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Credibilidade de gigantes de tecnologia pode estar ameaçada

Vazamento de esquema nos EUA mostra que privacidade dos usuários de internet e rede sociais não está garantida; empresas podem sofrer duro golpe na reputação

A instabilidade das regras de publicação do Facebook, presidido por Mark Zuckerberg, enfraquecem a confiança no sigilo e no uso adequado dessas informações, na opinião de Rosa Alegria, do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP. (Justin Sullivan/Getty Images)

A instabilidade das regras de publicação do Facebook, presidido por Mark Zuckerberg, enfraquecem a confiança no sigilo e no uso adequado dessas informações, na opinião de Rosa Alegria, do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP. (Justin Sullivan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - Você tem certeza que eles sabem muito sobre você. Perguntam onde você está, guardam seus e-mails, suas fotos de viagem e de família, além de armazenar todos os seus papos ou troca de e-mails. Não é novidade que empresas como Google, Yahoo!, Facebook, entre outros, sabem muito sobre nós. No entanto, a recente polêmica envolvendo o vazamento de informações pode comprometer a reputação de empresas.

Uma boa parte da repercussão negativa do caso deve recair sobre a consultoria Booz | Allen | Hamilton.  Edward Snowden, protagonista do caso que teria assumido para si a responsabilidade do vazamento das informações, era empregado da consultoria há menos de três meses e prestava serviços para a Agência de Segurança Nacional (NSA), por um salário de 122 mil dólares anuais. Ontem (11), a empresa anunciou a demissão de Snowden por violação grave do código de conduta e valores da empresa.

Foi justamente nesta atividade que Snowden, que também é ex-agente da Agência de Inteligência Central (CIA), chegou a tantas informações. O governo americano está em xeque, sob a acusação de espionagem e violação da privacidade dos cidadãos – assunto que vem rendendo dor de cabeça ao presidente Barack Obama. 

Para as empresas, esse deve ser um momento de conscientização. Rosa Alegria, vice-presidente do Núcleo de Estudos do Futuro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica que os tempos de confidencialidade ficaram para trás. 

Depois dos escândalos gerados pelo Wikileaks, agora é a vez de “Verax” – codinome utilizado de Snowden – mostrar para o mundo que não há mais informações sigilosas.  “Com um cenário de conectividade e grande exposição, invariavelmente, em algum momento, todas as informações confidenciais, de negociações de governos e de empresas virão à tona”, diz Rosa.

Especialmente para empresas que trabalham com o monitoramento das informações que compartilhamos ao longo do dia. E se nem a NSA não está a salvo, resta uma pergunta: quem está?

Fontes de informação

Em um dos documentos divulgados por Snowden, a lista de empresas envolvidas no esquema levanta polêmica justamente por sempre estarem no centro das discussões sobre privacidade dos usuários. Entre elas estão Microsoft, Apple, Google, Facebook, Yahoo!, Skype, YouTube, PalTalk e AOL.

Todas elas – exceto a Verizon, de telecomunicações, que assumiu publicamente a solicitação recebida do governo recentemente - negaram participação ativa em um suposto esquema de espionagem do governo Obama.

A maior parte diz não saber sequer da existência do chamado Prism, o que sugere que essas informações podem não ter sido efetivamente concedidas sob uma demanda pontual. No entanto, aquelas mencionadas pela lista de Snowden afirmam não deixar nenhuma “porta dos fundos” aberta para investigações de órgãos de inteligência. 

A dúvida, então, recai sobre a confiabilidade dessas organizações que centralizam tantas informações relevantes de usuários em todo o mundo. 


Para Heloisa Bedicks, superintendente geral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), o impacto do caso Snowden sobre a reputação dessas empresas tende a ser mínimo, uma vez que a sociedade norte-americana vive um momento de pânico com relação às ameaças terroristas. “O governo americano está buscando dar segurança aos cidadãos. Talvez a sociedade entenda esse pânico como justificativa para um leve abandono, ainda que temporário, do que temos por privacidade e até mesmo a ética”, diz. “Se alguém sair com a reputação lesada nessa história, possivelmente será o presidente Barack Obama.”

Para ela, o perigo à reputação da empresa mora, no entanto, onde há interesses comerciais no vazamento dessas informações. “São situações completamente diferentes e, se a segurança nacional não estivesse em jogo, esta poderia sim ser uma questão de transparência”, afirma. “Não tem como dizer não a uma solicitação do governo que pode evitar que tragédias como o 11 de setembro se repitam".

Na opinião de Rosa Alegria, Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, parece estar em piores lençóis, considerando essa questão. “Nós nunca recebemos uma solicitação ou ordem de qualquer agência do governo solicitando informações ou dados em massa, como o que a Verizon reportou recentemente. E se tivéssemos recebido, lutaríamos agressivamente. Nunca tínhamos escutado falar do Prism até ontem”, afirmou Mark Zuckerberg em comunicado publicado pelo The Guardian.

Rosa Alegria explica que, desde a sua fundação, a rede social não inspira confiança no que tange o sigilo dos dados, uma vez que mesmo o conteúdo postado por usuários passa por filtros que envolvem relações comerciais, como o pagamento de publicidade e cobrança por serviços como o envio de mensagens. 

O ponto central, para ela, é a falta de transparência entre os usuários e a organização. “Não dá para gerar lucratividade em cima de um apanhado de inteligência que não é sua, mas construída por todos os usuários de uma rede de alcance mundial”, afirma. Mais que isso, Rosa vê nessa prática uma “apropriação desequilibrada do conhecimento ”.

O Google, por sua vez, não sofreria tanto por oferecer uma relação ganha-ganha com o usuário, na opinião de Rosa. Para ela, ao mesmo tempo em que muitos de seus dados são monitorados e solicitados pelas plataformas da empresa, o usuário tem a possibilidade de usar uma grande quantidade de ferramentas de pesquisa, produtividade e informações disponibilizadas pela companhia. 

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