A Saraiva desenvolveu uma ferramenta de ensino que já está sendo usada por alunos do último ano de Direito, atingindo quase 3,5 mil estudantes (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2014 às 11h18.
São Paulo - Fundado há cem anos, o grupo Saraiva se divide, praticamente desde o início de sua operação, entre o negócio de varejo e de publicação de livros - a Editora Saraiva foi criada em 1917.
De olho em um mercado em expansão - o de fornecimento de conteúdo para os grandes grupos educacionais que surgiram no Brasil nos últimos cinco anos -, a empresa está tentando adaptar o conhecimento que colecionou ao longo de sua história para as exigências tecnológicas do ensino atual.
O primeiro passo neste sentido foi dado no segmento em que a companhia tem mais tradição: o Direito. A pedido da Kroton Educacional - o maior grupo de educação superior do mundo, com 1,2 milhão de alunos e dono de marcas como Anhanguera e Unopar -, a empresa desenvolveu uma ferramenta de ensino que já está sendo usada pelos alunos do último ano de Direito de todas as universidades do grupo, atingindo quase 3,5 mil estudantes.
Embora a Saraiva já venda livros didáticos e tenha uma extensa biblioteca digitalizada, o vice-presidente de negócios editoriais do grupo, Maurício Fanganiello, diz que a ferramenta para a Kroton, que foi desenvolvida dentro da empresa, se diferencia por customizar o produto para cada aluno.
A partir de um teste inicial, cada estudante que vai prestar a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pode detectar os conteúdos em que tem mais dificuldade, ajudando o software a direcionar o reforço para essas deficiências.
Fanganiello diz que o objetivo da empresa é estender os conteúdos individualizados a outros temas. Além do desenvolvimento interno, com adaptação de conteúdos de livros e sistemas de ensino da Saraiva, a companhia também buscará ideias inovadoras formando parcerias com startups de educação.
"Não vamos desenvolver todos os conteúdos, que muitas vezes são autorais, mas teremos uma boa curadoria (para escolher os materiais)", diz o executivo.
Essa aposta reflete uma necessidade de negócios, já que o setor de educação é mais rentável do que o de varejo de livros e eletrônicos, que hoje representa a maior parte do faturamento do grupo, que foi de R$ 2,14 bilhões em 2013.
A educação é 35% da receita, mas responde por 50% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), segundo Fanganiello.
Tendência
Para uma fonte de mercado, o setor de educação privada no País viverá uma "batalha do conteúdo" nos próximos anos. E a Saraiva está longe de navegar sozinha neste mercado.
Só no Brasil, terá de enfrentar concorrentes tradicionais como a Abril Educação e a Positivo, e empresas que já nasceram no mundo digital, como a Geeky. No entanto, gigantes estrangeiras também estão de olho no segmento.
A Kroton Educação, por sua vez, deverá concentrar boa parte da demanda. Hoje, a companhia usa quatro plataformas de educação personalizada, com conteúdos da Saraiva, da Geeky e da Fundação Lemann, de Jorge Paulo Lemann, um dos fundadores da Ambev.
Por enquanto, essas plataformas se resumem a objetivos de reforço, como a preparação para a prova da OAB ou o reforço de conteúdos do ensino médio para "calouros".
Segundo o vice-presidente acadêmico da Kroton Educacional, Rui Fava, a ideia é que o conteúdo individualizado esteja presente em todas as disciplinas da companhia no segundo semestre de 2015.
O desafio, diz o executivo, é selecionar tanto conteúdo em tão pouco tempo. É por isso que a Kroton vai procurar em todos os lugares: empresas tradicionais de ensino, startups e, se necessário, nas companhias multinacionais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.