Sisodia no Pão de Açúcar: sonhando com empresas onde todos gostem da segunda-feira (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2011 às 18h06.
São Paulo - Abilio Diniz, dono do Pão de Açúcar, tem um novo guru. O consultor indiano Raj Sisodia está no Brasil desde a metade da semana conhecendo lojas e conversando com membros do grupo. O livro Firms of Endearment (em português, "Os segredos das empresas mais queridas", sem edição no Brasil), do qual ele é co-autor, foi apresentado à Abilio Diniz pelo seu outro mentor, Jim Collins.
Como todo guru, Sisodia também tem sua cota de ideias polêmicas e declarações fortes. Uma delas é que os executivos devem pensar menos no dinheiro que ganham, e mais em encontrar um propósito para suas empresas – algo que faça as pessoas sentirem falta delas, caso deixem de existir.
Sisodia conversou com EXAME.com nesta sexta-feira, antes de dar uma palestra para cerca de 400 funcionários do Grupo Pão de Açúcar, entre gerentes e diretores. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:
EXAME.com - O que o senhor já sugeriu ao Pão de Açúcar nesta visita?
Sisodia - É minha primeira visita ao grupo, e é cedo para falar sobre isso. Acho que é uma companhia progressista, com forte liderança. Mas, pensando, no futuro, a empresa tem muitas diferentes culturas, em decorrência das aquisições que realizou. Um dos desafios é criar uma cultura única e, em segundo lugar, como são muitos funcionários, comunicar esses valores para todos eles. E depois pensar no propósito da empresa: “o que aconteceria se sumíssemos? as pessoas sentiriam nossa falta?”
EXAME.com - Qual é o primeiro passo para ser uma empresa querida?
Sisodia - O principal é ter um propósito maior. Depois de a empresa saber qual é seu propósito, ela precisa de funcionários que se importem com esse propósito. Não é só dinheiro. A satisfação com o trabalho importa muito. Depois você deve criar valor para todas as pessoas envolvidas. Se você não tiver os líderes certos, não vai achar o propósito certo. Está tudo interconectado.
EXAME.com – O senhor citou Google, Starbucks e Whole Foods como exemplos de empresas queridas. Por quê?
Sisodia – “Empresas queridas” significa empresas amadas. Não adoradas, mas amadas. Se essas empresas sumissem, as pessoas sentiriam que elas realmente morreram. Veja a Southwest Airlines, o símbolo deles na bolsa é LUV (parecido com a palavra amor na língua inglesa). Eles tem líderes conscientes, que se importam com as pessoas, não tanto com lucro e poder. A cultura é baseada em amor, cuidado, confiança, transparência, integridade e compartilhamento do poder. Além disso, essas empresas não só criam bem estar e felicidade para os stakeholders, mas são muito melhores para os investidores. Em dez anos, algumas empresas tiveram desempenho nove vezes melhor que outras que não seguiam isso.
EXAME.com – As empresas conseguem ser queridas também pelos funcionários?
Sisodia - As empresas de alta performance tradicionais tem elevados níveis de stress, todo mundo trabalha 20 horas por dia, as pessoas sofrem enfartos... Não precisa ser assim. O trabalho pode ser divertido. Há um pensamento muito forte nos Estados Unidos, o TGIF (Thank God, It’s Friday – graças a Deus, é sexta-feira). Por que as pessoas agradecem a Deus por ser sexta-feira? Porque elas odeiam o trabalho delas. Depois vem o domingo à tarde e começa o mal-estar. Na segunda-feira, estatisticamente, é o momento em que há mais enfartos, por causa do domingo à noite. Nosso trabalho está nos matando e não temos que viver assim.
EXAME.com – Então uma empresa deve ser querida por todos: funcionários, donos, fornecedores?
Sisodia - Começamos com o marketing, mas não é só sobre o marketing. Quando você controla um negócio assim e trata todos com respeito e amor você tem o beneficio do boca a boca. Quando você faz a coisa certa num negócio, baseia-se em amor, todos vão querer seu sucesso. Você não vai precisar de gerentes dizendo às pessoas o que fazer e se certificando de que eles estão trabalhando, todos já estarão fazendo suas coisas. Você economiza. As pessoas no topo não concentram tanto as receitas, eles não ganham milhões, ganham menos e as pessoas da frente do negócio podem receber salários melhores. As pessoas no topo são bem sucedidas, mas não super-pagas.
EXAME.com - Como convencer os executivos a ganhar menos?
Sisodia - Você quer os líderes que se importem com o propósito do negócio. Se você só usa o dinheiro para atrair líderes, você vai atrair líderes que só querem mais dinheiro. Você quer pessoas que realmente se importem com o negócio, que sejam apaixonadas por ele, que não queiram ter mais dinheiro do que conseguem usar. É como comida, tem uma hora em que você fica satisfeito. O dinheiro não torna as pessoas mais felizes. Essas pessoas são mais maduras, percebem que a satisfação não vem da busca do próximo milhão de dólares.
EXAME.com - É fácil encontrar esse tipo de pessoa?
Sisodia - Hoje em dia sim. Hoje, há pessoas que não se importam tanto com o salário; elas querem trabalhar numa empresa que faça boas coisas para o mundo. O ser humano está olhando para a vida de forma diferente, procurando sentido e propósito. “Qual será meu legado? Como será vida dos meus filhos e netos? E dos netos dos outros?” As pessoas pensam cada vez mais nisso.
EXAME.com - O Abilio Diniz usa muito o twitter, conversa com seus seguidores, respondeu a perguntas deles por vídeo. Como o senhor vê esse tipo de interação?
Sisodia - É ótimo. É uma nova forma de marketing, é uma conversa, as pessoas criam uma comunicação real. Cria uma imagem para o negócio. O líder da empresa se comunica com os consumidores e também com os funcionários. O mundo está caminhando para um lugar em que as boas companhias se beneficiam de toda a interação. E todo mundo sabe o que acontece. Todas as empresas tem paredes de vidro, tudo o que acontece dentro aparece fora. Se você faz boas coisas, ótimo. Se faz coisas ruins, elas vão aparecer.