Vista aérea do local da tragédia após o rompimento de uma barragem, em Bento Rodrigues, Minas Gerais: local agora está fechado indefinidamente (Christophe Simon/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2015 às 20h02.
O desastre da semana passada em Minas Gerais tem feito com que investidores questionem se a Samarco Mineração terá condições de suportar as consequências financeiras da tragédia.
Duas barragens da maior operação da produtora de minério de ferro se romperam há cinco dias, desencadeando uma enxurrada de lama que matou pelo menos três pessoas e deixou 25 desaparecidas.
O local agora está fechado indefinidamente. O Deutsche Bank AG estima que os custos de limpeza poderão ultrapassar US$ 1 bilhão.
Enquanto investigadores avaliam a causa do desastre, as famílias velam os mortos e as equipes de resgate continuam a busca por desaparecidos, há um ceticismo crescente a respeito do futuro da joint-venture entre a BHP Billiton e a Vale, especialmente entre os credores da Samarco.
Os US$ 2,2 bilhões em notas da empresa, que perderam um terço de seu valor desde 5 de novembro, agora são vendidos por cerca de 57 centavos de dólar.
Isso reflete a visão de que é quase certo que a suspensão temporária da licença da Samarco para operar na área poderá ser permanente, o que poderia representar um golpe fatal para a empresa, disse Patrik Kauffmann, gestor de recursos da Solitaire Aquila em Zurique.
“As pessoas estão céticas em relação ao nome”, disse Kauffmann. “Se o governo remover a licença deles no nível da companhia, isso poderia provocar um enorme impacto financeiro”.
A Samarco e a BHP disseram que é muito cedo para dizer o que causou o acidente.
A Samarco disse em um e-mail encaminhado para a Bloomberg News que o foco da empresa neste momento continua sendo o atendimento às pessoas e a mitigação de danos ao meio ambiente.
Demais impactos do acidente e seus desdobramentos serão objeto de análise futura, disse a empresa.
A assessoria de imprensa da BHP não quis comentar o desempenho dos bonds da Samarco ou as consequências financeiras do desastre.
A assessoria de imprensa da Vale não respondeu a pedidos de comentário.
Os US$ 1 bilhão em bonds da empresa para 2022, que eram negociados a 83 centavos de dólar antes do acidente, caíram 19,6 centavos na segunda-feira e 0,22 centavos na terça-feira.
Os US$ 700 milhões em bonds da empresa para 2023 caíram de 89 para 57 centavos.
Os yields sobre ambos os títulos dispararam e estão bastante acima do limite que a maioria dos investidores considera com risco de inadimplência.
A empresa também tem US$ 1,42 bilhão em empréstimos com vencimento nos próximos nove anos, mostram dados compilados pela Bloomberg.
Fornecimento de pelotas
A Samarco, que opera há quase quatro décadas e emprega cerca de 3.000 pessoas, foi uma das 10 principais exportadoras do Brasil no ano passado.
A operação no estado de Minas Gerais, onde ocorreu o acidente, estava produzindo minério de ferro a uma taxa anual de cerca de 30 milhões de toneladas em setembro, usando dutos cheios de água para transportar a matéria-prima do local até as plantas de processamento, perto de seu porto.
A unidade fornece pelotas, que são usadas na produção de aço, para cerca de 20 países e responde por cerca de 20 por cento desse mercado, segundo o Citigroup.
A cobertura de seguro da Samarco totalizava mais de US$ 1 bilhão até meados de 2014.
Um desastre de grande escala como o que ocorreu na semana passada provavelmente levará a diversas ações judiciais e a outras sanções que poderão demorar anos para serem resolvidas, segundo o analista Kenneth Hoffman, da Bloomberg Intelligence.
A estrutura da Samarco como uma empresa independente poderá proteger suas proprietárias, a BHP e a Vale, dos prejuízos profundos relacionados ao colapso das barragens, disse Hoffman.
Pior catástrofe
Autoridades ambientais de Minas Gerais disseram que esta foi a pior catástrofe deste tipo a atingir o estado e que a empresa teve sua licença de operação temporariamente suspensa.
Não responderam a uma mensagem enviada por e-mail sobre se tornarão a suspensão da licença permanente.
“Não vejo a operação sendo suspensa permanentemente, mas por um longo período de tempo, sim”, disse Danilo Miranda, advogado da Marcelo Tostes Advogados em São Paulo e especialista em licenciamento ambiental e em concessões de mineração.
"Pode levar anos para que a empresa seja capaz de retomar as operações", disse ele.
“Os investidores estão, em grande parte, precificando agora o fato de que essa situação não vai terminar bem para a empresa”, disse Klaus Spielkamp, chefe de renda fixa da corretora Bulltick em Miami.