Cruzeiro do Sul: banco não conseguiu um interessado em assumir o seu controle (Reuters/Ricardo Moraes)
Da Redação
Publicado em 14 de setembro de 2012 às 12h24.
São Paulo – A liquidação do Banco Cruzeiro do Sul, decretada pelo Banco Central nesta sexta-feira, é o último capítulo da história de uma instituição financeira envolvida em suspeitas de empréstimos fictícios e até lavagem de dinheiro, segundo as autoridades monetárias.
A pá de cal foi jogada na madrugada desta sexta-feira, segundo o jornal O Estado de S.Paulo, quando fracassaram as conversas entre o Banco Santander e o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que administrava o Cruzeiro do Sul desde a intervenção. Segundo o jornal, os espanhóis desistiram do negócio, ao concluírem que as garantias pedidas não seriam atendidas.
A derrocada do Cruzeiro do Sul começou em 4 de junho, quando o Banco Central determinou a intervenção, afastou a família Índio da Costa do controle do banco e transferiu sua gestão ao FGC.
Indícios
O BC justificou a medida, ao informar que uma fiscalização constatou indícios de fraudes contábeis. Ainda segundo o BC, haveria pelo menos 300.000 empréstimos fictícios contabilizados pelo Cruzeiro do Sul. Na ocasião, a autoridade monetária avaliava que o rombo do banco seria de 1,5 bilhão de reais.
Com o avanço das investigações, o FGC, que assumiu seu controle, constatou que o rombo era bem maior. Ao examinar o balanço patrimonial do Cruzeiro do Sul e incorporar também outros itens, como possíveis provisões para perdas judiciais, o FGC concluiu que o buraco nas contas o banco seria de 2,23 bilhões de reais.
À medida que a intervenção prosseguia, começaram a vir à tona outras irregularidades que teriam sido cometidas pelo banco. Segundo a Folha de S.Paulo, o próprio Banco Central teria acusado o Cruzeiro do Sul, em um documento de agosto de 2010, de ser uma “grande lavanderia de dinheiro das mais diversas origens”.
O motivo seria a criação, em 2001, de um fundo de investimento cujos cotistas não teriam condições financeiras para as transações que lhes eram atribuídas. Chamado de Clube Alta Liquidez, o fundo teria como cotistas, segundo o documento do BC divulgado pela Folha de S.Paulo, um ajudante de serviços gerais e uma pessoa cujo salário era de 800 reais mensais, entre outros.
Fundos irregulares
A investigação do BC, na época, teria constatado que, dos 26,6 milhões de reais aplicados no fundo, em agosto de 2010, apenas 1,7 milhão foram usados para aplicações financeiras. O restante teria sido distribuído entre pessoas físicas e agências de turismo, diz a Folha de S.Paulo, citando o documento do BC. Na época, a investigação teria rendido uma multa de 200.000 reais ao Cruzeiro do Sul, contestada pelo banco na Justiça.
O banco já havia chamado a atenção do BC em janeiro de 2010, quando os fiscais levantaram dúvidas sobre a venda de carteiras para fundos de direito creditório. Segundo o BC, o Cruzeiro do Sul venderia as carteiras aos fundos, mas, em seguida, se tornaria cotista desses mesmos fundos – o que poderia gerar irregularidades, segundo o BC.
Em fevereiro de 2010, outro agente do mercado de capitais entrou em cena. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou que o Cruzeiro do Sul republicasse seus balanços de 2008 e 2009, com o argumento de que havia irregularidades na contabilidade dos fundos de direito creditório do banco.