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Como fica a aliança Renault e Nissan com demissões e redução de fábricas

As montadoras anunciaram plano de otimização das operações, com sinergias de 2 bilhões de euros e corte de quase 15.000 funcionários só na marca francesa

Linha de produção da Nissan no Brasil: futuro incerto (Germano Lüders/Exame)

Linha de produção da Nissan no Brasil: futuro incerto (Germano Lüders/Exame)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 29 de maio de 2020 às 09h39.

A aliança entre Renault, Nissan e Mitsubishi deu mais um passo para aumentar suas sinergias. Além de um plano de reestruturação para reduzir custos e investimentos da ordem de 40% para cada veículo produzido em comum, a montadora francesa anunciou que vai cortar quase 15.000 postos de trabalho no mundo. No Brasil, a estratégia sinaliza, por ora, para poucas mudanças, mas sobram dúvidas sobre o espaço de atuação de cada operação fabril.

O plano de aumentar a otimização de custos entre as marcas não é novidade. O problema é que o imbróglio envolvendo as acusações de crimes financeiros do ex-presidente da aliança, Carlos Ghosn, e a fuga do executivo para o Líbano colocaram em risco a primeira grande aliança do setor automotivo no mundo.

Com a pandemia do novo coronavírus, porém, as montadoras voltaram à mesa de negociações para acertar de vez um plano de sobrevivência. Segundo pessoas próximas às empresas, as decisões sobre a aliança estavam demorando muito mais tempo para ser tomadas diante da briga política em torno da situação de Ghosn.

Agora o cenário é altamente preocupante para o setor. As vendas de veículos despencaram no mundo e os novos hábitos de consumo das populações apontam para uma tendência de redução dos deslocamentos, com mais trabalho remoto e, possivelmente, uma racionalização do uso de automóveis.

"A estratégia de compartilhamento maior de plataformas de produção já vinha sendo discutida pela aliança e a pandemia só está acelerando esse processo", afirma Milad Kalume Neto, diretor da consultoria Jato Dynamics.

Vale lembrar que a Renault chegou a negociar uma fusão com a Fiat Chrysler Automobiles no ano passado, que não foi para frente diante da resistência por parte da Nissan e do governo francês.

Agora, o plano da aliança Renault-Nissan prevê 2 bilhões de euros de sinergias nos próximos três anos. Os modelos também serão produzidos com foco em cada marca. No segmento de SUVs, por exemplo, a Nissan deve ficar com os modelos de maior porte e, os menores, com a Renault.

"Existe um line-up muito amplo de modelos entre as empresas. O que elas vão tentar fazer é uma racionalização da produção, com posicionamento de produtos e marcas, além de otimização de custos", diz Neto. "O grupo não estava indo tão bem e precisa dessa reformulação."

Com a novela envolvendo as acusações contra Ghosn, a aliança precisou traçar um novo rumo. A Nissan chegou a perder quase metade do seu valor de mercado desde a prisão do executivo, e as vendas da Renault estavam em trajetória de queda no mundo.

Com o novo plano estratégico, a Nissan anunciou que reduzirá sua capacidade de produção global em 20%, fechará fábricas e diminuirá sua gama de veículos. A empresa já havia anunciado no ano passado cortes de 12.500 funcionários no mundo.

A Renault informou que deve cortar 4.600 postos de trabalho somente na França e outros 10.000 no mundo. Além disso, cada montadora ficará responsável por "liderar" as operações nas diferentes regiões do mundo. Na América do Sul, a Renault ganhou essa responsabilidade.

Brasil

O Brasil é um importante mercado para a Renault, que figura entre os líderes de vendas de modelos compactos, como o Sandero e o Kwid, além de ter uma considerável posição em SUVs com o Captur e o Duster.

Para especialistas, parece claro que a operação fabril da marca francesa no Paraná não deve ser profundamente afetada, já que os volumes de produção têm um bom fluxo no mercado local. A Renault não comentará o assunto, mas afirmou em comunicado que o novo plano "reafirma a importância da aliança."

O cenário é diferente para a Nissan, cuja expressividade local é mais concentrada no SUV Kicks e, em menor escala, no sedã Versa e no compacto March. A fábrica da montadora está localizada em Resende, Rio de Janeiro.

Em nota, a Nissan afirma que o Brasil é um dos primeiros países onde a aliança passou a produzir veículos em conjunto, no início dos anos 2000, no Paraná. Já na fábrica de Córdoba, da Argentina, há a produção hoje de carros Renault e da picape Nissan Frontier.

"A Aliança está muito desenvolvida na América Latina e continuaremos aproveitando todas as oportunidades de sinergias que pudermos desenvolver de maneira positiva para as empresas."

Se o objetivo da aliança é otimizar operações e a Renault deve "liderar" a região, especialistas enxergam uma possível redução das operações locais da parceria.

"O fechamento de alguma fábrica no Brasil não está descartado, isso provavelmente deve acontecer, só não está claro qual delas", afirma Fernando Trujillo, analista da área automotiva da consultoria IHS Markit.

Recuperação?

O anúncio da reestruturação deu um certo fôlego aos papéis das montadoras, mas o desempenho está longe do que era há um ano. O valor de mercado da Renault despencou quase pela metade no período.

O novo presidente da montadora, Luca de Meo, assume em 1º de julho. Ele terá a difícil missão de melhorar os resultados da marca, além de apaziguar os ânimos da aliança e do governo francês, maior acionista da montadora.

A tarefa não será fácil, mas é provavelmente a única saída para a sobrevivência das marcas em novos tempos da indústria automotiva global.

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