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(Karin Salomão/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 20 de dezembro de 2018 às 10h00.
Última atualização em 20 de dezembro de 2018 às 11h04.
Ao comprar uma calça jeans, poucos imaginam o trabalho que está por trás daquela peça. Antes de chegar às lojas, a roupa passou por diversas mãos que recortaram, bordaram, costuraram e customizaram cada detalhe. Só na C&A, milhares de roupas são vendidas todos os anos e a empresa é uma das maiores no segmento de moda no país.
EXAME visitou a fábrica de um de seus 57 fornecedores de jeans, a Emphasis, em Votorantim (SP) para ver como é feita uma calça jeans sustentável.
A indústria têxtil é uma das que mais polui globalmente. Um caminhão de resíduos têxteis é jogado no lixo a cada segundo no mundo. Roupas jogam meio milhão de toneladas de microfibras nos oceanos todos os anos.
Além da geração de lixo, a indústria também gera desperdício de dinheiro: todo ano 500 bilhões de dólares são gastos em roupas que são pouco usadas e raramente recicladas, de acordo com relatório feito pela Fundação Ellen MacArthur e Stella McCartney.
Só no Brasil, a indústria têxtil gera 170 mil toneladas de retalhos por ano e cerca de 80% desse material vai parar em lixões. No mundo, apenas 1% das roupas são recicladas. Para produzir uma camisa de algodão, mais de 2.700 litros de água são usados, desde a plantação do algodão até o transporte para a loja.
Para mudar esse cenário, a C&A começou um projeto global para a sustentabilidade, em 2015, com a criação de metas globais. Uma delas é chegar a 100% de algodão sustentável até 2020. Atualmente, cerca de 55% dos produtos de algodão da C&A Brasil são feitos com esse material. Além disso, até 2020, 67% das matérias-primas utilizadas nos produtos serão de origem mais sustentável.
Para começar a fabricar cada peça, a C&A envia o design para seus fornecedores - no caso, a Emphasis. Todas as peças para montar uma roupa são desenhadas por um software, na etapa chamada de modelagem.
As peças são então organizadas pelo sistema que irá cortá-las a partir de faixa de tecido. O software otimiza o encaixe para reduzir o descarte de tecido.
Apesar da má fama da indústria têxtil, a C&A garante que, por trabalhar com fornecedores auditados, tem maior controle sobre sua produção. “Precisamos separar o que é uma indústria de uma oficina de fundo de quintal”, afirma Valdir Ghiselini, diretor da Emphasis, fornecedora da C&A. Criada há 29 anos, a confecção trabalha com a C&A há 25 anos.
Cada rolo de jeans tem 1,6 metro por 100 metros. Por isso, é comum ter mais de 1 milhão de metros de tecido no estoque por vez.
O algodão para o jeans tem um papel importante para que a peça seja mais sustentável. O melhor material é aquele classificado como BCI - Better Cotton Iniciative (ou Iniciativa para um Algodão Melhor), que certifica o agricultor. Os agricultores que fazem parte da BCI são treinados e recebem apoio para usar a água de forma eficiente, cuidar da saúde do solo e dos habitats naturais, reduzir o uso de produtos químicos nocivos e promover o trabalho decente.
O algodão não precisa ser orgânico, até porque a produção dessa matéria prima ainda é muito pequena, segundo Rozália Del Gaudio, gerente sênior de comunicação e sustentabilidade da C&A no Brasil.
O rolo de tecido é então cortado por uma máquina a laser, segundo as especificações da modelagem.
A empresa de moda mapeou todos os seus fornecedores de roupas e tecelões para entender quais eram as condições de produção da matéria prima e das peças de roupa. Desde o lançamento das metas globais voltadas ao monitoramento da rede de fornecimento em 2016, a empresa reduziu em 50% os fornecedores classificados como E, a pior entre as usadas pela empresa, com desenvolvimento de 25% dos parceiros para que conseguissem subir na classificação.
Na foto, estão todas as peças de tecido que foram cortadas pela máquina e, agora, serão enviadas para a costura.
Desde o lançamento das metas globais voltadas ao monitoramento da rede de fornecimento em 2016, a empresa reduziu em 50% os fornecedores classificados como E, a pior entre as usadas pela empresa, com desenvolvimento de 25% dos parceiros para que conseguissem subir na classificação.
Cada peça é então enviada para o costureiro responsável, que irá costurar e arrematar cada parte.
Na fábrica da Emphasis em Votorantim (SP) trabalham 1.700 funcionários diretos e indiretos. Ela produz cerca de 500 mil peças todos os meses, ou 6 milhões ao ano. Mais de 90% desse total é vendido para a C&A. No Brasil, a C&A tem atualmente 153 fornecedores e 508 subcontratados. No total, dentre eles, 57 são fornecedores de jeans.
Alguns processos e costuras são automatizados, como a costura dos bolsos da calça, como mostra a foto.
A mudança para uma produção mais sustentável não é fácil para seus fornecedores. “Quando recebemos a meta de ter 100% do algodão de fontes sustentáveis até 2020, nós e outros fornecedores ficamos surpresos”, diz Ghiselini. “A cabeça do empresário e varejista tem que mudar. O consumidor já espera que o que ele consome seja mais sustentável e quem não se adapta corre o risco de ficar pelo caminho”, diz ele.
Na foto, é possível ver mais uma etapa da costura das peças.
O jeans costuma encolher após a primeira lavagem e secagem. Para que um consumidor não passe pelo incômodo de comprar uma calça que deixou de servir após só uma lavagem, a C&A lava todas suas peças na fábrica, antes de enviá-las para as lojas.
A lavagem também serve para customizar a peça e dar a sua cor final. Químicos colocados juntos da peça desbotam a cor do jeans. Na foto, é possível ver três calças com tons distintos de azul.
Não é só a matéria prima que deve ser mais sustentável - o modo de produção das peças também deve atingir requisitos de sustentabilidade. A empresa busca desenvolver novos produtos para tingimento e lavagem das peças livres de agentes químicos perigosos. A lenha utilizada pela Emphasis é regularizada e certificada perante ao IBAMA, ou seja, ela é reflorestada. Já a energia da caldeira (o vapor) é utilizada para abastecer a lavanderia e o passamento.
Cerca de 70% da água gasta no processo produtivo é tratada e então reutilizada. Com a expansão da estação de tratamento, 80% da água usada poderá ser reutilizada. A empresa prevê comprar, em 2019, uma máquina para lavar as peças que gaste menos água. O equipamento, importado da Europa, é mais caro do que o que a empresa possui hoje.
A próxima etapa é a customização da peça. Grande parte dos rasgos, desgastes e detalhes são feitos manualmente.
Parte da customização também envolve “gastar” certas áreas da peça. Nessa saia, por exemplo, há listas horizontais. Esse detalhe era feito feita manualmente, o que poderia expor os funcionários a certos riscos. Hoje, com uso de um maquinário específico, o trabalho ficou mais fácil. A área conseguiu até reduzir o número de colaboradores, de 100 para 40, que foram remanejados para outras áreas.
Aqui estão as peças prontas para serem enviadas para as lojas.
Quando a peça não serve mais para uso, pode ser reciclada. A C&A tem uma iniciativa para reciclar as roupas, chamada de Movimento Reciclo. O consumidor pode entregar roupas tanto da C&A quanto de outras marcas em 51 lojas pelo Brasil. As roupas são separadas e as em bom estado, cerca de dois terços do total, são destinadas para um bazar beneficente, enquanto o restante é reciclado. As peças podem ser transformadas em estofamento de carros ou sofás, estopas para limpeza, entre outros.
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