As duas opções de Neumann: 'Competir ou se associar' ao WeWork (Crédito: Eduardo Munoz/Reuters) (Eduardo Munoz/File Photo/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 22 de outubro de 2019 às 18h11.
Última atualização em 14 de junho de 2021 às 13h07.
A terça-feira está sendo agitada para a empresa de aluguel de escritórios WeWork. Segundo informações da imprensa americana, até o começo da tarde de hoje, a empresa já havia aprovado o conglomerado japonês Softbank como novo controlador, tirado do conselho o fundador e ex-presidente Adam Neumann e garantido ao empreendedor, em troca, um pagamento de 1,7 bilhão de dólares.
O movimento já era esperado há algumas semanas, desde que a WeWork saiu de uma tentativa fracassada de abrir capital na bolsa (IPO). Estava previsto que a empresa faria o IPO em setembro, mas os prejuízos divulgados durante o processo -- que chegaram a 1,9 bilhão de dólares no ano passado, alta de 300% em dois anos -- foram considerados grandes e arriscados demais pelos investidores.
O Softbank, maior investidor da WeWork, capitaneou a saída de Neumann do cargo de presidente-executivo (CEO) da empresa no mês passado, mas ele continuava como presidente do conselho de administração. Agora, Neumann também deixa este posto, que deve ser ocupado por algum nome próximo ao Softbank, segundo o jornal The Wall Street Journal.
As informações da saída do fundador e de sua rescisão bilionária foram divulgadas no início da tarde, mas a empresa ainda não confirmou oficialmente as mudanças e não anunciou seus próximos passos. A expectativa era de que o anúncio oficial fosse feito ainda nesta terça-feira, mas nem WeWork nem Softbank se pronunciaram oficialmente sobre o caso.
EXAME apurou que o boliviano Marcelo Claure, presidente do Softbank Group International, braço que cuida de investimentos internacionais, fará parte do conselho de administração -- embora ainda não haja certeza sobre se ele ocuparia o cargo de presidente do conselho ou apenas de conselheiro.
Em seu atual ritmo de gastos, a WeWork corre o risco de ficar sem dinheiro em pouco mais de um mês. Nos primeiros seis meses de 2019, a empresa já teve faturamento de 1,5 bilhão de dólares, mas perdeu 904,6 milhões. Seus principais gastos são com aluguéis de prédios e entrada em novos mercados, o que implica em novos contratos imobiliários e altos custos em marketing para divulgar o empreendimento.
A expectativa era levantar fundos suficientes para sustentar a operação no IPO, mas, sem ele, a empresa não teria sequer dinheiro para demitir funcionários, segundo fontes informaram à imprensa americana -- um grande corte de 10% a 25% do pessoal está sendo planejado, mas ainda não aconteceu porque a empresa teria um grande prejuízo pagando as rescisões de todos.
Quem continuou com o plano de rescisão em pé, contudo, foi o fundador Adam Neumann. Embora a saída total de Neumann da empresa que fundou já fosse esperada após o fracasso do IPO, o valor pago ao empreendedor, se confirmado, foi considerado alto por especialistas do mercado americano.
Neumann é visto como responsável por parte dos problemas na WeWork, acusado de ter uma gestão extravagante e de criar uma cultura problemática na empresa. Com sua saída, a empresa passou a ser comandada pelos co-presidentes Artie Minson e Sebastian Gunningham no fim de setembro. Os novos presidentes estariam supostamente se desfazendo de startups que compraram recentemente, da expansão acelerada de seus prédios na Ásia e até mesmo de um jato personalizado de Neumann que valia 60 milhões de dólares.
Agora, o plano de recuperação do WeWork pós-IPO será capitaneado pelo Softbank. O grupo japonês, que já investiu ao longo dos últimos anos cerca de 10 bilhões de dólares na companhia de escritórios, saiu vitorioso em uma espécie de disputa com o banco americano JP Morgan, com ambos tendo apresentado à WeWork potenciais planos de recuperação para o negócio. Os grupos propuseram investimentos na casa de 5 bilhões de dólares para sustentar a empresa, segundo o jornal britânico Financial Times.
Como parte do negócio, o Softbank também deve comprar 1 bilhão de dólares em ações de Neumann na The We Company, empresa que controla a WeWork.
A proposta do Softbank vai avaliar a WeWork em 8 bilhões de dólares, muito menos que os 47 bilhões de dólares em que a empresa foi avaliada após o último aporte do Softbank, de 1 bilhão de dólares, em janeiro deste ano.