Varejo: Apesar das perdas com inadimplência, concessão de crédito é importante para não prejudicar vendas do varejo, afirmam especialistas (evgenyatamanenko/Thinkstock)
Karin Salomão
Publicado em 29 de setembro de 2016 às 15h55.
São Paulo – Do cartão de marca própria a empréstimos pessoais, diversas varejistas também oferecem serviços financeiros a seus clientes há um bom tempo. Com a crise econômica, porém, essa parte vem ganhando mais importância por garantir as vendas em tempos difíceis.
Para algumas delas, o negócio financeiro passou a ter dificuldades com perdas ou inadimplência, consequência do novo cenário, já que um volume maior de recurso passou a ser emprestado.
Rapidamente, elas reviram suas estratégias, endureceram políticas de concessão e fizeram provisões. No entanto, não cortaram completamente o acesso ao crédito, ainda que pudessem ter perdas, para ajudar a proteger a sua divisão do varejo, afirmam especialistas entrevistados por Exame.com.
Sem a concessão de crédito o segmento de varejo teria sofrido muito mais, afirma o analista Luiz Cesta, da Votorantim Corretora.
Por isso, as perdas com inadimplência ou despesas com provisões são necessárias para sustentar as lojas. "Se o crédito secasse de uma vez, a queda nas vendas seria muito pior, ainda mais no setor de eletrodomésticos", considera ele.
Além disso, “os serviços financeiros aumentam o tíquete médio da compra, ao disponibilizar mais crédito para gastar na loja", disse ele.
A Guararapes, dona da Riachuelo, foi a empresa que mais sofreu nesse aspecto. Sua operação financeira corresponde a 44,6% de todo Ebitda do grupo.
A inadimplência dos empréstimos pessoais decolou no último ano, passando de 11,7% em junho de 2015 para 18,6% este ano. Para se precaver e cobrir despesas futuras, as despesas com provisionamento cresceram 56,3%, chegando a R$ 181,83 milhões, prejudicando o Ebitda do segmento.
A Renner conseguiu controlar a inadimplência do Cartão Renner, mas as perdas com o Meu Cartão e Saque Rápido subiram para 5,1% e 6,1% respectivamente.
Na Magazine Luiza, a divisão financeira viu o faturamento crescer 5,2%, para R$ 2,83 bilhões no último trimestre. O lucro operacional e líquido caíram durante todo o ano passado, mas começam a mostrar sinais de recuperação no primeiro semestre deste ano.
As divisões surgiram para complementar as receitas das empresas e impulsionar o consumidor a comprar mais.
Hoje, são parte importante do negócio e também ajudam a impulsionar as vendas de estoques ou coleções que não venderam tanto quanto a empresa havia planejado.
Com a queda das vendas de produtos, algumas empresas também viram um aumento da participação da divisão financeira nas receitas.
Um exemplo é a Marisa: o cartão private label aumentou sua participação nas vendas da companhia em 2,7 pontos percentuais, para 44,2% das vendas.
Isso fez com que a receita de juros, líquida e captação tivesse aumento de 2,1%. O ebtida dos produtos e serviços financeiros chegou a R$ 30,6 milhões no segundo trimestre de 2016, crescimento de 86%.
A queda poderia ser muito pior, diz Alberto Serrentino, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
"Diante do que o país passou no último ano, é inevitável que exista algum impacto na carteira de crédito", afirmou.
Serrentino lembra que o país já passou por crises econômicas que quebraram muitas varejistas, como a Casa Centro, Mappin, Arapuã.
"Hoje, as empresas são mais profissionais, controladas e conservadoras", afirmou ele.
O amadurecimento das varejistas se reflete em suas divisões financeiras. Muitas fizeram parcerias e joint ventures com bancos, para diluir os riscos das operações. A exceção é a Riachuelo, que administra sua própria financeira.