Energia: estudo aponta caminhos para o mercado de carbono no Brasil (Agency/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 16 de outubro de 2021 às 08h00.
Última atualização em 5 de novembro de 2021 às 13h09.
Em 2021, todo o mundo sofre com o impacto das mudanças climáticas, com registros recordes de temperatura, aumento de desastres naturais e prejuízos à biodiversidade. Esses sinais acendem um alerta e direcionam as discussões e políticas públicas em torno do combate às mudanças em curso, sobretudo na 26ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, que acontece na primeira quinzena de novembro, em Glasgow.
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Diante deste contexto, a ICC Brasil, capítulo nacional da maior organização empresarial do mundo, em parceria com a WayCarbon, consultoria estratégica com foco em sustentabilidade e mudança do clima, desenvolveram um estudo inédito sobre as oportunidades para o Brasil em mercados de carbono.
Com o apoio da Suzano, Microsoft, Shell, Natura, Bayer e bp, as instituições apuraram que o potencial de geração de receitas com créditos de carbono até 2030 para o Brasil ficaria em torno de US$493 milhões e US$ 100 bilhões. Isso equivaleria a 1 gigaton (1bi de toneladas de CO2 equivalentes) ao longo da próxima década para os setores de agro, floresta e energia.
Hoje, há um registro acumulado de mais de 14.500 projetos de crédito de carbono ao redor do globo, que corresponderam à geração de quase 4 gigatons de tCO2 de créditos até 2020.
“A transição para uma economia de baixo carbono é uma das maiores oportunidades de negócio da nossa era. Gosto sempre de reforçar a importância da geração do lucro através do propósito e esta é uma forma de acelerarmos o crescimento econômico sustentável do nosso País.”, destaca Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil.
Mercado de carbono e oportunidades para o Brasil
O crédito de carbono é um instrumento econômico que visa a diminuição dos gases de efeito estufa, que provocam o agravamento das mudanças climáticas. Esses créditos fazem parte de um mecanismo de flexibilização, que auxilia os países ou empresas que possuem metas de redução de emissão de gases de efeito estufa a alcançá-las de forma mais custo efetiva.
A cada tonelada reduzida ou não emitida desses gases, gera-se um crédito de carbono. Assim, quando um país ou empresa consegue reduzir a emissão, a depender das metodologias envolvidas, ele recebe um crédito.
O estudo aponta que, na próxima década, o Brasil tem potencial para suprir de 5% a 37,5% da demanda global do mercado voluntário e de 2% a 22% da demanda global do mercado regulado no âmbito da ONU. E, até mais, considerando as políticas públicas, nos mecanismos do artigo 6, gerando as receitas de 100 bilhões de dólares.
“Mercados de carbono são uma solução econômica ganha-ganha. Além da redução de emissões de GEE, a experiência evidencia benefícios que são fundamentais para o Brasil, como geração de emprego e renda, melhoria na qualidade das condições de trabalho, aprimoramento da qualidade e de disponibilidade hídrica e segurança energética”, diz Laura Albuquerque, gerente de finanças sustentáveis da WayCarbon.
Visto a oportunidade de atuação nos mercados de carbono globais e o destaque para os setores agropecuário, florestal e energético, entende-se que há um caminho a ser percorrido pelo governo brasileiro e pelo setor privado a fim de destravar e alavancar tais oportunidades de geração de receita, renda, saúde e bem-estar social.
O estudo traz mais de 10 recomendações essenciais, mas há dois passos que são chave. O primeiro é entender os mercados de carbono como potencial de destravar oportunidades financeiras para planos de recuperação econômica e aceleração do crescimento sustentável da economia brasileira e o segundo, desenvolver sistemas de monitoramento, relato, verificação e redução de emissões robustos que abarquem todos os setores produtivos da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira.
Destaques para os setores:
Agropecuário:
“No agro, muitas das práticas sustentáveis fazem parte da Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que promove técnicas conservacionistas para mitigação da emissão de gases de efeito estufa e para captura de carbono no solo”, destaca Eduardo Bastos, diretor de Sustentabilidade da divisão agrícola da Bayer para a América Latina.
Florestas:
Energia:
"Esse é um momento para o Brasil reconstruir sua credibilidade internacional e ninguém melhor que o setor privado para levar essa questão ao governo e autoridades. O estudo que desenvolvemos nos mostra os benefícios econômicos e, consequentemente, sociais e ambientais que os mercados de carbono podem trazer para o Brasil", diz Gabriella Dorlhiac, diretora executiva da ICC Brasil.
Para a bp, esse estudo demonstra de forma muito clara o potencial do Brasil em se tornar o principal ator na jornada global rumo à neutralidade. “As oportunidades de redução de emissões oferecem ao país uma condição única de poder cumprir seus compromissos climáticos e também ajudar outros países e instituições a cumprirem os seus, captando recursos importantes para o desenvolvimento econômico, social e a preservação ambiental”, afirma Celso Fiori, Head de comunicação e advocacia da bp Brasil.
Para Denise Hills, diretora de sustentabilidade de Natura &Co Latam, essa é a oportunidade de colocar o Brasil em um papel de protagonista na agenda global de sustentabilidade e da economia de baixo carbono. "Mas isso depende do apoio a uma economia voltada para a conservação de biomas, avanços em direção à circularidade, além de incluir pessoas e comunidades que são essenciais na valoração da sociobiodiversidade”, afirma.