GOL Linhas Aéreas: a companhia sofre com a desvalização do real, a maior entre as principais moedas frente ao dólar, que é a base para a fixação dos preços de combustível (Paolo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2013 às 14h03.
São Paulo - A Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA está gastando mais em combustível do que nenhuma outra linha área do seu tamanho no continente americano, levando os analistas a predizerem que a desvalorização do real destruirá a recuperação de suas ações.
O combustível representou 41 por cento dos gastos operativos no segundo trimestre, a maior proporção entre 16 linhas aéreas da região com pelo menos cem aviões, segundo dados da Bloomberg. A empresa com a menor proporção foi a Air Canada, com 29 por cento, e a maior linha aérea da América Latina, a Latam Airlines SA, gastou 34 por cento.
A Gol está sofrendo a desvalorização do real, a maior dos últimos três meses entre as principais moedas frente ao dólar, que é a base para a fixação dos preços de combustível. Embora suas ações tenham crescido 16 por cento desde 13 de agosto até ontem após registrar uma perda trimestral, os analistas reduziram suas estimativas de preço a 12 meses em 36 por cento nos últimos três meses e as estimativas de lucros por ação em 2014 em 57 por cento.
“Atualmente, a divisa é de longe o maior problema da Gol”, disse Luís Gustavo Pereira, estrategista-chefe da corretora Futura Corretora, em entrevista por telefone de São Paulo. “A empresa já estava lutando para aumentar a lucratividade antes da desvalorização, com as vendas caindo. Agora a situação é ainda pior”.
Perdas trimestrais
A Gol anunciou perdas nos últimos seis trimestres mesmo depois de anunciar em junho reduções de 9 por cento nos voos, contra uma projeção de 7 por cento para 2013, e reduziu sua força de trabalho para o menor nível desde 2008.
A recente recuperação da empresa começou depois que afirmou que em 2013 uma variedade de custos operativos, excluindo o combustível, seria menor do que o previsto. Isso ajudou a compensar sua queda acumulada no ano para 33 por cento, mais do dobro da queda para o índice Ibovespa.
“Nas últimas semanas, temos observado a crescente preocupação com a sustentabilidade do setor” no Brasil dada a desvalorização do real, escreveram analistas da JPMorgan Chase Co., incluindo Fernando Abdalla em uma nota de pesquisa em 27 de agosto. Para a Gol “tudo depende da taxa de câmbio”, escreveram os analistas, que recomendam conservar as ações.
Enquanto os custos do combustível continuam sendo motivo de preocupação devido à desvalorização do real, a Gol poderia compensar os gastos mais elevados continuando a reduzir operações, explicou Bianca Faiwichow, analista da GBM Brasil Dtvm, que recomenda comprar as ações juntamente com outros quatro analistas consultados pela Bloomberg. Cinco recomendam conservá-las e dois, vendê-las.
Mais reduções
“Se o preço do combustível continuar aumentando, eles podem reduzir ainda mais sua capacidade”, disse Faiwichow em entrevista por telefone de São Paulo. “É melhor ter menos voos do que mais, mas a Gol demorou para perceber que esses voos precisam ser lucrativos. Agora, a Gol não tem problema para reduzir sua capacidade se for necessário”.
Pedro Galdi, estrategista-chefe da São Paulo SLW Corretora, com sede em São Paulo, afirmou que a Gol não pode contar com a ajuda de um comprador para o total ou parte da empresa. A lei brasileira proíbe que um estrangeiro seja dono de mais de 20 por cento de uma empresa. No entanto, o jornal O Estado de São Paulo informou em 30 de agosto que o governo estava estudando elevar esse teto para pelo menos 49 por cento.
O alto nível de dívida bruta da Gol, de R$ 5,6 bilhões, reduz a lucratividade, disse Galdi, que recomenda conservar as ações. A dívida total é de 1.549 vezes seu Ebitda, a maior razão do setor, segundo dados da Bloomberg.
“É complicado quando uma empresa tem tantas dívidas, elas acabam devorando seus lucros”, disse Galdi em entrevista por telefone. “O custo do combustível na aviação é um grande problema, e se além disso há muito endividamento, torna-se muito difícil ser otimista sobre a empresa”.