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O show de horrores que a nova direção encontrou na Via Varejo

Foram compradas 20 mil cadeiras novas: “nossos funcionários não tinham sequer cadeira para sentar e negociar com nossos clientes”, afirmou o presidente

Via Varejo: Os resultados do terceiro trimestre, apresentados ontem, 13, também não foram positivos (Exame/Exame)

Via Varejo: Os resultados do terceiro trimestre, apresentados ontem, 13, também não foram positivos (Exame/Exame)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 14 de novembro de 2019 às 19h00.

Última atualização em 15 de novembro de 2019 às 13h57.

Normalmente centrada em lucro, margem e estratégias de longo prazo, a conferência com analistas da diretoria da Via Varejo nesta quinta-feira tratou de temas mais simplórios. Em tempos de super aplicativos e integração multicanais, a diretoria da empresa, dona de Casas Bahia e Ponto Frio, explicou a enxurrada de reformas básicas que precisou realizar desde que assumiu o comando, em julho. 

Cerca de 600 lojas estavam com aparelhos de ar condicionado quebrados e havia sete mil computadores velhos com mais de 10 anos em uso, cuja velocidade baixa atrapalhava o atendimento ao consumidor.

A companhia renovou a fachada de 200 lojas para ampliar a exposição da marca e selecionou mais de 400 lojas para reformas mais profundas. Foram compradas 20 mil cadeiras novas. “Nossos funcionários não tinham sequer cadeira para sentar e negociar com nossos clientes”, afirmou Roberto Fulcherberguer em entrevista a Exame.

O curto prazo é sombrio. Os resultados do terceiro trimestre, apresentados ontem, 13, estão longe de ser positivos. A varejista apresentou seu quinto trimestre seguido no vermelho. O faturamento caiu 10,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, e o prejuízo triplicou, para 244 milhões de reais, enquanto a margem operacional encolheu de 6,6% para 4,3%.

A companhia ainda enfrenta a pressão de uma investigação de fraude contábil. A investigação foi informada pelo site Suno Notícias, e confirmada pela empresa em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Via Varejo informa que, até agora, não encontrou nenhum registro de irregularidade em seus balanços.

Apesar das dificuldades, o otimismo perdura. “Tudo o que estamos fazendo, das melhorias na operação online, reforma de lojas e treinamento dos 20 mil funcionários, deve se refletir nos trimestres seguintes, no médio prazo”, afirmou Fulcherberguer

Não é possível dizer que os atuais donos e diretores desconheciam a situação da companhia. Antes de se tornar presidente, Fulcherberguer atuava no conselho da Via Varejo. Já Michael Klein, atual presidente do conselho, se manteve como sócio minoritário enquanto a empresa estava sob o comando do Grupo Pão de Açúcar de 2009 a 2019. Agora, com mais atuação operacional, a nova equipe tem diversas tarefas de melhoria pela frente.

 

Queima de estoque

Uma ineficiência que pesou nos resultados do trimestre foram os níveis de estoque da Via Varejo. No último ano, a companhia diminuiu o estoque em 1 bilhão de reais, em vendas “praticamente a preço de custo” para reduzir o giro do estoque, o tempo entre a compra e a venda de um item, de 114 para 101 dias. 

Ainda há espaço para reduzir esse nível ainda mais, acredita o executivo, e grande parte dessas vendas deve ser feita durante a Black Friday. Ao vender esses itens a preços promocionais, a empresa teve margens mais apertadas: a queima de estoque prejudicou em 3 pontos a margem bruta, que foi de 30,7% no trimestre.

Tecnologia instável

As operações digitais das marcas Casas Bahia e Pontofrio, antes divididas na Cnova, começaram a ser integradas em agosto de 2016, quando a Via Varejo incorporou o negócio. A integração completa do estoque, porém, não havia sido feita até o dia 1° de julho deste ano. Mesmo então, o sistema digital começou a enfrentar instabilidades. Por risco de não conseguir entregar os produtos, a companhia reduziu as vendas de seu site e ampliou as vendas de parceiros pelo marketplace, o que prejudicou suas receitas. 

O sistema também sofreu instabilidades no ano passado, na época da Black Friday. “A empresa sofreu no período pós-venda. Demorou meses para entregar todas as compras e houve produto que sumiu”, afirmou Fulcherberguer tem teleconferência com analistas.

O próximo teste de fogo é a Black Friday deste ano, que acontece no fim de novembro. “Estamos confiantes de que faremos uma excelente Black Friday”, diz o presidente. Cerca de 47% das vendas são entregues em até 48 horas normalmente e o plano é entregar todos os pedidos em até uma semana. 

Além das mudanças no sistema, os caminhões ficaram mais cheios. Antes destinados apenas a entregas na casa dos clientes ou ao abastecimento de lojas, os veículos passaram a ser usados para as duas funções. As lojas, antes abastecidas apenas uma vez por semana, passaram a receber novos produtos cinco vezes por semana. A nova velocidade também será uma vantagem na data promocional.

Concorrentes

Enquanto a Via Varejo resolve problemas básicos de loja e operação digital, os concorrentes avançam. O Magazine Luiza, por exemplo, passou a valer seis vezes mais que a rival na bolsa. Com três trimestres de bons resultados, a concorrente dobrou de valor este ano na bolsa, e anuncia esforços para a criação de um super aplicativo. "Não tivemos tempo para um grande plano", afirmou Fulcherberguer na teleconferência desta quinta-feira, ao apresentar o projeto de transformação da companhia.

Tanto o Magazine quanto a B2W, da Americanas.com, avançam na oferta de serviços financeiros, com o Magalu Pagamentos e o banco digital Ame, respectivamente. Já a Via Varejo decidiu pausar a expansão de seu banco digital Banqi para focar na operação de Black Friday. No fim do ano, a companhia deve anunciar novidades para a divisão financeira. 

Os investidores da Via Varejo, aparentemente, estão pagando para ver: mesmo com as investigações de irregularidades de ontem, as ações da empresa subiram 8% hoje. Para os investidores, os ajustes operacionais, as cadeiras e os computadores trocados dão bons sinais sobre o futuro da empresa, apesar do prejuízo de 244 milhões de reais. 

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