Juarez Aparecido de Paula Cunha, presidente dos Correios: Bolsonaro disse que o militar se comportou como "sindicalista" (José Cruz/Agência Brasil)
Mariana Desidério
Publicado em 19 de junho de 2019 às 09h32.
Última atualização em 19 de junho de 2019 às 13h33.
Demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, o presidente dos Correios general Juarez Cunha enviou uma carta de despedida aos funcionários na manhã desta quarta-feira. Na mensagem, exalta os resultados financeiros obtidos nos sete meses em que esteve à frente da estatal.
"Os índices da qualidade operacional superaram todas as metas, a recuperação financeira no último ano apresenta resultados muito favoráveis e as perspectivas futuras são excelentes. Nossa Empresa prossegue num franco processo de recuperação iniciado em 2018", disse o general na mensagem aos funcionários.
O general relembra também sua passagem pelo exército: "Assim como defendi e respeitei todos os soldados do Exército de Caxias, também respeitei e defendi todos os empregados dedicados que orgulhosamente envergam o uniforme azul e amarelo".
Termina mensagem com uma referência ao slogan de campanha do presidente Bolsonaro. "Brasil Acima de Tudo! Correios no Coração de Todos!"
Juarez deve ser destituído do cargo oficialmente nesta quarta-feira, após reunião do conselho de administração da estatal. Ele foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, que não gostou da postura do general durante uma audiência pública no Congresso sobre a privatização da estatal. Juarez se posicionou contra a privatização e posou para foto com parlamentares da oposição.
Para Bolsonaro, foi uma "atitude de sindicalista". Ao final de um café da manhã com jornalistas, o presidente comentou que exoneraria Juarez por sua postura na Câmara.
A fala de Bolsonaro ocorreu na sexta-feira e caiu como uma bomba entre executivos e funcionários da companhia. Um executivo próximo à estatal classificou a fala de Bolsonaro como truculenta e disse que a notícia foi recebida com espanto na empresa.
O general passou o início da semana à espera de uma carta do Ministério da Ciência e Tecnologia com a notícia oficial da demissão. Próximo a Bolsonaro, Cunha ficou abalado com a fala do presidente. Segundo um assessor próximo ao general, Cunha e Bolsonaro são amigos há décadas e frequentaram a casa um do outro. O general cursou a Academia Militar das Agulhas Negras, assim como Bolsonaro, e é próximo do vice-presidente da República, general Hamilton Mourão.
Apesar da manifestação do presidente, o general foi trabalhar na segunda-feira, se reuniu com funcionários e afirmou que só deixaria o cargo quando a demissão chegasse oficialmente.
Cunha foi indicado para o cargo ainda no governo Temer, em novembro de 2018, ano em que a estatal teve 161 milhões de reais de lucro.
Leia a íntegra da carta enviada pelo general Juarez Cunha aos funcionários:
DESPEDIDA DOS CORREIOS
Meus caros amigos e amigas dos Correios!
Após sete meses à frente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, me afasto do vosso convívio com a consciência tranquila de ter empenhado o melhor dos meus esforços a serviço desta Empresa.
Foram sete meses de trabalho em equipe, num ambiente de muito profissionalismo, dedicação, camaradagem e cooperação, onde obtivemos excelentes resultados.
Os índices da qualidade operacional superaram todas as metas, a recuperação financeira no último ano apresenta resultados muito favoráveis e as perspectivas futuras são excelentes. Nossa Empresa prossegue num franco processo de recuperação iniciado em 2018.
A criação do Projeto Balcão do Cidadão me enche de orgulho, pois os Correios continuarão levando ao cidadão brasileiro, particularmente das localidades mais remotas, seu apoio, traduzido em cidadania e integração nacional.
Orientei minhas decisões com base na ética, na meritocracia e na restrição à influência político partidária. Fundamentei minha liderança na busca dos melhores resultados, no fortalecimento do espírito de corpo e no exemplo. Obtive um eco positivo no âmbito da maioria dos empregados, que alavancaram o moral, a confiança e o orgulho de pertencerem a esta empresa centenária.
Meus amigos!
Há 50 anos, prestei meu sagrado compromisso perante a Bandeira do Brasil. Naquele momento, jurei tratar com afeição os irmãos de armas e com bondade os subordinados. Nunca deixei de cumprir com este juramento. Durante minha longa carreira militar, atingindo o mais alto posto no Exército, cumpri com retidão as palavras professadas diante do nosso invicto Pavilhão Nacional.
Assim como defendi e respeitei todos os soldados do Exército de Caxias, também respeitei e defendi todos os empregados dedicados que orgulhosamente envergam o uniforme azul e amarelo.
Se não fosse para exercitar minhas firmes convicções, eu não poderia ser o Presidente dos Correios. Se não fosse para recuperar os Correios, no contexto da recuperação do nosso País, eu não teria aceitado este grande desafio.
Esse é um momento de serenidade e confiança no futuro. Todos os integrantes da Empresa, desde a Diretoria Executiva até o Carteiro mais jovem, devem se conscientizar da necessidade de prosseguir na jornada de recuperação e modernização da ECT. Há ainda muito por fazer, existem muitos obstáculos a ultrapassar, mas nenhuma barreira poderá reter as ações empreendidas com coragem, dedicação e confiança.
O meu muito obrigado a todos que contribuíram com minha gestão nestes poucos meses. A missão ainda não está cumprida, mas confiamos que esta briosa organização, com 356 anos completos, ainda tem muito a oferecer ao País.
Brasil Acima de Tudo! Correios no Coração de Todos!