Exercícios: academias aumentaram o número de dispensers de álcool em gel em áreas comuns (Reprodução/Thinkstock)
Karin Salomão
Publicado em 16 de março de 2020 às 17h28.
Última atualização em 16 de março de 2020 às 18h03.
Se as academias costumam ficar lotadas nos horários de pico, no início da manhã e no fim da tarde, com a pandemia do novo coronavírus o cenário é outro. A frequência caiu e, em alguns lugares, há recomendações do governo para o fechamento temporário das unidades, o que pode levar a uma queda nas receitas das redes fitness.
Para a redução do contágio, redes de academia estão criando medidas como a maior higienização dos espaços, redução da capacidade em aulas coletivas e até a disponibilização de aplicativos para a prática de atividades em casa.
Um decreto publicado pelo governo do Distrito Federal ontem proibiu o funcionamento de academias, assim como museus, no estado. Programações em cinemas, teatros e aulas em escolas e universidades já haviam sido restritos.
No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel fez um apelo a empresários para que fechem academias e restaurantes. Já em Salvador, na Bahia, o prefeito ACM Neto suspendeu aulas das redes municipal e particular e o funcionamento de cinemas e academias por 15 dias, a partir de quarta-feira, 18.
Segundo Leandro Caldeira, presidente no Brasil da empresa de saúde corporativa Gympass, que conecta academias a empresas que queiram oferecer o benefício, o impacto no setor é semelhante ao que já aconteceu na Itália e Espanha. "Quando o vírus chega em uma região, vemos diminuição na frequência e, em alguns casos, decretos proibindo o funcionamento das academias", diz ele.
De acordo com ele, os usuários podem optar por pausar ou cancelar o plano das mensalidades, o que pode levar a dificuldades nas receitas para as redes, mas o maior impacto é na queda de novas vendas nas regiões mais afetadas pelo vírus.
"O encerramento das operações é duro para nós", diz Filippe Savoia, presidente da Bluefit, rede de academias low-cost. Segundo ele, a rede também vem sofrendo com a redução nas novas vendas e matrículas. A taxa de cancelamento ainda não cresceu, porque as pessoas ainda estão aguardando mais informações sobre o desenvolvimento da epidemia, diz.
A rede deve sentir impacto nas finanças nas próximas semanas, já que alunos devem pedir compensação pelo fechamento compulsório das academias. "Estamos com caixa e saúde financeira para passar por isso, mas redes menores correm o risco de quebrar", afirma.
Diversas academias aumentaram o número de dispensers de álcool em gel em áreas comuns para reduzir o contágio do novo coronavírus.
Entre as medidas tomadas pela Bodytech, está o aumento da higienização das áreas e aparelhos. As academias no estado de São Paulo irão fechar uma hora mais cedo a partir de quarta-feira, às 22h, para receberem mais uma higienização diária. Além disso, semanalmente, haverá uma higienização especial de todas as áreas das academias da rede com máquina a vapor com temperatura de 148 °C.
Para evitar aglomerações, as empresas reduziram o limite de ocupação em aulas coletivas em até 50%. Na Velocity, a partir de amanhã, 17, estão liberadas apenas 50% das reservas em cada aula para garantir uma distância segura entre os alunos.
Como as aulas na rede de spinning são pagas individualmente ou por meio de pacotes, a validade dos pacotes comprados será prorrogada por mais 90 dias. Os cancelamentos tardios, feitos com menos de 24 horas de antecedência, não serão cobrados dos alunos e o crédito será devolvido para o aluno remarcar a aula.
As aulas e treinos também estão mudando. Em aulas com contato entre os alunos, como danças e lutas, a Bodytech recomenda que alunos e professores façam uma higienização com álcool em gel antes das atividades.
A rede também está alterando treinos para reduzir a rotação dos equipamentos. Para reduzir ainda mais o contato, a entrada nas academias da Bodytech pode ser feita apenas com a identificação do aluno na recepção, sem a leitura da digital. Na Bluefit, aulas de lutas foram suspensas.
Além dos alunos, funcionários também sentem o impacto da pandemia.
No caso da Bodytech, mais do que 80% dos funcionários recebem por hora. Mesmo com o cancelamento de algumas aulas, a rede irá manter o pagamento aos professores e funcionários. "Estamos estudando medidas junto às autoridades para encontrar o equilíbrio entre receitas e despesas com mão de obra, como talvez a antecipação de férias, mas nesse momento descartamos a chance de não pagar esses horistas", diz Luiz Carlos Urquiza, presidente do grupo Bodytech.
Se, por um lado, um melhor condicionamento físico reduz a contaminação, as academias podem ser ambientes lotados e de contato entre as pessoas, o que pode ser propício para a propagação do vírus.
Pensando nisso, a Gympass disponibilizou hoje uma plataforma digital que reúne diversos aplicativos de bem estar, como vídeoaulas, apps de meditação ou treinos, por exemplo. "O usuário já estava engajado em alguma atividade. Se fica em casa por algumas semanas, é muito difícil voltar ao ritmo", diz Caldeira.
A ferramenta já foi disponibilizada na Espanha e Itália. No Brasil, está sendo oferecida aos poucos, inicialmente em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal e, a partir de amanhã, no Espírito Santo e em Salvador. Entre os apps disponíveis na plataforma, estão NEOU, 8fit, Zen App e Tecnonutri. Academias que tenham aplicativos próprios podem integrá-los à ferramenta.
Um dos parceiros é a Bodytech, que também irá disponibilizar seu app BTFIT gratuitamente por duas semanas. “A ideia é que qualquer pessoa que queira treinar, em casa ou no parque, possa fazê-lo”, diz Urquiza.