Construção da OAS: os US$ 875 milhões em bonds da construtora caíram mais do que qualquer outro título dos mercados emergentes (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 14h28.
Enquanto a OAS SA luta para conseguir financiamento para evitar um calote, investidores se preparam para aquele que pode ser o maior colapso no Brasil desde que o império corporativo de Eike Batista veio abaixo.
Os US$ 875 milhões em bonds da construtora com vencimento em 2019 caíram mais do que qualquer outro título dos mercados emergentes neste ano depois que a empresa descumpriu um pagamento de dívida neste mês.
A 18 centavos de dólar, a OAS agora é negociada em uma faixa que indica que a empresa será liquidada, segundo a Oppenheimer Co.
A OAS foi citada na maior investigação de corrupção do Brasil como uma das várias construtoras que teriam subornado a Petrobras em troca de contratos.
Embora a OAS esteja tentando renegociar sua dívida e buscando um empréstimo de R$ 2 bilhões (US$ 760 milhões), os detentores de bonds a abandonaram devido à especulação de que a empresa acabará entrando com pedido de recuperação judicial, segundo Omar Zeolla, da Oppenheimer.
“A OAS está tendo dificuldades para encontrar financiamento e o temor de que a empresa possa entrar em recuperação judicial não ajuda”, disse Zeolla, analista da Oppenheimer, que tem sede em Nova York.
“Os bonds estão refletindo as expectativas de liquidação ou, para dizer o mínimo, de negociações muito longas de reestruturação”.
A assessoria de imprensa da OAS disse em um e-mail que a empresa está negociando com alguns de seus principais credores e buscando uma “reestruturação organizada para preservar a liquidez e a continuidade de suas operações”.
Um comitê que representa os detentores de mais de 50 por cento dos bonds em moeda estrangeira da empresa contratou a FTI Consulting Inc. como conselheira financeira e os escritórios de advocacia Pinheiro Neto Advogados e Morgan Lewis Bockius LLP em busca de assessoria legal, disse uma fonte familiarizada com o assunto no dia 13 de janeiro.
Pagamentos não realizados
A decisão de não realizar alguns pagamentos, tomada no dia 2 de janeiro, fez com que suas notas de referência de 2019 caíssem para apenas 10 centavos de dólar. Os US$ 400 milhões em títulos da empresa com vencimento em 2021 caíram para 18 centavos, contra mais de 90 centavos em novembro.
De 1999 para cá, 11 entre 15 empresas brasileiras deram calote depois que seus bonds caíram para menos de 40 centavos, mostram dados compilados pela Bloomberg. Nove entraram com pedido de recuperação judicial.
A construtora tem buscado um empréstimo que seria pago com vendas de ativos, disseram três fontes com conhecimento do assunto no dia 9 de janeiro. O empréstimo seria garantido pela participação da OAS na Invepar, uma operadora de aeroportos, disseram as fontes, que pediram para não serem identificadas porque as discussões são privadas.
"Muito difícil"
“Esse cenário de calote-que-pode-virar-falência torna muito difícil para a OAS levantar dinheiro”, disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC, em entrevista por telefone, de Miami. “É por isso que eles não têm outra opção, senão a de oferecerem seus ativos como garantia”.
A OAS também está tentando vender seus ativos no grupo que opera o aeroporto de Guarulhos, segundo quatro fontes familiarizadas com a situação, que pediram anonimato porque as discussões são privadas.
Embora o pedido de falência seja uma possibilidade, a potencial reestruturação pode criar uma oportunidade atrativa para os bonds da OAS, segundo Marcelo Barbosa Lima, gerente comercial de renda fixa da INTL FCStone Securities Inc. em Miami.
“Com os bonds nesses níveis, a compra pode fazer sentido”, disse Lima, em um e-mail. Ele vê os credores recuperando até 27 centavos para cada dólar em obrigações.
Um empréstimo traria apenas alívio temporário e colocaria os detentores de bonds mais no fim da fila para serem pagos se a OAS acabar entrando em colapso, disse Zeolla, da Oppenheimer, em um relatório com data de 14 de janeiro.
“Receber esse empréstimo seria positivo”, escreveu ele. Contudo, “colocaria a quantidade devida à frente dos bonds”.