Cartão do Nubank (Nubank/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 14h06.
São Paulo – Nascido como uma alternativa aos grandes bancos, o Nubank está cada vez mais próximo de se tornar um. Depois do cartão de crédito e da conta digital, a instituição anunciou hoje a função débito e a possibilidade de saque em dinheiro. A pergunta que fica é: quais devem ser os próximos passos da companhia?
Para Guilherme Horn, diretor de inovação da Accenture para América Latina e especialista no setor, com uma conta corrente mais completa, a fintech deve trazer inovações no serviço, assim como fez com o cartão de crédito. “A conta corrente é um produto que as pessoas estão acostumadas a usar, mas que não tem grandes inovações nos bancos tradicionais. Podemos esperar do Nubank inovações com um olhar diferente para as dores do consumidor”, afirma Horn.
Horn dá um exemplo de inovação com a cara do Nubank. “No cartão de crédito, eles lançaram uma funcionalidade para quem tem o cartão reemitido, após o vencimento por exemplo. Pelo Nubank o número do novo cartão é atualizado automaticamente em assinaturas de serviços e jornais. É o tipo de coisa que ilustra como eles olham para o consumidor”, explica.
"A intenção deles sempre foi ser um banco", atesta Horn. Outro passo nesse sentido é a oferta de empréstimos pessoais. Em evento realizado hoje, o CEO da empresa, David Vélez afirmou que a empresa pode realizar a operação, mas seu foco por enquanto são os serviço já oferecidos.
Daqui para frente, a fintech precisará ficar atenta para não incorporar a burocracia dos bancos junto com as novas funcionalidades. “As exigências de compliance para instituições financeiras tendem a atravancar o processo”, avisa Horn.
A seu favor, a companhia tem o que nenhum outro banco tem: a boa vontade dos clientes. “O Nubank tem uma vantagem significativa para o mercado. Eles têm uma marca amada pelos consumidores. Talvez ele seja o primeiro banco realmente amado por seus clientes”, afirma.
Ao oferecer serviços mais tradicionais como o saque em dinheiro, o Nubank faz o caminho inverso ao dos grandes bancos, que correm para se digitalizar e enfrentar as fintechs. No entanto, a empresa também pode estar com os olhos num horizonte muito mais distante, mais especificamente, na China.
O Nubank recebeu um aporte de 200 milhões de dólares da gigante chinesa de tecnologia Tencent, dona do WeChat, aplicativo de mensagens que possui função de pagamento largamente utilizada pelos chineses. O negócio avaliou a fintech em 4 bilhões de dólares e colocou a companhia entre as startups mais valiosas da América Latina.
Na China, quase não se usa cartão para fazer pagamentos, boa parte dos chineses paga com QR Code pelo celular. No Brasil, quem está de olho nessa tecnologia é o Mercado Livre. No início do mês, a empresa anunciou que já tem mais de 50 mil estabelecimentos aceitando pagamento por QR Code através do Mercado Pago, o braço de pagamentos da companhia.
“A Tencent conhece muito bem o negócio de ser uma plataforma para conectar parceiros. Acredito que podemos esperar uma atuação do Nubank diferente dos tradicionais bancos, talvez usando parcerias”, afirma Horn.
Criado em 2013, o banco digital Nubank se tornou conhecido por seu cartão de crédito sem taxa de anualidade e com administração 100% online.
Hoje, a startup afirma ter emitido cinco milhões desses cartões, o que colocaria entre as cinco maiores emissoras de cartões do país e o maior desafiante de banco do mundo fora da Ásia. A fintech também tem 2,5 milhões de inscritos para ter uma conta digital, serviço lançado há cerca de um ano.
O Nubank já captou 707,6 milhões de dólares em aportes. O valor inclui um recente investimento de 180 milhões de dólares da gigante chinesa Tencent. Hoje, o valuation da empresa gira na casa dos 4 bilhões de dólares.
Para o estudo Fintech 100 2018, elaborado pela H2 Ventures com a KPMG, o Nubank é a sétima fintech mais inovadora do mundo.