Copersucar: saída de grupo usineiro segue-se a quebra dos laços comerciais de outras usinas com a comercializadora (DIVULGACAO)
Da Redação
Publicado em 13 de agosto de 2015 às 19h28.
São Paulo - A Copersucar, maior comercializadora de açúcar do Brasil, perdeu sem alarde o seu maior grupo usineiro em maio deste ano, o que destaca o aprofundamento da crise do setor que afeta um crescente número de usinas no maior produtor do mundo da commodity.
A saída do Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), um dos fundadores da Copersucar em 1959, segue-se a quebra dos laços comerciais de outras usinas com a comercializadora, o que aumenta as dúvidas sobre a estabilidade da empresa apenas um ano após a criação de uma joint venture para comercialização de açúcar com a gigante norte-americana Cargill.
A Copersucar, que ainda tem mais de 40 usinas de açúcar associadas, não corre o risco de falhar em cobrir seus contratos de entrega e disse que não comentaria a saída da GVO.
O presidente-executivo da GVO, Joamir Alvez, que assumiu o grupo em janeiro para reestruturar suas dívidas, disse à Reuters que a ruptura formal em maio foi amigável e aconteceu por causa das condições deterioradas de crédito no setor de açúcar e etanol do Brasil, mais do que qualquer problema relacionado ao acordo da Copersucar com a Cargill.
"Se não fosse pela nossa necessidade de gerar rapidamente fluxo de caixa para operar, ainda estaríamos com a Copersucar", disse Alves, falando por telefone de uma usina da GVO em Catanduva, uma das quatro que operam no Estado de São Paulo, maior produtor de cana do Brasil.
A Copersucar estende garantias para suas usinas associadas para ajudá-las a assegurar empréstimos bancários e, em troca, a operadora tem os direitos exclusivos de vender 100 por cento do açúcar e do etanol das usinas. Porém a GVO atingiu os limites de garantias que a Copersucar poderia oferecer, disse Alves.
"Os bancos apertaram seus requisitos para usinas após o default da Aralco (uma das que deixou a Copersucar)", que aconteceu no início de 2014, ele disse.
"Nós precisávamos de dinheiro rapidamente e a Copersucar não poderia fazer isso por nós." Então, a GVO, assim como muitas usinas do Brasil estão entregando açúcar e etanol no mercado à vista tão rápido quanto podem cortar a cana.
A saída da GVO da Copersucar ressalta a situação da maior parte das quase 320 usinas de cana endividadas do Brasil. A GVO teve problemas, como muitas outras, após investir demais no boom do etanol no Brasil entre 2007 e 2009, apenas para ver suas apostas esmagadas pela política brasileira de subsidiar os preços da gasolina, visando um controle da inflação.
As usinas se seguraram por algum tempo maximizando a produção de açúcar, que ainda oferecia retorno, mas, como o Brasil é o maior produtor mundial de açúcar, um excesso de muitos anos na oferta rapidamente se seguiu e está durando até hoje.
Embora mais de 100, do que já foram mais de 400, usinas tenham fechado as portas ou entrado em recuperação judicial nos últimos oito anos, a provável morte de mais usinas está se desdobrando atualmente ao longo da região produtora de cana.
O real teve uma depreciação de quase 40 por cento frente ao dólar ao longo do ano passado, inflando títulos em dólar sem hedge que a GVO e outras usinas tinham lançado.
Ao mesmo tempo, está levando os preços globais do açúcar ainda mais para baixo. "A desvalorização do real impactou a capacidade da companhia de pagar suas dívidas denominadas em moedas fortes," disse Alves, adicionando que a GVO parou com o pagamento de seus títulos esperando por novas negociações com os detentores dos papéis.
"Este aspecto será profundamente discutido" nas negociações. Até o momento, Alves tem conseguido manter a GVO operando através de negociações extra-judiciais com bancos, além de obter de fornecedores a suspensão de pagamentos por duas ou três safras.
Os detentores de títulos rejeitaram a proposta de Alves de trocar dívida por equity e uma nova injeção de caixa.
A GVO parou com os pagamentos de aproximadamente 600 milhões de dólares em títulos sem garantias e espera reabrir as negociações com os detentores de títulos.
O grupo espera produzir 350 mil toneladas de açúcar e 590 milhões de litros de etanol nesta temporada.