Joaquim Leite, ministro do Meio Ambiente: mudança de postura em relação à COP passada aproxima Brasil de um acordo (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Rodrigo Caetano
Publicado em 10 de novembro de 2021 às 07h30.
Última atualização em 10 de novembro de 2021 às 09h00.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, afirmou na noite desta terça-feira, 9, -- e voltou a dizer na manhã desta quarta-feira, 10 -- que o Brasil está trabalhando de forma colaborativa para chegar a um consenso sobre a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, principal pauta da COP26, a Conferência do Clima da ONU, realizada em Glasgow, na Escócia.
A postura é bem diferente da adotada na última COP, em 2019, em Madri, quando o país foi apontado como o motivo para a falta de acordo.
Na ocasião, sob comando do ex-ministro Ricardo Sales, o Brasil foi intransigente na questão do “ajuste correspondente”, parte do livro de regras que estabelece um padrão de contabilidade para o carbono comercializado entre países.
A divergência se dava na questão da dupla contagem. O Brasil defendia que o carbono comercializado poderia contar para a própria meta (NDC), já os europeus queriam que os créditos vendidos fossem retirados da NDC. A posição europeia, que faz mais sentido, deve prevalecer.
Leite, que é o chefe da delegação, afirmou que esse nunca foi um problema, na realidade. “A questão é sobre como fazer a transição para o novo mercado global de carbono”, disse o ministro.
Há ainda outro ponto que preocupa o Brasil, que é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), padrão usados atualmente nos mercados de carbono regulados. Muitas empresas brasileiras possuem projetos baseados em MDLs, e será preciso definir uma regra para levar esses créditos ao novo mercado.
Outra mudança no posicionamento brasileiro diz respeito ao financiamento. Na COP passada, Sales vinculou o atingimento de metas de desmatamento e descarbonização a financiamento dos países desenvolvidos.
Leite adota um discurso contrário, dizendo que o dinheiro prometido pelos países ricos deve financiar nações mais pobres que o Brasil.
Mesmo assim, a questão dos recursos para financiar a transição energética nos países em desenvolvimento é um ponto de desgaste entre o Brasil e os demais negociadores. Isso porque o país tem se colocado como “líder dos pequenos”, pedindo um esforço maior por parte dos desenvolvidos.
Países pobres querem que 2% de toda transação de carbono no mercado regulado seja destinado ao Fundo de Adaptação Climática, o que, provavelmente, chegaria a valores na cada do trilhão. Os países ricos sinalizam com algo na casa da centena de bilhão.
No Acordo de Paris, ficou acertado que, a partir de 2020, os países desenvolvidos repassariam 100 bilhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento. “Esse dinheiro não será suficiente”, disse o ministro. “Já vi estimativas que falam de 700 bilhões, outras que falam de 1 trilhão”.
EXAME na COP
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) é um tratado internacional com o objetivo de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.
Uma das principais tarefas da COP é revisar as comunicações nacionais e os inventários de emissões apresentados por todos os países-membros e, com base nessas informações, avaliar os progressos feitos e as medidas a ser tomadas.
Para além disto, líderes empresariais, sociedade civil e mais, se unem para discutir suas participações no tema. Neste cenário, a EXAME atua como parceira oficial da Rede Brasil do Pacto Global, da Organização das Nações Unidas.