Yvon Chouinard, fundador da marca esportiva Patagonia: doação de empresa de US$ 3 bilhões (Ben Gabbe/Getty Images)
Longe de chamarem a atenção apenas por seus patrimônios, alguns bilionários despertam a curiosidade por seus costumes excêntricos. É o caso de Yvon Chouinard, 83, fundador da marca de roupas esportivas Patagonia, que leva uma rotina simples, dirige um carro velho e sequer tem um computador ou celular.
Fundador e proprietário da marca de roupas esportivas, o alpinista e bilionário decidiu colocar um ponto final na companhia ao doá-la para a caridade.
A decisão de abrir mão da empresa cinquentenária foi apenas o capítulo adicional em uma história pessoal baseada em escolhas humildes, o mínimo de luxo e uma jornada ativista que inclui concessões de lucro corporativo e batalhas judiciais com o governo americano pela preservação ambiental.
Nascido em 1938 no Maine, norte dos Estados Unidos, Yvon Chouinard se mudou para a Califórnia em 1946. Aos 14 anos, ao entrar em um clube de falcoria, descobriu a paixão pelo montanhismo.
Com uma dose de coragem, passou a fabricar seus próprios equipamentos de escalada como um hobby. Anos depois, ao lado de um amigo, fundou a sua primeira empresa no ramo, a Chouinard Equipment, que se tornou uma referência no mundo da escalada.
Foi durante uma viagem à Escócia que Yvon Chouinard teve seu primeiro contato com o mundo do vestuário. Lá, comprou uma camiseta de rúgbi para usar durante uma escalada, pois o tecido protegia o pescoço do atrito das cordas e permitia que ele pendurasse alguns equipamentos.
De volta aos Estados Unidos, a ideia atraiu a atenção de outros praticantes do esporte. Foi quando Chouinard passou a importar as peças e entrou de vez no ramo de roupas.
Em 1973, nasceu a Patagonia, companhia hoje avaliada em US$ 3 bilhões.
Durante sua época de alpinista, Chouinard morava em seu carro e comia latas danificadas de comida de gato que comprava por cinco centavos cada, relatou o executivo ao NYT.
Hoje, mesmo detentor de um patrimônio que ultrapassa US$ 1 bilhão segundo o ranking da Forbes, ele prefere roupas usadas, dirige um antigo Subaru e divide seu tempo entre duas casas modestas — nada de mansão. Chouinard também não tem computador ou celular.
Ao abominar o próprio status de riqueza, Chouinard viu-se, durante décadas, diante da contradição imposta pelo sucesso incontestável da empresa que havia criado. Em entrevista ao The New York Times, o executivo afirma que a presença na lista de bilionários da Forbes "o irritou".
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Com mais de meio século, a Patagonia foi fundada em 1973 por Chouinard sob uma perspectiva humanista, fazendo do (ex) bilionário um dos principais nomes à frente do capitalismo consciente, movimento que busca conscientizar empresas sobre a geração valor que extrapola o aspecto financeiro.
A empresa vinha desde a fundação apoiando revoluções em favor de uma moda mais consciente, abdicando de matérias-primas poluentes e contrariando a lógica da substituição rápida de peças. Foi uma das primeiras marcas de vestuário, por exemplo, a usar apenas algodão orgânico.
Em 2011, a companhia causou alvoroço ao publicar um anúncio durante uma campanha de Black Friday incentivando consumidores a "não comprar" produtos da marca, numa tentativa de conscientizá-los sobre o consumo desenfreado. Além disso, a empresa também da 1% de todo o lucro para ativistas ambientais desde 1985.
Chouinard chegou até mesmo a processar Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e o governo americano, em prol da proteção do Bears Ears, um monumento nacional público.
Políticas de incentivo à chamada "desobediência civil" também eram comuns na companhia. Há anos a Patagonia mantinha diretrizes de apoio financeiro (como o pagamento de fiança) para todos os funcionários que decidissem protestar pacificamente pelo ambiente ou causas sociais.
A Patagonia também oferece um programa de estágio ambiental que remunera, por dois meses, funcionários que decidam abandonar suas posições para trabalhar temporariamente em algum grupo ambiental.
O incômodo se tornou gritante nos últimos dois anos, quando Chouinard passou a buscar por alternativas para diluir seu patrimônio líquido. Em última instância, ele havia considerado até mesmo vender a empresa. Abrir o capital, porém, nunca foi uma opção.
O executivo não acreditava que a companhia seria capaz de cumprir com as diretrizes ambientais e sociais como uma companhia pública. "Eu não respeito o mercado de ações", disse ao NYT. “Uma vez que você se torna público, você perde o controle sobre a empresa e precisa maximizar os lucros para o acionista, e então se torna uma dessas empresas irresponsáveis.”
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