Plataforma de petróleo da Petrobras na Baía de Guanabara (André Motta de Souza/Agência Petrobras/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2020 às 07h00.
O coronavírus está derrubando a demanda de petróleo na China, segundo maior consumidor da commodity no mundo. Com isso, a Petrobras pode amargar uma redução das suas margens, uma vez que o país asiático responde por mais de 30% das exportações de petróleo do Brasil - no caso da petroleira estatal, esse mix gira em torno de 70%.
Segundo estudo divulgado pela consultoria especializada Wood Mackenzie, a queda estimada da demanda chinesa é de 250 mil barris por dia (bpd) nos três primeiros meses do ano, para 13 milhões de bpd. Se confirmado, seria o primeiro recuo na comparação anual desde 2009.
A retração da demanda irá se concentrar nos segmentos de querosene (de aviação), gasolina e diesel. Derivados de petróleo de uso industrial devem ter uma queda de consumo menos acentuada.
A China importa aproximadamente 9,2 milhões de bpd, de acordo com a consultoria. O mercado brasileiro fornece em torno de 600 mil a 650 mil bpd ao país asiático. “O Brasil deve redirecionar suas exportações para o Golfo do México, onde há competição com países como México e Colômbia, que também devem reorganizar seus embarques”, afirma Marcelo de Assis, chefe de pesquisa da Wood Mackenzie América Latina na área de upstream.
Ele explica que o óleo do pré-sal brasileiro, que é mais pesado e de composição menos nobre, é vendido normalmente com um desconto de cerca de 3 a 5 dólares por barril em relação ao Brent. Com a queda da demanda chinesa e consequente excesso de oferta no mundo, espera-se que o preço negociado por petroleiras que atuam no Brasil, como a Petrobras, tenha um desconto adicional de um dólar por barril.
Para o analista de petróleo e gás da Tendências Consultoria, Walter de Vitto, o impacto do coronavírus deve vir no curto prazo. A redução da demanda chinesa por petróleo seria da ordem de 170 mil bpd em dois meses, segundo estimativas da consultoria.
“Desde o início do ano, observamos uma ligeira queda dos preços, que se acentuou com o coronavírus. Esperamos que a demanda apresente recuo no primeiro trimestre, com acomodação à medida que a doença for controlada”, diz.
A cotação do Brent está na casa dos 54 dólares, mas se aproximou dos 70 dólares no início de janeiro, consequência de um ataque dos Estados Unidos ao aeroporto de Bagdá, que matou o general e herói iraniano Qasem Soleimani.
O arrefecimento do consumo de petróleo, resultado da degradação da demanda por setores que envolvem fluxos de pessoas e produtos - como companhias aéreas e exportadoras de commodities - deve resultar, ao menos no primeiro trimestre, em uma redução dos embarques da Petrobras. "Sem dúvida, os desdobramentos do coronavírus devem impactar o resultado da companhia no primeiro trimestre", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, lembra que as commodities em geral já estão sofrendo com o vírus na China. Mas no caso específico do setor de óleo e gás, a expectativa é que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) ajude o mercado global a se reequilibrar.
“No curto prazo, a Petrobras vai ser afetada pelo coronavírus, mas a tendência é que a Opep promova cortes na oferta para equilibrar os preços novamente."