Câmbio: o Santander prevê que o real cairá outros 9 por cento no ano que vem (Bruno Domingos/Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2013 às 13h23.
A desvalorização do real neste ano reduziu os lucros da Fiat SpA, rendeu a um fundo de bônus locais do Deutsche Bank AG seu pior retorno anual e fez com que o Goldman Sachs Group Inc. enfrentasse um processo movido por um cliente devido a perdas comerciais. A queda de 12 por cento da moeda, a maior desde 2008, está prestes a piorar, segundo os analistas com previsões mais precisas.
O Banco Santander Brasil, o principal prognosticador de moedas latino-americanas no ranking da Bloomberg, diz que o real cairá outros 9 por cento no ano que vem. Estrategistas da Morgan Stanley, em segundo lugar no ranking, preveem uma queda de 10 por cento, e a piora das finanças do país é a maior preocupação do banco entre os países emergentes.
Antes um dos principais alvos de investimentos de Warren Buffett em moedas, o real está a caminho de sua terceira queda anual após déficits orçamentários crescentes ameaçarem provocar o primeiro rebaixamento da classificação de crédito do país desde 2002.
O plano do Banco Central para estender um programa de intervenção de US$ 60 bilhões para 2014 não será suficiente para sustentar o real, enquanto o crescimento lento e a inflação acima da meta prejudicam os investimentos, segundo o Santander.
“O Brasil tem fundamentos econômicos fracos”, disse Fernanda Consorte, economista do Santander, em entrevista por telefone, em 13 de dezembro. Os leilões de moeda do Banco Central “são realizados para conter a volatilidade, mas não são capazes de reverter a tendência”.
A queda de 4,9 por cento do real no quarto trimestre é a maior entre as 16 principais moedas monitoradas pela Bloomberg, depois do iene japonês. A queda aumentou para 27 por cento a perda do real nos últimos três anos, contra uma recuperação de 10 por cento do yuan chinês e o won, da Coreia do Sul.
Perspectiva do Santander
O Santander prevê que o real cairá para R$ 2,55 por dólar em 2014, contra R$ 2,3301 no fechamento da semana passada. A JPMorgan Chase Co. baixou sua previsão de 2014 para o real para R$ 2,50 por dólar, contra R$ 2,40 em 5 de dezembro, citando o “crescimento desanimador” e uma “deterioração contínua do desempenho fiscal”.
A queda deste ano pegou alguns investidores desprevenidos.
Oei Hong Leong processou o Goldman Sachs devido a uma perda de US$ 34,3 milhões no comércio de opções real-iene. Segundo ele, o banco com sede em Nova York o induziu ao erro ao fazer o negócio, em maio. Leong, de Cingapura, alegou, em documentos apresentados ao Tribunal de Nova York, que perdeu dinheiro depois que o Goldman Sachs afirmou que o real era uma moeda estável e líquida.
Deutsche Bank
Um fundo de bônus de US$ 392 milhões, no Brasil, da Deutsche Asset Wealth Management, uma unidade do Deutsche Bank, perdeu 14 por cento neste ano até 12 de dezembro, segundo dados compilados pela Bloomberg. O fundo, gerenciado por Paul Terres e Xueming Song, está a caminho de sua maior queda anual desde que foi criado, em 2008. Os gerentes preferiram não comentar.
A Fiat, fabricante italiana de carros que controla também a Chrysler Group LLC, reduziu, em 30 de outubro, sua meta de lucros de 2013 em 13 por cento para computar o impacto das flutuações do real brasileiro e de outras moedas.
O Morgan Stanley aponta o crescimento do crédito de bancos estatais brasileiros como uma das razões principais dos déficits de conta-corrente e orçamentário que estão minando o real. Os déficits são os maiores em pelo menos quatro anos.
“O Brasil continua sendo a maior fonte de preocupação dos mercados emergentes”, escreveram Manoj Pradhan e Patryk Drozdzik, economistas do Morgan Stanley, em nota aos clientes, em 11 de dezembro. “Embora seja improvável um desmoronamento no curto prazo, os dois déficits deverão piorar e o ponto de partida para o reequilíbrio doméstico do Brasil também está ficando pior”.
As saídas de moeda estrangeira por meio de comércio e investimentos somaram US$ 6,1 bilhões neste ano até 8 de dezembro, contra entradas de US$ 17 bilhões em 2012 e de US$ 65 bilhões em 2011, segundo dados do Banco Central.
“O Brasil desfrutou de uma longa jornada, beneficiando-se do crescimento da China, de ciclos de commodities e de taxas mais baixas no exterior”, disse Gorky Urquieta, codiretor de dívidas de mercados emergentes da Neuberger Berman, que gerencia US$ 227 bilhões em ativos, em entrevista por telefone, em 10 de dezembro. “Estas coisas começaram a se inverter. A moeda continuará vulnerável”.