Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras: A Vulcabras pode e quer trazer mais negócios para dentro de casa (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 6 de agosto de 2024 às 09h16.
Última atualização em 6 de agosto de 2024 às 12h08.
Caminhando para um trimestre de alta em receita, a Vulcabras começa a colocar de pé um plano para se posicionar como uma casa de multiesportes. A companhia é dona da Olympikus e detém os direitos de operação da japonesa Mizuno e da americana Under Armour.
Desde que passou por um Re-IPO em 2017 e decidiu se posicionar como uma casa de marcas esportivas, os produtos dedicados ao universo da corrida têm embalado os números da empresa.
O crescimento no esporte contribuiu para a companhia manter uma trajetória de alta nos últimos anos. Em 2023, fechou com uma receita líquida de R$ 2,82 bilhões, 11,1% a mais que um ano antes.
O carro-chefe é a Olympikus, com a linha Corre, composta por tênis com preços entre R$ 499,90, caso do Corre Vento e do Corre 3, e R$ 1.199,90, no Supra, produto lançado neste ano com placa de carbono para competir em alto nível com marcas globais como Adidas e New Balance. A linha de performance representa 15% de todo o faturamento da Olympikus.
Por anos fora da roda de conversas de atletas profissionais e amadores, a marca brasileira encontrou caminhos neste mercado. O resultado é a soma de investimentos para a evolução dos produtos, parcerias com empresas como a Michelin e a USP, e a articulação para criar uma comunidade de corredores. Mas não é a Olympikus que puxou os números da companhia.
“Nós dobramos o tamanho da Mizuno em 3 anos de operação”, afirma Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras. A marca chegou ao portfólio no terceiro trimestre de 2020, após 23 anos de Alpargatas. Tal qual a coirmã, a japonesa tem a corrida como esporte principal.
A companhia, porém, não quer ficar conhecida como a empresa de uma ‘nota só’. O próximo passo é ir em busca de receitas em novos esportes - e mercados.
O movimento é um caminho natural no mundo das fabricantes de materiais de esportivos, a exemplo de Nike, Adidas e Asics.
Paixão nacional, o futebol é o novo território a ser explorado. A Vulcabras quer usar a força de uma ícone, a chuteira Morelia, para impulsionar a nova guinada.A chuteira é considerada como uma das melhores no universo dos boleiros. Reza a lenda que os atletas profissionais sem marcas patrocinadoras quase sempre optam por ela.
Até meados do ano passado, a Vulcabras só vendia a versão importada, fabricada no Japão e com perfil premium, acima dos R$ 1.000,00. A mudança veio com o lançamento da Morelia Classic e Morelia Club, com preços a partir de R$ 349,00, produzidas aqui.
Os calçados são feitos na fábrica de Itapetinga, no centro-sul baiano, onde a Vulcabras construiu um galpão exclusivo para os itens no portfólio. “Agora, já é muito mais relevante a produção nacional”, diz Bartelle. O esporte representa cerca de 5% da receita atual da Mizuno.
Esses primeiros meses foram considerados como um teste para o início de um movimento mais forte, tanto em número de produtos quanto em investimento em comunicação. A projeção da companhia é de dobrar o número de SKUs nos próximos meses, saindo dos atuais 20.
“A Vulcabras está grande e está se tornando protagonista em várias coisas. A nossa discussão foi: se vamos entrar no futebol, vamos entrar de verdade”, diz Bartelle.
Diferentemente da corrida, esporte em que a estratégia começou com assessorias esportivas e influenciadores para crescer, o caminho no futebol será buscar jogadores e clubes para patrocinar.
“Não há possibilidade de nós construirmos um negócio do tamanho que vamos construir para a Mizuno sem o jogador. O futebol mexe com a cultura popular. No final das contas, o ídolo transcende o campo na hora de construir o endosso do qual estamos falando”, afirma Márcio Callage, CMO da Vulcabras. “A partir de setembro, as pessoas vão começar a ver que a conversa é séria”.
Das três, a Under Armour é a menor e a que ainda patina em busca do seu lugar ao sol. A marca conversa com o público de treinos em academia e fãs e jogadores de basquete - ainda, tem muito apelo junto ao público do rap.
“É onde ela está se posicionando e vai crescer. Essas duas categorias são suficientes? Não, e nem são as que mais vendem. Pela força da marca e por esse posicionamento, os americanos identificaram o ‘running inspire’, que é o arquétipo do corrida, um corredor sem o compromisso de vencer uma maratona”, diz Bartelle.
Para ganhar mercado, uma aposta da Vulcabras está na abertura de lojas físicas próprias da Under Armour. Lá fora, 80% das vendas da marca são peças de vestuário. “As sapatarias não vendem roupa aqui. Logo, não conseguimos expor direito toda a proposta de marca”, afirma Bartelle. Até aqui, a companhia conta com 10 unidades, todas outlets, mas o plano é lançar lojas conceito.
No radar da diversificação de esportes, a companhia não deixa de fora a possibilidade de atrair novas marcas para o portfólio. Hoje, mantém conversas com 4 empresas. “A Vulcabras pode e quer trazer mais negócios para dentro de casa”, diz Bartelle.
Segundo o executivo, após mais de R$ 600 milhões investidos nos últimos anos e os ganhos em sinergia entre as três marcas, é o momento de manter a máquina girando. No último trimestre, a companhia fechou com um retorno sobre capital investido de 29,3%, o maior entre as marcas esportivas negociadas na B3. E o EBITDA foi de R$ 122,4 milhões, alta de 4,7% em relação aos resultados do primeiro tri de 2023, com Margem EBITDA de 20,5%
“Nós, realmente, precisamos tirar o suco dessa laranja porque hoje temos um parque fabril e um centro de desenvolvimento que não perdem para nenhum lugar no mundo”, afirma o CEO.
Enquanto procura avançar por outros esportes, a companhia parece manter um lema popular no universo das corridas - e dos coaches. "A vida não é uma prova de tiro, e sim uma maratona".