Usina solar da CPFL, em Tanquinhos: Fonte eólica responde por 60% do portfólio de projetos da CPFL (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2014 às 14h00.
São Paulo - A diversificação da matriz energética é considerada um dos pilares do trabalho de mitigação de riscos dentro da CPFL Renováveis, por isso o próximo dia 31 de outubro é aguardado com ansiedade pela companhia. É a data prevista para a realização do leilão de energia de reserva (LER) 2014, quando, espera-se, será contratada energia dos primeiros grandes projetos fotovoltaicos do Brasil.
A CPFL Renováveis possui aproximadamente 500 MW habilitados para o certame, a maior parte associada a projetos solares.
Atualmente, a fonte eólica responde por aproximadamente 60% do portfólio de projetos da companhia. Pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e a biomassa respondem pelos outros 40%, de forma equânime. A energia solar não detém nem 0,01% da oferta total de 1.772 MW em operação, já que se restringe a um projeto piloto de 1,1 MW, instalado em Campinas (SP).
"Buscamos a diversificação geográfica e por fontes, dado que a competitividade das diferentes fontes é cíclica. As PCHs chegaram a ser mais competitivas, mas os preços atuais mudaram isso. Hoje vemos a energia eólica (mais competitiva), mas acreditamos que também podemos observar isso na solar", afirmou o presidente da CPFL Renováveis, Andre Dorf, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Para atrair os investidores, o governo federal estabeleceu em R$ 262/MWh o preço-teto para a energia gerada em projetos solares. O leilão também contará com projetos eólicos, cujo preço-teto ficou em R$ 144/MWh, e de biomassa, com preço-teto de R$ 169/MWh. Especialistas apostam na contratação de pelo menos 500 MW de usinas solares, além da demanda pela energia eólica.
O resultado do LER 2014 tende a contribuir para o processo de diversificação idealizado pela CPFL Renováveis. Dorf acredita que as energias solar e eólica ganharão participação no portfólio da companhia, em contraste à trajetória das PCHs. A fatia de biomassa não entra nessa conta, dado que os projetos são idealizados em parceria com potenciais fornecedores e os cronogramas seguem processo alheio à decisão exclusiva da geradora.
Expansão
Na semana passada, a CPFL Renováveis concluiu o processo de incorporação da Dobrevê Energia (Desa) e, com isso, adicionou 330,8 MW de capacidade contratada às suas operações. O portfólio chega a 5.874 MW após o acordo, dos quais 1.772 MW em operação, 335,5 MW em construção e 3.766 MW no pipeline de projetos.
Neste momento, quatro empreendimentos estão em fase de construção, sendo dois provenientes da Desa e outros dois da própria CPFL Renováveis, todos com prazo de conclusão entre 2016 e 2018. Há ainda dois projetos no Rio Grande do Norte, que aguardam conexão com a linha de transmissão, o que deve ocorrer até o final deste ano.
De acordo com Dorf, o plano de expansão da CPFL Renováveis pode seguir diferentes caminhos, seja em direção ao crescimento orgânico, seja com foco em novas fusões e aquisições. "Monitoramos o risco e o retorno de cada investimento, assim como nosso fluxo de caixa. A cada oportunidade, comparamos a atratividade no crescimento orgânico ou nas fusões e aquisições", explica o executivo.
Criada em 2011, a CPFL Renováveis já triplicou de tamanho. A companhia foi resultado da fusão da antiga Ersa, empresa liderada por um grupo de investidores como BTG Pactual e Pátria, com os ativos de energia renovável do grupo CPFL, e já chegou ao mercado com aproximadamente 650 MW de capacidade instalada. Desde então, adquiriu empresas e projetos, assim como firmou contratos de venda de energia gerada em novos empreendimentos.
A trajetória de crescimento, embora robusta, teve percalços, incluindo o atraso de projetos e a necessidade de comprar energia para honrar compromissos atrelados a esses ativos entre 2013 e o primeiro semestre de 2014. As últimas obras em atraso foram concluídas em maio passado.
"Tivemos que ir ao mercado comprar R$ 270 milhões em energia, um número que 'machuca' os resultados da empresa. Mas agora não precisamos mais comprar energia em função de atrasos de obras", salienta Dorf. A companhia amargou prejuízo de R$ 120,2 milhões no primeiro semestre.
"Também aproveitamos os primeiros meses do ano para ´arrumar a casa´ e revisar projetos e nossa estrutura", complementa o executivo. Com isso, a companhia se vê em melhores condições de capturar os ganhos dessas ações e as sinergias originadas na incorporação da Desa, principalmente a partir do primeiro semestre de 2015.
Chuvas
A estratégia de diversificação de fontes surge como um fator de proteção à CPFL Renováveis em um momento no qual geradores de grandes hidrelétricas sofrem com a falta de chuvas. Para evitar queda mais acentuada dos reservatórios, o Operador Nacional do Sistema (ONS) tem despachado as térmicas e limitado a operação das hidrelétricas. Essa estratégia contribui para o déficit médio estimado de aproximadamente 10% na geração hídrica de 2014.
A conta, nesses casos, é paga por todos que compõem uma espécie de condomínio de geradores. A CPFL Renováveis, contudo, tem exposição pequena ao risco provocado por esse déficit, dado que apenas 20% de suas operações estão associadas a PCHs. "Falamos de algo como 10% (de déficit) em 20% de nosso portfólio", dimensiona Dorf.
A falta de chuvas e o risco de continuidade do déficit hídrico em 2015 estimularam discussões na CPFL Renováveis sobre a manutenção de uma espécie de reserva de energia descontratada. A medida reduziria a necessidade de compra em momentos de déficit de geração. Não há, porém, um consenso a respeito do tema até o momento, explica o executivo.
Qualquer que seja a decisão sobre o tema, o efeito prático será percebido apenas em 2016, dado que a geração esperada para o próximo ano já está contratada e não há espaço para a criação de uma reserva.