Hipermercado Extra: formato de loja não faz mais sentido para os consumidores (Creative Commons)
Daniela Barbosa
Publicado em 8 de junho de 2011 às 08h40.
São Paulo – Maior poder de negociação, melhoria das margens, sinergias de distribuição. Essas são algumas das vantagens mais citadas para justificar a eventual fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour. Mas a associação que começou a ser desenhada há duas semanas traz também desafios. Um deles é que o negócio reforça a aposta de ambas no segmento de hipermercados, um formato que vem perdendo espaço no Brasil para lojas menores.
O próprio Carrefour foi o responsável por lançar o modelo de hipermercados no Brasil, há 35 anos. Desde o Plano Real, porém, os hipermercados vêm perdendo espaço para novos tipos de loja. De acordo com Sussumo Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras ), o hábito de consumo dos brasileiros mudou. Com a inflação menor, os brasileiros deixaram de fazer a tradicional despesa mensal, que justificava o modelo de mercado com 10.000 metros quadrados, e agora fazem compras menores e mais frequentes em lojas também menores. “Hoje, esse formato não faz mais sentindo”, diz Sussumo.
O problema é que, juntos, o Pão de Açúcar e o Carrefour somarão 1.400 lojas em todo o país. E boa parte delas são hipermercados – muitos fisicamente próximos. No grupo de Abílio Diniz, o peso dos hipermercados vem caindo. Em 2009, o formato respondeu por 44% das vendas líquidas. No ano passado, a fatia baixou para 35%. É claro que parte disso é efeito do salto de 243% das vendas da Globex no total do grupo, mas o ritmo de expansão da bandeira Extra Hipermercados (9,5%) é menor, por exemplo, que o do Pão de Açúcar (12,8%) e do Assaí (48,5%).
Reestruturação
Fazer mais do mesmo, portanto, não fortalecerá nem o Pão de Açúcar, nem o Carrefour, caso venham a se unir no Brasil. Para os especialistas, o caminho seria reorganizar o portfólio de lojas. “Basta saber posicioná-las ”, afirmou Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo. “É muito positivo pensarmos que, em um pequeno espaço, será possível unir várias estruturas de negócios. Seria uma virtude, uma única empresa ter um hipermercado, uma loja de bairro e um ‘atacarejo’ no mesmo bairro.”, afirmou.
Assim, algumas unidades de hipermercados poderiam ser convertidas para a rede de atacarejo Assaí, por exemplo, enquanto outras poderiam reforçar o portfólio de eletro-eletrônicos, deixando a função de hipermercados apenas para uma das lojas da região. Além disso, é preciso elevar o faturamento por metro quadrado dessas megalojas. A tendência é que essas redes ofereçam em um único espaço serviços, como banco, salão de cabeleireiro e praça de alimentação. “Essas redes estão se tornando pequenos shoppings para continuar atraindo os consumidores”, disse Foganholo.
Segundo Honda, outra aposta que pode dar certo na união entre as duas varejistas é a expansão das redes para fora dos grandes centros urbanos. “Há regiões onde as marcas regionais se sobressaem em relação às bandeiras das principais empresas do setor”, afirmou Honda.
Tudo isso, claro, só poderia sair do papel se um requisito básico fosse cumprido: a aprovação do negócio pelos órgãos brasileiros de concorrência. Juntos, o Carrefour e o Pão de Açúcar deteriam pouco mais de 35% do mercado. Há quem não enxergue empecilhos para a associação. “Não vejo impedimentos nessa concentração”, disse Honda, da Abras. “O varejo alimentar no Brasil ainda tem muito espaço para crescer.” Se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pensaria a mesma coisa, é outra história.