Declínio: nos últimos cinco anos, os preços do carvão despencaram, arrastando ao precipício meia centena de empresas. (Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 16 de abril de 2016 às 07h36.
São Paulo – Ao longo dos últimos quatro anos, os preços do carvão caíram quatro vezes, arrastando para o precipício meia centena de empresas, que fecharam as portas (ou melhor, suas minas). Mas, nesta semana, a trajetória descendente da commodity reivindicou sua vítima mais emblemática: a norte-americana Peabody Energy, líder global desse mercado.
Fundada em 1883, a empresa entregou na quarta-feira (13) um pedido de insolvência de acordo com o capítulo 11 da lei dos Estados Unidos, que regula as falências no país, um sinal de que a indústria do carvão está numa espiral de dificuldades, aparentemente, sem fim.
Com presença em 25 países e 8 mil funcionários, a Peabody era uma corporação de US$ 20 bilhões há cinco anos. Atualmente, ela vale US$ 38 milhões, compara o The Wall Street Journal.
Segundo a Bloomberg, todas as minas e escritórios da empresa operarão normalmente enquanto durar o processo, que não incluirá as operações da empresa na Austrália.
Bye, bye carvão?
Em editorial, a agência de notícias considera a falência da Peabody Energy como a “ilustração mais viva da profunda e bem-vinda mudança do mercado para longe do carvão”.
Em se tratando dos Estados Unidos, a tendência parece irreversível. “A indústria do carvão americana é um doente terminal”, decretou em 2015 a consultoria Carbon Tracker Initiative, em relatório de alerta para os investidores que poderiam ser tentados a colocar seu dinheiro no combustível fóssil.
O uso do carvão foi dissociado do crescimento econômico daquele país por uma série de razões, segundo o estudo. A principal delas é a disponibilidade de outras fontes competitivas de energia, como a abundância de gás de xisto, e a maior participação das energias renováveis, como solar e eólica.
Também contribuíram para a decadência da indústria carvoeira nos EUA as regulamentações cada vez mais rígidas sobre a poluição do ar e do setor da energia, oriundas de determinações da Agência de Proteção Americana (EPA) e do próprio governo Obama.
"A queima de carvão é como travar uma guerra sobre a saúde. Seus efeitos sobre a poluição do ar são imperdoavelmente altos, custando bilhões de dólares e milhares de vidas perdidas a cada ano", disse em comunicado Kim Knowlton, cientista e vice-diretor do Centro de Ciências do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.
Ele afirma que a a falência da Peabody não significa necessariamente que o fim do carvão está próximo, mas espera "que seja tomada como um sinal de que precisamos agir rapidamente para acabar com a era da queima de combustíveis fósseis, que desencadeou o caos climático que os nossos filhos vão herdar".
Em nota, Tom Sanzillo, diretor de finanças do Instituto de Economia da Energia e Análise Financeira (IEEFA), pondera que o colapso da maior empresa de carvão privada no mundo é um evento significativo, mas também sublinha que isso não significa o seu fim.
"A Peabody Energy está falindo porque a sua liderança não foi capaz de se ajustar ao novo mercado de energia, no qual o carvão está sendo substituído por novas fontes de energia. Dito isto, a indústria do carvão não está morta, mas enfrenta um tempo em que deve inovar como nunca antes. Isso significa mercados menores e menos minas", opina.
No cenário global, o combate às mudanças climáticas tem ajudado a redesenhar o mercado mundial de energia — a tendência é que fontes poluentes, como o carvão, sejam gradualmente abandonadas em favor das energias limpas. Outro indicativo dessa tendência é o crescimento das renováveis, cuja implantação superou os combustíveis fósseis no ano passado.
Em relatório recente, a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) reduziu sua estimativa de crescimento da demanda global de carvão nos próximos cinco anos por mais de 500 milhões de toneladas equivalentes (uma métrica comum da indústria e do governo), em reconhecimento das tremendas pressões que os mercados de carvão enfrentam.
A redução do apetite chinês é uma delas, avalia a AIE. Em 2013, o país chegou a responder por metade da demanda mundial de carvão, mas tem dado sinais de que vai reduzir o passo. Três fatores principais indicam essa tendência: o declínio na indústria pesada do país, os esforços para controlar a poluição atmosférica nas cidades e o crescente investimento em energias renováveis para cumprir compromissos de combate às mudanças climáticas.