(Miniso/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 18 de junho de 2018 às 08h00.
Última atualização em 18 de junho de 2018 às 10h14.
São Paulo - Quando a loja de design japonês Miniso chegou ao Brasil, em agosto do ano passado, bateu o recorde mundial de vendas em apenas um dia. A rede quer chegar a centenas de unidades por aqui nos próximos anos.
A japonesa Muji anunciou a abertura de uma pop-up store, que ficará menos de um mês aberta a partir do dia 19 de junho, mas já atraiu a atenção de centenas de paulistanos. A Daiso, que já tem 30 unidades por aqui, anunciou planos de abrir 10 lojas por ano até 2020 no Brasil.
Mas, afinal, o que essas lojas orientais têm que chamam tanto a atenção do brasileiro?
Segundo consultores ouvidos pelo site EXAME, o sucesso está no ambiente atual no Brasil e no mundo e no tipo de produto que essas varejistas comercializam.
Em primeiro lugar, São Paulo, cidade que essas companhias escolhem para começar sua expansão pelo Brasil, é a maior colônia japonesa do mundo (o aniversário de 110 anos da imigração japonesa no país é comemorado hoje). Por isso, produtos dessa cultura têm grande apelo por aqui.
Outro motivo está no momento atual do país. Por conta da crise econômica, o consumidor não consegue comprar um produto mais caro, mas ainda continua interessado em adquirir presentes. Assim, busca lojas mais baratas e impulsiona as redes orientais.
"Essas empresas explodiram no Brasil ao aproveitar com criatividade o momento de crise", afirma Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. "Essas lojas cumprem um papel importante no momento, porque dá para encher uma sacola de compras com apenas 40 reais", diz ela.
O preço baixo, porém, não é regra geral. Diferente de Daiso e Miniso, a loja pop-up da Muji terá itens mais caros, como uma almofada de pescoço por 158 reais e uma mala de viagens de 1.800 reais.
As companhias orientais investem no Brasil enquanto as empresas nacionais ainda não retomaram a confiança, dizem os consultores. "As redes estrangeiras estão enxergando o Brasil com olhos mais otimistas que as brasileiras", afirmou Nelson Kheirallah, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo e coordenador-geral do Conselho do Varejo (CV).
Não é só no Brasil que essas marcas fazem sentido. Os produtos das redes japonesas seguem algumas tendências globais de consumo que levam ao sucesso das empresas também nos Estados Unidos e Europa.
A aposta em itens minimalistas, ligados à cultura oriental, livres de estampas ou marcas e em produtos divertidos impulsiona as redes Daiso, Miniso e Muji pelo mundo.
A Daiso já está no Brasil desde 2012, mas a expansão acelerou nos últimos dois anos. Ela quer abrir 10 lojas por ano até 2020 e firmou parcerias com a rede Hirota, também japonesa, para a criação de espaços da marca dentro dos supermercados.
Já a Miniso desembarcou por aqui em agosto do ano passado e quer chegar a mais de 30 unidades próprias e 80 franquias até o fim do ano. Até 2020, o plano é ter duas mil lojas no país.
A expansão acelerada é uma marca dessas lojas em outros países. "Quando a Miniso ou a Daiso entram em um país, elas não vêm para abrir apenas uma ou outra loja, mas chegam com agressividade", afirmou Kheirallah.
A Daiso tem 2,8 mil lojas no Japão e 4 mil pelo mundo. Com quatro anos de existência, a Miniso tem mais de 2 mil lojas em mais de 50 países. Já a Muji tem 700 unidades.
A abertura de novas unidades não vem só do sucesso das que já estão abertas, mas também é importante para manter o modelo de negócios de produtos baratos. A companhia precisa importar os produtos em grandes quantidades para ter margem de lucro.
O sucesso das redes também está baseado na disposição de seus produtos na loja. Os locais estão recheados de pequenos itens para casa, com desenhos fofos, de animais ou personagens, além de cores fortes, design que é novidade por aqui.
A própria loja também faz com que os produtos pareçam ainda melhores. A exposição é espaçada e bem organizada em categorias, a loja é ampla e branca, diferente de estabelecimentos populares que entopem as prateleiras de produtos. "Os consumidores admitem até pagar um pouco mais, pois a percepção de valor é maior", afirmou Eugenio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria de varejo.
Para Ana Paula Tozzi, da AGR Consultores, as redes orientais preenchem um vácuo que foi deixado pelas lojas de 1,99. Há dez anos, as chamadas "Dollar Stores" chegaram ao Brasil com produtos muito baratos para serem comprados como lembrancinhas ou pequenas indulgências.
"Porém, aquele produto tinha baixa qualidade e o único apelo das lojas era o preço", afirma a consultora. Com a ascensão e queda desse modelo, não havia outras lojas que ocupassem o nicho de pequenos produtos para casa.
Por isso, com produtos e disposição de loja tão únicos, não há concorrência para as orientais recém-chegadas, afirmam os especialistas. Nem Lojas Americanas, nem grandes centros populares de compras, como a rua 25 de Março em São Paulo, são concorrentes diretos.
As lojas orientais ganharam o gosto do brasileiro e não há sinais de que a febre irá sumir tão cedo.