Correios: "Vamos fazer o necessário para a empresa zerar prejuízo neste ano", disse o presidente da companhia (foto/Divulgação)
Reuters
Publicado em 4 de setembro de 2017 às 16h35.
Última atualização em 4 de setembro de 2017 às 16h58.
São Paulo - O Correios lança nos próximos dias um terceiro e mais flexível plano de demissão incentivada deste ano, enquanto busca reduzir custos com benefícios a empregados e adotar uma série de medidas administrativas para tentar evitar o terceiro ano consecutivo de prejuízos, disse o presidente da companhia.
Após ter desligado 6,2 mil empregados nas duas primeiras edições do programa, a empresa agora vai eliminar a exigência de idade mínima de 55 anos, abrindo a adesão a todos os empregados com ao menos 15 anos de casa. O público-alvo é de 5 mil pessoas.
"Vamos fazer o necessário para a empresa zerar prejuízo neste ano", disse Guilherme Campos em entrevista à Reuters.
Hoje com 108 mil empregados, a empresa enfrenta os resultados de anos de má gestão e expectativa de receita cadente, à medida que o serviço postal gradualmente perde espaço para outros canais de comunicação, como a telefonia móvel.
Após ter tido prejuízo anual da ordem de 2 bilhões de reais em 2015 e 2016, a estatal corre para reduzir drasticamente suas despesas e assim evitar ter que ser capitalizada pelo governo.
O Correios virou alvo de atenção do mercado após o governo federal ter anunciado há duas semanas um pacote de concessões e privatizações que inclui a Eletrobras, que também acumulou prejuízos bilionários nos últimos anos.
O governo federal já pensa em um novo modelo de gestão para o Correios, inclusive com a abertura de capital, segundo disse na semana passada o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab, confirmando notícia publicada pela Reuters.
Para Campos, no entanto, a empresa ainda precisa passar por ajustes importantes antes de ser levada a potenciais investidores. Parte do processo envolve a busca de opções para enfrentar uma potencial queda das receitas diante de mudanças que tornaram anacrônico o monopólio estatal na entrega de correspondências. A expectativa do executivo é de que a empresa tenha uma pequena queda na receita este ano em relação aos 19 bilhões de reais de 2016.
A queda se deve em parte ao novo acordo no Banco Postal, mas também a rápida decadência do sistema postal. Enquanto em 2012 o volume de objetos postais enviados por meio da empresa foi de 9 bilhões, para este ano esperam-se não mais 6,7 bilhões.
Já no lucrativo serviço de entregas de encomendas Sedex, o Correios tem enfrentado crescente concorrência, não apenas de empresas especializadas, mas de algumas grandes clientes, como varejistas, que têm investido em logística própria.
Segundo Campos, o Correios deve enfrentar um processo parecido com o de empresas postais em países como a Alemanha, que passaram a prestar uma variedade maior de serviços públicos.
"O modelo brasileiro de correios está pelo menos 10 anos atrasado em relação ao cenário internacional", disse Campos.
Para isso, o Correios tem discutido com outras esferas do governo federal a prestação de serviços como entrega de passaportes e pagamento de benefícios previdenciários.
Simultaneamente, a empresa negocia com o governo a redução de exigências de universalização do sistema, com o argumento de que o sistema postal já não é o principal meio de comunicação das pessoas, que usam mais o telefone celular.
Como alternativa, diz Campos, o Correios poderia ter representantes dentro de lojas de varejo, por exemplo. Seria um modelo parecido ao que o próprio Correios presta hoje dentro da parceria no Banco Postal, mas de forma reversa.
A redução de custo num sistema como esse seria brutal, diz Campos, dado que das cerca de 6,5 mil agências dos Correios pelo país, apenas cerca de 800 são lucrativas atualmente.
"Nós carregamos o peso da universalização", disse Campos.
A empresa está negociando parcerias com empresas privadas para ampliar fontes de receitas, que devem ser anunciadas nos próximos meses, disse Campos sem dar detalhes.
Não bastassem os problemas oriundos de um modelo de negócios decadente, neste ano o Correios enfrenta pressão adicional nas receitas, devido à remodelagem do acordo no Banco Postal, parceria que tem com o Banco do Brasil.
O acordo anterior, vencido em dezembro, previa que o BB pagasse ao Correios uma remuneração fixa maior. Sem interessados na última licitação para mais cinco anos, coube ao Correios topar uma proposta do BB de 36 meses baseada em remuneração mais variável.
Na prática, a receita que o Correios tinha com a parceria, que foi de 1,2 bilhão de reais em 2016, ficará ao redor de 200 milhões de reais neste ano.
Segundo Campos, essa receita sequer é suficiente para pagar os custos obrigatórios com vigilantes nas agências.
"Precisamos rever esse modelo; do jeito que está, o Banco Postal está fadado a sumir ou ser drasticamente reduzido", disse Campos.
Além da redução do quadro de empregados, a empresa também busca mediação com sindicatos no Tribunal Superior do Trabalho (TST) para reduzir gastos com plano de saúde.
Em 2015, essa linha custou 1,6 bilhão de reais, ano em que o Correios teve prejuízo de 2,1 bilhões de reais. No ano passado, plano de assistência médica custou 1,8 bilhão de reais à empresa, que teve um prejuízo de 2 bilhões de reais. Para este ano, a expectativa da empresa é de que essa linha consuma outros 1,9 bilhão de reais. O pacote de medidas que a empresa tentar implementar inclui transferir para os empregados os custos de assistência médica a dependentes.
O passo seguinte será emplacar um pacote de benefícios mais enxuto, reduzindo uma série de concessões que não estão previstas na CLT, como adicional de 70 por cento de férias e auxílio-refeição para 30 dias.
"Isso tudo é um escândalo", disse Campos. Ele calcula que as mudanças tragam economia anual ao redor de 1,4 bilhão de reais.
Todas as férias previstas para este ano foram adiadas. Cerca de 400 cargos de diretoria foram extintos.
A empresa também cortou 80 por cento dos valores destinados a patrocínios esportivos e zerou os voltados para cultura.