Hélcio Oliveira, CEO da Copra: “ Chegou o momento de termos nossa própria unidade” (divulgação/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 24 de março de 2025 às 11h06.
Última atualização em 24 de março de 2025 às 11h24.
Calda de chocolate, manteiga vegana e shoyu. O mercado de produtos à base de coco está em expansão no Brasil e no mundo, impulsionado pela busca por alimentação saudável. A Copra, empresa alagoana especializada no beneficiamento do coco seco, se consolidou como líder nacional em óleo de coco e vê espaço para continuar crescendo com a diversificação de seu portfólio — e ir além do leite de coco, coco ralado ou água de coco (também produzidos pela empresa). Com 25 anos de história, a companhia cresceu 7% no último ano eprojeta faturamento de R$ 300 milhões em 2025.
A expansão vem acompanhada de novos desafios. A empresa enfrenta um cenário de altas taxas de juro, que pressionam custos e limitam margens de lucro. "Hoje uma grande parte da margem vai para o pagamento de juros", afirma Hélcio Oliveira, CEO da Copra. Para manter a competitividade, a companhia aposta em ganhos de eficiência, revisão de processos e na ampliação da distribuição.
A inauguração de uma nova fábrica em Murici, Alagoas, com investimento de R$ 20 milhões, é um passo estratégico para otimizar a produção e reduzir custos logísticos.Com capacidade para processar 200 toneladas de óleo de coco e 500 toneladas de coco ralado por mês, a unidade gera 300 empregos diretos e pode chegar a 500. “Chegou o momento de termos nossa própria unidade", diz Oliveira.
A Copra nasceu em 1998, em Maceió, Alagoas, com um modelo de negócios voltado para a produção e venda de coco ralado e leite de coco para o setor de panificação. O grande ponto de virada veio em 2007, quando Oliveira decidiu investir na produção de óleo de coco. "Uma cliente me ligou do Rio de Janeiro perguntando se eu vendia óleo de coco para consumo. Eu disse que óleo de coco era só para fazer sabão. Ela insistiu e explicou que um médico recomendava para melhorar imunidade e reduzir colesterol. Isso me fez estudar o produto", conta.
A empresa desenvolveu um processo próprio de extração e, em 2011, o óleo de coco ganhou visibilidade nacional ao ser tema de uma reportagem de televisão. O produto se tornou um sucesso de vendas e ajudou a Copra a se consolidar como referência no segmento.Atualmente, a empresa exporta para mais de 14 países e possui uma linha com mais de 100 produtos veganos, incluindo leite de coco, coco ralado e água de coco.
Em 2019, a companhia inaugurou um Centro de Distribuição em Messias, Alagoas, para melhorar a logística e garantir uma distribuição mais eficiente. A estrutura foi essencial para manter o crescimento mesmo durante a pandemia. "Para nossa surpresa, aumentamos o faturamento em 30% durante a pandemia. Com os restaurantes fechados, as pessoas começaram a cozinhar em casa e buscaram opções mais saudáveis", lembra Oliveira.
O mercado global de produtos de coco deve crescer 9,65% em 2025, segundo a consultoria Mordor Intelligence. A busca por alternativas naturais e o aumento da preocupação com a alimentação saudável são tendências favoráveis para a Copra. No Brasil, a empresa compete com marcas menores e grandes empresas, como a Sococo, que vêm apostando nesse setor.
A distribuição é um dos principais desafios. A Copra vende seus produtos tanto por meio de distribuidores quanto diretamente para grandes redes de supermercados. O estado de São Paulo é o maior mercado da companhia, mas a presença no Nordeste e Norte do Brasil tem crescido. Além da marca principal, a empresa possui uma linha secundária, a Coco Show, voltada para competir em preço. "A estratégia é simples: ocupar espaço na gôndola. Se não for meu produto, será o do concorrente", explica Oliveira.
Outro ponto crítico é a variação cambial e o custo da matéria-prima. A Copra compra 80% do coco de produtores locais, mas também precisa trazer parte do insumo de fora. "O preço do coco oscila muito e a alta do dólar também impacta nossos custos. Não dá para repassar tudo para o consumidor, então precisamos ser mais eficientes internamente", afirma.
Para driblar os desafios, a Copra investe no lançamento de novos produtos e na ampliação do portfólio. Entre as apostas estão o shoyo de coco, calda de chocolate e manteiga, voltados para o mercado de alimentação saudável. "A marca já está consolidada, agora podemos agregar novos produtos que nem precisam necessariamente ter coco na composição", diz Oliveira.
A eficiência produtiva tem sido um dos principais focos da Copra. O objetivo é produzir mais com menor custo, reduzindo perdas e melhorando a logística. "O preço de venda, eu não consigo mexer muito. O que posso fazer é otimizar processos internos e aumentar a produtividade", afirma Oliveira.
A Copra não descarta atrair investidores no futuro. "Não quero alguém que só coloque dinheiro. Dinheiro, o banco já me dá. Mas uma parceria estratégica para alavancar a empresa seria interessante", pondera Oliveira.
A expectativa para 2025 é atingir R$ 300 milhões em faturamento, mantendo o crescimento anual na casa de 7% a 8%. A empresa acredita que o consumo de produtos saudáveis seguirá crescendo, mesmo diante das incertezas econômicas. "Enquanto uns choram, outros vendem lenço. O mercado vai se ajustar, e a gente precisa estar pronto para continuar competitivo", diz Oliveira.