de todos os problemas existentes, que efetivamente protegem a segurança dos dados de usuários”, afirmou a companhia em comunicado publicado na rede social asiática Weibo.
Com pico de 16,40 dólares por ação no dia 1º de julho, os papéis da Didi Chuxing chegaram a valer 11,16 dólares apenas onze dias depois, com valor mínimo desde que foi ofertada na bolsa norte-americana. E, hoje, 14, às 12h46, as ações dão sequência à recuperação iniciada há dois dias, com ações valendo 12,82 dólares. Quando foram ofertadas ao público pela primeira vez, as ações valiam 14,14 dólares.
“Essas investigações não são claras e, supostamente, estão no início. Então, há muitas respostas que todo mundo ainda espera, porque não está claro. É uma empresa sólida que atua em um mercado trilionário, que deve dobrar de tamanho nos próximos anos. Mas há muita dependência da China, onde estão cerca de 95% das operações”, diz Alan Leite, fundador e CEO da startup Farm e da Kûara Ventures.
Conforme aponta uma reportagem publicada pelo periódico norte-americano “The Wall Street Journal”, o órgão regulador de internet na China havia solicitado à Didi Chuxing o adiamento da abertura na bolsa até que a investigação fosse encerrada e todas as questões apontadas já estivessem resolvidas. Porém, a companhia manteve o cronograma que já estava indicado, com IPO realizado em 30 de junho.
“Para o mercado brasileiro, neste momento, o impacto está mais relacionado a eventuais alterações de investimento e crescimento no nosso país. Isso porque, com a proibição de downloads de aplicativos no mercado chinês, devem reduzir os resultados da empresa e, com isso, gerar um círculo de retração dos investimentos”, afirma Renata Borges, sócia da área Societário e M&A do Maneira Advogados.
Segundo a jurista, a participação societária da Didi Chuxing sobre a 99 está estruturada indiretamente, por meio de duas subsidiárias, sendo uma delas constituída no estado norte-americano de Delaware – controladora de 99,99% da participação –, e outra nas Ilhas Cayman. Essa negociação ocorreu em 2018, como estratégia de globalização da companhia chinesa, e teve o valor estimado em 1 bilhão de reais.
“Neste momento, não há impacto direto em relação aos papéis da 99, uma vez que a estrutura no Brasil é operada por meio de uma sociedade limitada, sem ações e papéis negociados, o que reduz o impacto financeiro imediato. Só que é importante considerar que, mesmo com mais reflexos no exterior, poderá ser considerado por eventuais investidores como investimento de maior risco”, afirma Borges.
Procurada, a brasileira 99 diz que, no ano passado, foram investidos mais de 150 milhões de reais para o lançamento de novos produtos, recursos de segurança e suporte a motoristas parceiros – e afirmou que o setor de atuação corresponde a 15 bilhões de reais na economia, equivalente a 0,21% do PIB nacional. Também reiterou que a estratégia e o compromisso a longo prazo continuam inalterados aqui.
“Para quem já investiu, minha dica é ficar muito cauteloso e atento ao andamento da história. Se forem abrindo novas investigações, pode ser um risco à Didi Chuxing, porque, sem novos usuários, certamente haverá impacto financeiro. Ela ainda não atingiu o break even [ponto de equilíbrio entre custo e receita] e opera alavancada. Não é lucrativa. Mas ainda não é um momento de desespero”, afirma Leite.