Oleoduto da TransCanada: um bilionário da Califórnia adotou como meta pessoal provocar o fracasso de um projeto de US$ 5,4 bilhões da TransCanada (Brett Gundlock/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 23h27.
Calgary - Russ Girling, o CEO da TransCanada, aparece atravessando vertiginosamente um oleoduto sinuoso, com petróleo bruto escorrendo pelo rosto, cacarejando sobre como “algumas mentiras clássicas” fizeram com que o ingênuo público americano acreditasse plenamente em sua ideia de construir o oleoduto Keystone XL.
Ele sai disparado do outro lado para confessar com exuberância outro engano. “Dissemos que o oleoduto Keystone tornaria os EUA mais independentes em relação ao petróleo”, diz ele. “Quer saber quem se tornará mais independente?”. Ele aponta para uma frota de superpetroleiros chineses saindo da costa americana.
É claro, esse não é o verdadeiro Russ Girling. É um ator que o interpreta em um anúncio criado pelo NextGen Climate Action, um grupo ambiental contra o oleoduto Keystone XL. O comercial foi financiado por Tom Steyer, o bilionário da Califórnia que adotou como meta pessoal provocar o fracasso do projeto de US$ 5,4 bilhões.
Qual a reação de Girling quando viu o anúncio pela primeira vez? “Não tive uma reação negativa, mas talvez devesse ter tido”, disse ele em uma entrevista. “Mas mandei uma mensagem à minha esposa e aos meus filhos e disse, ‘Talvez vocês vejam isso, então provavelmente vocês devam dar uma olhada’. Você não pode deixar que isso lhe incomode pessoalmente”.
Outros não foram tão lacônicos. O jornal Financial Post do Canadá considerou o comercial uma ofensa nacional e declarou que era “um golpe baixo ao Canadá” e uma prova de que “os ativistas americanos antipetróleo enlouqueceram” e precisam da “supervisão de um adulto”.
‘Pessoa comum’
“Os grupos ambientalistas construíram uma mitologia sobre as pessoas que produzem petróleo no nosso mundo”, disse Ruth Ramsden-Wood, a ex-CEO da United Way of Calgary que pediu a Girling que fosse um dos presidentes da campanha de arrecadação de fundos da empresa em 2012. “Russ é uma pessoa normal e comum. Ele é muito humilde e não gosta de chamar a atenção. Acho que ele tem um jeito que faz com que as pessoas o escutem”.
Quando assumiu a chefia da TransCanada em 2010, vindo do lado das finanças, ele supôs o que a maioria dos canadenses supunha: que os EUA, há muito o principal parceiro de energia do Canadá, desejavam o oleoduto Keystone XL, os 4.000 ou mais empregos que sua construção geraria e o petróleo pesado de areias petrolíferas que alimentaria as refinarias na Costa do Golfo dos EUA, que tinham empreendido atualizações multibilionárias para aceitá-lo.
Política irritante
Desde então, a política se tornou irritante. O oleoduto de 1.897 quilômetros foi convertido em uma luta simbólica contra a mudança climática liderada por grupos ecologistas dos EUA. Os protestos se espalharam e envolveram Hollywood em agosto de 2011, quando a atriz Daryl Hannah se encadeou a uma grade da Casa Branca com outros ambientalistas.
Os críticos dizem que a TransCanada errou por não prever que a rota do oleoduto Keystone poderia ser alvo de polêmica e por resistir os pedidos iniciais de modificá-la antes que a situação se transformasse em uma batalha pública. De qualquer forma, os fazendeiros de Nebraska – preocupados com a potencial ameaça de uma ruptura do oleoduto sobre um vasto aquífero que corre sob uma área ecologicamente sensível, conhecida como Sand Hills – não demoraram em fazer lobby para mudar o trajeto da linha.
Nesses dias, quase quatro anos depois de se tornar CEO, Girling calcula que passa metade do tempo tentando reafirmar aos céticos que os oleodutos projetados para transportar o petróleo bruto das areias petrolíferas, também conhecido como betume, não destruirão o planeta. Um debate com Steyer teria se tratado mais de emoções do que de fatos, disse Girling.
Entretanto, Girling diz que está tão disposto a escutar quanto a fazer lobby. Em setembro, Judi Poulson, ativista contra o oleoduto Keystone XL e dona de casa de Fairmont, Minnesota, conseguiu entrar em contato com Girling através do telefone do escritório e conversar com ele por cinco minutos.
“Foi importante que ele tenha atendido minha ligação”, disse Poulson, 72. Ele escutou com atenção e perguntou por que ela pensava que a linha pioraria a mudança climática, disse Poulson. “Fiquei surpresa por ele ter sido tão amável”.