Vivo: operadora passa agora a ser controlada pela espanhola Telefônica (.)
Tatiana Vaz
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
São Paulo - Uma das mais renhidas disputas do mundo dos negócios dos últimos tempos terminou nesta quarta-feira (28/7). Finalmente, a Telefônica chegou a um acordo para comprar a fatia da Portugal Telecom na Vivo. Em comunicado à bolsa de Madri, a operadora informou que pagará 7,5 bilhões de euros pelo negócio. Para os analistas, isso libera os espanhóis para o próximo passo: fundir a Vivo com a Telesp.
Como a Telesp é uma empresa lucrativa, e a Vivo possui créditos fiscais da ordem de 3 bilhões de reais, o esperado pelos analistas é que a Vivo incorpore a Telesp, a fim de não perder os benefícios fiscais. Com base nos balanços do ano passado, a nova empresa nasceria com receita líquida de 30,7 bilhões de reais (16,4 bilhões oriundos da Vivo e 14,3 bilhões da Telesp).
Se estivessem juntas em 2009, seu ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) teria sido de 11 bilhões de reais (5,2 bilhões da Vivo, mais 5,9 bilhões da Telesp). O lucro líquido seria de 2,9 bilhões de reais. Tudo isso, sem considerar as sinergias, calculadas pela Telefônica em 2,8 bilhões de euros.
Passariam, para a nova empresa, os mais de 53 milhões de assinantes de telefonia móvel com os quais a Vivo encerrou 2009 - e que lhe garantiram a liderança do setor. A companhia também herdaria, da Telesp, os 11,193 milhões de linhas fixas, os 3,573 milhões de assinantes de serviços de internet rápida, e os 470.000 clientes de TV paga.
Convergência
"Juntas, as duas poderão oferecer serviços de convergência de telecomunicações, além de fazer investimentos mais robustos e concentrados em infraestrutura para a melhoria dos sistemas de ambas", afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Para a analista Kelly Trentin, da Spinelli Corretora, a banda larga e o serviço de dados são os segmentos que mais podem crescer. "A Telefônica, associada à Vivo, deve investir nesse setor com mais força, oferecendo bons pacotes de dados."
Para se ter uma ideia, a empresa seria maior que a hoje líder em faturamento Oi, cuja receita líquida foi de 29,9 bilhões de reais no ano passado. Mesmo a reestruturação promovida pelo bilionário mexicano Carlos Slim em seus ativos de telecomunicações, que deve culminar na união da Embratel com a Claro aqui no Brasil, teria criado uma companhia com receita de 13 bilhões de reais em 2009.
"Assim, ela poderá competir com a Oi, que é a operadora que melhor trabalha numa variedade de serviços como voz, banda larga e TV", diz Eulalia Marín-Sorribes, da consultoria inglesa IHS Global Insight.
Mais serviços
Com a junção, a Vivo terá um leque de serviços mais amplo com a oferta, por exemplo, de promoções e pacotes em ligações interurbanas – serviço que a deixava em desvantagem perante os concorrentes. Já a Telefônica poderá entrar fortemente na área de banda larga, tanto em melhora de serviço quanto capilaridade de oferta, coisa que a companhia não conseguia com a oferta do Speedy limitada ao estado de São Paulo.
"Mas não creio que isso irá ter um forte impacto para a concorrência", diz Arthur Barrionuevo, professor especialista em telecomunicações da FGV-EAESP. "Apenas no estado paulista isso poderá acontecer, caso a Telefônica passe a oferecer pacotes que incluem serviço de voz fixa, móvel, internet banda larga e TV por assinatura por preços bem competitivos".
Porém, todas essas mudanças podem trazer desvantagens aos consumidores em relação à qualidade dos atendimentos prestados pela companhia, na opinião de Virgílio Freire, consultor e especialista em telecomunicações.
"Acredito que o atendimento ruim que a Telefônica presta aos seus clientes deve contagiar aos poucos a maneira da Vivo lidar com os clientes", diz o consultor. Aos poucos, segundo ele, isso deve causar um impacto negativo na quantidade de assinantes da operadora. "Nos próximos cinco anos, a Vivo deve perder participação de mercado por conta disso". Em meio à forte consolidação do setor de telefonia, este seria um luxo ao qual a Telefônica não poderia se dar.