Cláudia Conde, fundadora de Farma Conde: “No começo, fazia tudo sozinha: abria o estabelecimento, realizava as compras, recebia mercadoria, aplicava injeção. Foi complicado, mas muito gratificante porque só assim é possível enxergar as oportunidades que surgem” (Divulgação)
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Publicado em 17 de abril de 2025 às 10h27.
Aos 25 anos, recém-formada em Farmácia e com uma bebê de apenas seis meses, Cláudia Conde tomou uma decisão ousada: abrir uma pequena drogaria em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Natural de Paraguaçu Paulista, no interior do Estado, ela havia se mudado para a cidade no ano anterior ao lado do marido, Manoel – então delegado de polícia – em busca de novas oportunidades.
Após a maternidade, teve dificuldade para encontrar emprego e o salário do parceiro já não era suficiente para cobrir as despesas da família. Com experiência como farmacêutica no hospital da região em que morava, viu no empreendedorismo uma alternativa viável. O casal vendeu os dois carros que possuía, alugou uma garagem com a ajuda de amigos e deu início ao negócio, com o primeiro escritório improvisado na edícula da casa.
Três décadas depois, a iniciativa modesta se transformou em uma potência do varejo brasileiro: a Farma Conde, uma rede com mais de 500 unidades próprias, 50 licenciadas (com plano de alcançar mais 250 este ano) e quase oito mil funcionários. Presente em São Paulo e Minas Gerais, a empresa atingiu um faturamento de R$ 1,7 bilhão em 2024. A expectativa agora é ultrapassar os R$ 2 bilhões.
Atualmente, a sede fica em São José dos Campos (SP), onde também dá nome ao maior centro esportivo e de eventos da cidade, a Farma Conde Arena, em modelo de concessão firmado junto à prefeitura local. O grupo conta ainda com cinco supermercados e sete farmácias de manipulação.
Na maratona do empreendedorismo, Cláudia correu sozinha no início – e chegou longe.
O caminho até aqui foi marcado por superação e dedicação. “Fundar uma empresa é difícil e o início foi cheio de desafios, ainda mais com criança pequena, sendo mulher e tendo que cuidar da casa”, lembra Cláudia. O que mais a impactava na época era deixar a filha e sair para trabalhar. A bebê ficava aos cuidados da sogra.
“No começo, fazia tudo sozinha: abria o estabelecimento, realizava as compras, recebia mercadoria, aplicava injeção. Foi complicado, mas muito gratificante porque só assim é possível enxergar as oportunidades que surgem”, diz.
A empresária reinvestiu tudo o que ganhava para fazer a drogaria avançar. Em pouco tempo, precisou contratar funcionários, estruturar as áreas e montar um plano de negócios robusto. As primeiras filiais foram abertas em Caraguatatuba e São Sebastião, depois no Vale do Paraíba. Hoje, está presente em 130 municípios.
“Foi um período de muito trabalho e dedicação para encontrar os profissionais certos em cada local, e exigiu resiliência e força de vontade”, afirma. Ela destaca ainda a entrada de Manoel na operação como um marco para a expansão: “Ele é um visionário nos negócios”.
Para Cláudia, o segredo do sucesso está no atendimento humanizado. “Ninguém chega em uma farmácia contente. Muitas vezes, está com dor ou precisando de uma palavra carinhosa”, diz. Esse tratamento empático ajuda a atrair e fidelizar clientes.
Outro ponto fundamental é manter-se fiel aos valores da origem. “Não podemos esquecer de onde viemos e do que nos trouxe até aqui”, afirma. Isso também se reflete na escolha dos funcionários, que devem ter competências técnicas, mas também alinhamento com o propósito da empresa.
“Família cuida de família”: o slogan da empresa traduz a essência do negócio desde o início.
Além do cuidado nas relações, a empresária investiu na variedade do portfólio. “Minha prioridade é que o cliente encontre tudo o que precisa para a sua saúde e bem-estar em um lugar só – medicamentos, vitaminas, itens de perfumaria e até produtos de conveniência”, afirma.
A estratégia impulsionou a criação de outras frentes, como a MCG, laboratório fundado em 2011 com mais de 500 produtos de marca própria, entre perfumaria e suplementos alimentares.
Com autorização da Anvisa, a Farma Conde se prepara para entrar na indústria farmacêutica. “Por enquanto nossa produção é pequena, mas o Brasil é continental e a ideia é expandir”, afirma Cláudia.
Ao refletir sobre a trajetória da companhia – e sua própria jornada como mãe e empreendedora – Cláudia faz questão de lembrar do slogan: “Família cuida de família”. Hoje, Manoel é o presidente do grupo, e a filha, Giovana, atua no setor de marketing.
Já Cláudia, que se tornou avó há poucos meses, é vice-presidente e lidera ações sociais, como atendimento farmacêutico gratuito, aferição de pressão, testes de glicemia, além de doações e campanhas assistenciais.
“Olhando para trás, podia ter dado errado, mas tive resiliência e força para encarar os desafios sem medo”, conclui.