Voltz: o aporte fornece capital para a startup pernambucana abrir uma fábrica em Manaus em novembro (divulgação/Reuters)
Reuters
Publicado em 24 de maio de 2021 às 10h47.
Última atualização em 24 de maio de 2021 às 13h12.
A Creditas resolveu fazer uma grande aposta fora de sua área de produtos financeiros, injetando 95 milhões de reais na fabricante brasileira de motos elétricas Voltz, maior investimento já realizado pela fintech criada em 2012.
O investimento torna a Creditas, que se foca em um ecossistema ao redor do tripé "casa, veículo e salário"; em acionista relevante da Voltz, mas não majoritária.
O aporte fornece capital para a startup pernambucana abrir uma fábrica em Manaus em novembro, ampliar o número de lojas e criar o embrião de uma rede de recarga de baterias tendo como parceiro inicial o grupo Ultrapar, dono dos postos Ipiranga. A Ultrapar participa da rodada de investimento com aporte de 5 milhões de reais, elevando o total a 100 milhões.
"A gente poderia se dedicar aqui durante anos a desenvolver 150 produtos financeiros, do mesmo jeito que fazem os bancos digitais, mas não quero replicar o modelo bancário", afirmou o espanhol Sergio Furio, fundador e presidente-executivo da Creditas. Ele não quis dizer qual o tamanho da fatia da Creditas na Voltz e o valor estimado da montadora no aporte.
"Queremos criar um modelo de negócio que consiga ajudar as pessoas a gerenciar seus ativos e, no caso da moto, não quero estar em um modelo do passado, a combustão", disse o executivo. Ele disse acreditar que nos próximos 5 a 10 anos as motocicletas a combustão no país fiquem restritas apenas a uma participação de até 20% do mercado nacional, com o restante sendo ocupado pelas elétricas.
Furio referiu-se à estratégia da Creditas, que há duas semanas lançou uma operação de compra e venda de carros usados que inclui uma fábrica na região metropolitana de São Paulo, que recondiciona os veículos para revenda, em um formato similar ao operado pela startup Volanty.
"Percebemos que os clientes vão mudando suas necessidades... Se a gente não está nesta jornada, perde o cliente", disse Furio. Segundo ele, enquanto bancos digitais geram uma receita anual de 80 a 100 reais por cliente, as novas iniciativas da Creditas permitem um faturamento anual de 6 mil por cliente.
E para além do mero financiamento das motos elétricas da Voltz, a Creditas também aposta em um outro braço de negócio derivado da tecnologia: a de recarga de baterias.
No sistema vislumbrado pela Creditas e pela Voltz, estações de recarga de baterias serão instaladas nos postos Ipiranga. Mas em vez do usuário da motocicleta esperar pela recarga da bateria da moto, ele a deixa no ponto automatizado que entrega uma totalmente recarregada em substituição.
"A gente vislumbra um modelo de negócio que a gente vende e financia a moto e aluga a bateria. E a Creditas atuará como fornecedora de capital para comprar as baterias e alugá-las", disse Furio, citando ainda que a empresa pode montar um fundo de recebíveis baseado nas receitas de aluguel das baterias. A bateria representa cerca de 40% do valor da moto da Voltz.
O modelo de aluguel pode ser útil para usuários como entregadores por aplicativos, que em um dia podem precisar de mais quilometragem que os 120 quilômetros nominais da bateria da Voltz. A montadora fechou recentemente uma parceria com a gigante nacional de delivery de refeições iFood, que vai subsidiar parte do financiamento da moto aos entregadores.
Segundo o fundador e presidente da Voltz, Renato Villar, 33, o piloto da parceria com o iFood começa em junho e a expectativa é que a aliança atinja 10 mil motos por ano em que a Voltz venda as motos sem o custo adicional da bateria no preço do veículos, enquanto o proprietário aluga a bateria.
Villar disse que, antes de fechar o aporte com a Creditas, a Voltz conversou com grandes bancos sobre seu modelo de negócio para conseguir taxas menores para financiamento das motos.
A lógica da startup para buscar juros menores de financiamento está na tecnologia de telemetria embarcada nas motos e nas baterias, que reduz, segundo ele, riscos de inadimplência e roubo.
"Tentamos com alguns bancos, mas não deram muita bola para gente", brincou o executivo. "Para vender moto no Brasil, precisamos vender crédito e por isso construímos uma moto que consegue ser mais acessível", disse Villar. O preço do modelo EVS é de 17.900 reais, próximo do valor de uma Honda Twister, um dos modelos mais vendidos da montadora japonesa no país.
Villar afirmou que os recursos do aporte anunciado nesta segunda-feira serão suficientes para um ano e meio a dois anos de operações. Se o modelo de aluguel das baterias e pontos de recarga for bem sucedido, uma nova rodada de financiamento será necessária para expandir a rede, acrescentou.