Jeferson Braga, CEO da Own Time Home Club: a falta de turistas diminui as vendas de parcelas da propriedade (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de agosto de 2024 às 17h38.
Última atualização em 26 de agosto de 2024 às 17h40.
O negócio da gaúcha Own Time tinha uma estratégia bem definida e certeira para vender.
A empresa trabalha com multipropriedade, um segmento imobiliário em que o cliente compra uma parte de um imóvel, e pode usar por um período do ano. Nesse caso específico, a venda é de uma fração de um condomínio de luxo em Gramado, a cidade mais buscada por turistas do Brasil. E a “receita mágica” é vender essas frações para os turistas de todo país enquanto eles visitam o município. Representantes do negócio ficam nas portas de hotéis de luxo ou em locais estratégicos e oferecem o serviço.
Imagine, então, como a operação foi impactada quando, de um dia para outro, os turistas sumiram de Gramado.
As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no fim de abril e início de maio paralisaram a operação da principal porta de entrada de turistas no Estado: o aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre. Como um efeito em cadeia, a ocupação e a movimentação em Gramado despencou.
Em maio, a Own Time vendeu apenas 20% da meta do mês. Nos meses seguintes, foram 50% da meta. Agora, começam a se recuperar com uma mudança de estratégia: vender também para os gaúchos -- até então, apenas 25% dos clientes eram locais --, e intensificar a divulgação online.
Por causa disso, e pelo sucesso de vendas (80% dos apartamentos do condomínio já foram comercializados), a Own Time espera faturar cerca de 60 milhões de reais em 2024. Se conseguir crescer novamente, será o terceiro ano seguido de aumento de receitas. Os dois últimos, atestados pelo ranking EXAME Negócios em Expansão, o maior anuário de empreendedorismo do país.
A Own Time entrou na última edição do ranking com um faturamento de 24,9 milhões de reais em 2023, crescimento de 125% em relação a 2022. Com isso, ficou na 31ª posição na categoria de 5 a 30 milhões de reais.
“Devemos mais do que dobrar de tamanho de novo, mas por causa das enchentes, será um valor cerca de 20% menor do que esperávamos”, diz Jeferson Braga, CEO da Own Time.
As obras também atrasaram um pouco por causa das chuvas, mas já se regularizaram. As expectativas é que o condomínio de luxo seja entregue até o final do ano que vem.
O condomínio Own Time Home Club Gramado está localizado dentro de um bosque de 36.000 metros quadrados no centro de Gramado, a 250 metros da Rua Coberta, um dos principais pontos turísticos da cidade, e combina uma arquitetura de montanha -- que usa elementos naturais, como madeira, ferro e pedra -- com conforto e serviços de hotelaria.
São 24 casas de 3 e 4 suítes (325,17m2 até 448,60m2), com dois pavimentos, lavabo, área externa com deque de madeira, churrasqueira e forno de pizza, e apartamentos com uma suíte de 57 a 65 metros quadrados, todos com spa ou banheira.
Cada residência poderá ser compartilhada por até 26 compradores, que adquirem uma fração de tempo de, no mínimo, duas semanas de uso por ano, podendo dispor de mais semanas caso seja de seu interesse.
“O imóvel compartilhado funciona no mesmo formato do convencional, todos recebem escritura da propriedade registrada em cartório. Os direitos são os mesmos de um imóvel adquirido pelo modelo tradicional”, afirma Braga.
Caso a pessoa não queira usar as suas duas semanas, pode colocar para locação, num serviço de hospitalidade igual a de um hotel. O objetivo, aliás, é que esse serviço seja usado, inclusive, pelos moradores.
Quem cuidará da hospitalidade são dois sócios da Own Time, a Casa Hotéis, cujo portfólio inclui outros hotéis luxuosos da cidade, como o Casa da Montanha e o Wood, e a Intercity Hotéis, com 45 hotéis pelo Brasil.
“Nós aproveitamos o fato de termos uma infraestrutura turística consolidada em Gramado para vender. É um diferencial nosso. No litoral, há dezenas de cidades preparadas para receber um condomínio compartilhado, mas em regiões de Serra, a concorrência diminui muito”, diz Braga.
Hoje, 70% dos clientes estão concentrados na região Sul e Sudeste, principalmente em São Paulo.
Nos primeiros dias após a crise se instaurar pelo Rio Grande do Sul, o trabalho da Own Time foi de contenção de danos e de ajuda aos clientes.
“Como a empresa está organizada, tem caixa, a gente aumentou o prazo de pagamento, reduziu parcela, seguramos o pagamento por alguns meses e fizemos algumas renegociações”, diz. “Fizemos isso e seguimos fazendo de forma proativa para que o cliente realmente se mantenha na base”.
Agora, o foco é mostrar que Gramado está bem e pronta para voltar a ser o que sempre foi.
“Gramado quase não foi atingida, estamos a 800 metros de altura, não tem nenhum rio que corta a cidade”, diz. “A estrutura turística está impecável. O que precisamos é que a parte logística seja acelerada para trazer o turista de volta”.
Enquanto o turista de fora do Rio Grande do Sul não volta, a Own Time tem intensificado suas vendas para os próprios gaúchos. Muitos deles estão impossibilitados de sair do Estado - também por causa da logística - e optam por turistar em Gramado. Acaba que passam mais pela cidade clientes gaúchos com potencial aquisitivo de investir no projeto.
“De certa forma, queremos que esse público também redescubra o Rio Grande do Sul”, diz. “São pessoas que poderiam viajar para Europa, para fora, mas que estão aqui e podem investir num espaço de luxo perto de suas casas”.
Além disso, a empresa está revisando custos para se tornar mais eficiente e apostando em campanhas online para seguir vendendo para fora do Estado.
Para o futuro, um segundo projeto está no radar: dessa vez,um condomínio com 107 apartamentos. Uma obra de 17.000 metros quadrados com um valor geral de venda de 500 milhões de reais.
O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual. O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses. Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.
A análise considerou os negócios com faturamento anual entre R$ 2 milhões e R$ 600 milhões. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.
São 371 empresas de 23 estados brasileiros que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros. Conheça o hub do projeto, com os resultados completos do ranking e, também, a cobertura total do evento de lançamento da edição 2024.
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.