(Klaus Vedfelt/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 16 de outubro de 2020 às 15h15.
Última atualização em 16 de outubro de 2020 às 16h17.
Nas últimas semanas, a pauta de equidade racial nas empresas tomou conta das redes sociais após o anúncio de vagas exclusivas para pretos e pardos nos programas de trainee das empresas Bayer e Magazine Luiza. A iniciativa, porém, já era feita anteriormente por uma pequena parcela de companhias no Brasil. Nas com mais experiência, ficou provado que além de contratar é preciso gerir políticas para incluir de fato e colher resultados sólidos, como no caso da companhia de saneamento Aegea, que tem 62,5% de negros no quadro de funcionários.
Em 2017, quando a companhia lançou o programa O Respeito Dá o Tom, o objetivo era promover a equidade nas oportunidades de acesso e de crescimento profissional. Desde então, a empresa investiu 2,5 milhões de reais no programa, assumiu um compromisso com o Instituto Identidades do Brasil, treinou os funcionários em vieses inconscientes com vídeos que mostram, por exemplo, o preconceito carregado em imagens com brancos e negros exercendo as mesmas funções.
“É um programa vivo que precisa o tempo todo ouvir os colaboradores, a sociedade civil e as consultorias, e fazemos ele diariamente há três anos”, diz Beatriz Ferreira Raimundo, responsável pelo programa de Diversidade e Igualdade Racial na Aegea Saneamento.
Na companhia a preocupação com a equidade está em todo lugar, inclusive em cartazes nas lojas de atendimento aos clientes e nas salas do escritório. Já no WhatsApp, toda segunda-feira são enviadas mensagens que apontam palavras de conotação racista, seguidas de explicações de como não usá-las. "Ciclos de conscientização acontecem o tempo todo. Não se pode falar do tema apenas na Semana da Diversidade ou no Mês da Consciência Negra e exigir mudanças efetivas".
A pauta acontece em três pilares: empregabilidade, desenvolvimento e relacionamento. Um dos resultados de empregabilidade foi a contratação de 75% de negros no programa de trainee de 2019 depois de ir atrás proativamente dos jovens ao realizar conversas em universidades distintas. Com o desenvolvimento, os profissionais são acompanhados para ocupar cargos de liderança.
Quanto mais conscientização, mais as pessoas se sentem seguras no ambiente, e de fato são protegidas pela alta liderança. Por duas vezes, a Aegea orientou seus funcionário a se defenderem e processarem clientes por casos de racismo nos pontos físicos de atendimento nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
"Infelizmente por causa de práticas de injúria racial que ocorreram em nossas lojas de atendimento, definimos um procedimento interno na condução da tratativa, resguardando a integridade de nossos colaboradores", afirma Raimundo. Nestes dois momentos, os funcionários contaram com suporte para registro do boletim de ocorrência, acompanhamento jurídico e psicológico.
Para Daniel Teixeira, diretor de projetos do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, as empresas que começam um trabalho de afirmação da equidade racial devem entender a importância da continuidade.
Sem o respeito e a inclusão é perigoso haver um efeito reverso caso a empresa não adote uma postura antirracista. "É muito perigoso improvisar algo superficial pela moda, sem consistência é provável ainda que os contratados não se sintam parte da cultura da empresa e gerem um resultado negativo", diz.
Como positivo, sabe-se que empresas com maior diversidade étnico-racial entre os executivos conseguem um desempenho financeiro, em média, 33% melhor em comparação com o de suas concorrentes. Na América Latina, esse percentual é de 24%, segundo a consultoria McKinsey.