Lilian Miyuri Yamauchi, proprietária da Mimos para Todos: investimentos em capacitação para decolar e-commerce (Divulgação/Sebrae/SP)
O ano de 2022 foi desafiador para as donas e donos de pequenos negócios. Ainda em recuperação dos efeitos da pandemia de Covid-19 – que, vale lembrar, não acabou –, os empreendedores passaram por uma pressão provocada pela alta de inflação e perda do poder de compra do consumidor, além da escassez de insumos e do aumento de preço de matérias-primas importadas.
Mesmo assim, há motivos para comemorar: a pesquisa Indicadores, realizada pelo Sebrae-SP com apoio da Fundação Seade, mostra que o faturamento das micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo aumentou em 6,6% em setembro de 2022 na comparação ao mesmo mês de 2021. Já entre os Microempreendedores Individuais (MEIs), o aumento no faturamento foi ainda maior: 12,6% no mesmo período.
O grande destaque entre os setores foram o de serviços e, entre os MEIs, também o da indústria, com o comércio mantendo-se em certa estabilidade nesse período de 12 meses. Saiu na frente quem foi buscar capacitação e seguiu à risca o planejamento para se proteger das turbulências.
Porém, o fator que fez a maior diferença foi a inovação: seja no investimento em digitalização ou na busca de novos produtos e serviços, pensar “fora da caixa” em 2022 se traduziu em crescimento e expansão dos negócios. A seguir, quatro empreendedores de todo o Estado, cada um de um segmento econômico, conta como foi possível crescer em 2022 e planejar um 2023 ainda melhor.
O produtor rural Lucas Colpani Gutierrez, de Pongaí, trabalha há quatro anos com criação de frango, depois de deixar um emprego com carteira assinada e partir para o trabalho por conta própria. “Comecei com cinco pintinhos. Fui aprendendo sobre negócios, fazendo embalagem, fiz um rótulo.
Cheguei a montar um miniabatedouro aqui, mas não tinha muito conhecimento sobre as exigências”, diz. No início, ele vendia apenas frango caipira, mas, conforme as vendas foram aumentando, ele viu a necessidade de procurar o Sebrae-SP para ajudar com uma série de necessidades, que iam desde fazer uma planilha financeira até a entender melhor sobre a legislação sanitária.
Com a alta nos preços provocada pela inflação nos últimos dois anos, porém, o produtor já vinha percebendo que o frango caipira não estava mais sendo rentável – além de demorar mais para estar pronto para o abate e comercialização. Foi quando surgiu a ideia de trabalhar com frango de granja, que tem custo menor para o consumidor final e permite mais giro financeiro dentro da empresa. “Passei a usar espaço em um frigorífico, procurei saber como fazia para regularizar o produto para que pudesse entrar em grandes supermercados”, conta.
No início do ano, reformou uma granja que estava abandonada no município vizinho de Guarantã e acertou toda documentação. Na ponta do lápis, entraram desde itens como ventilação e cálculos para diminuir custos com produção própria de ração.
Hoje, com embalagem própria, registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF) e distribuição para dezenas de pontos de venda na região, a Gutierrez Alimentos continua pensando em expansão. O plano para o ano que vem é produzir 6 mil frangos a cada 45 dias, e o produtor vê espaço até para a exportação, tudo lado a lado com o Sebrae-SP. “O produtor rural fica muito fechado, mas o negócio está da porteira para fora, é isso que a gente precisa aprender. Por isso, tudo o que o Sebrae oferece eu aproveito”, ressalta Gutierrez.
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Desde muito jovem, a empreendedora Lilian Miyuri Yamauchi trabalhava nos negócios da família, em ramos diversos: barraca de feira, pastelaria, distribuidora de bebidas etc. “Eu não tinha férias nem fim de semana”, lembra. Na época, a filha Isabela, que tinha quatro anos (hoje tem 11), pediu para a mãe parar de trabalhar tanto.
A decisão demorou mais algum tempo a ser tomada até que, em 2018, ela deixou as empresas familiares para ficar mais tempo em casa. Formalizou-se como Microempreendedora Individual (MEI) e passou a vender brinquedos educativos e pedagógicos, uma área da qual ela sempre gostou. “Abri mais por uma ocupação mesmo, sem muito planejamento, sem estudar o mercado”, diz.
Até que, no início de 2020, questões familiares a obrigaram a levar o negócio mais a sério, como uma fonte de renda de verdade. Moradora de São Vicente, Lilian investiu o pouco dinheiro que tinha em caixa em estoque e na participação em feiras para apresentar os produtos que revendia. Mas, em março daquele ano, chegou a pandemia de Covid-19 e todos os planos viraram de cabeça para baixo.
Sem dinheiro, com quase nenhuma venda na loja virtual e sem perspectiva de participar de feiras, pensou até em comercializar brinquedos de marcas mais populares. Mais uma vez, a filha interveio. “Ela me lembrou que esse não era o foco”, diz Lilian.
Durante os primeiros meses da pandemia, a empreendedora passou a investir em capacitação: acompanhava as lives diárias do Sebrae-SP e participou do Sebrae Delas, o que foi muito útil também para seu autoconhecimento. “No final de 2020 defini que iria começar pelo Mercado Livre. A loja virtual não trazia público. Fiz várias consultorias com o Sebrae para trabalhar com e-commerce”, conta. A partir de então, as vendas surgiram e o negócio deslanchou, crescendo 700% de 2020 para 2021. Lilian migrou para microempresa e agora já está pensando em se expandir ainda mais.
Para 2023, a ideia é investir em novos marketplaces, em brinquedos inclusivos e em vendas para órgãos públicos. “Hoje 95% das minhas vendas vêm do Mercado Livre, mas estou estudando outras plataformas com taxas menores. Também tive de contratar mais gente porque não estava dando conta. Agora é hora de aumentar o faturamento”, afirma.
A pandemia foi um divisor de águas para milhares – ou até milhões – de empreendedores brasileiros. No caso de Adriana Aparecida Mendes, de Cubatão, a pandemia foi a diferença entre a produção de salgadinhos no “fundo do quintal”, como ela mesmo diz, para uma fábrica de salgados congelados que hoje é capaz de produzir 30 mil minissalgados por hora.
“Trabalho no ramo alimentício há mais de 20 anos, minha mãe teve carrinho de pastel. Alguns anos atrás, tive a ideia de ter minha própria fábrica de salgados, mas fui adiando porque o custo de maquinário era alto”, conta Adriana. As restrições da pandemia, porém, fizeram com que muita gente passasse a comprar comida por delivery, e os salgados de A’Dorada começaram a fazer sucesso na cidade.
Durante os dois primeiros anos da pandemia, o negócio cresceu 500%, ela precisou trocar de maquinário duas vezes e adquiriu um ultracongelador. Também precisou contratar mais gente: hoje são seis funcionários, além da consultoria de nutricionista e do motorista que faz as entregas.
Nesse processo de crescimento rápido, precisou pedir auxílio ao Sebrae-SP. “A gente cresceu demais para o conhecimento que eu tinha. Montar processos, acompanhar a legislação, a vigilância sanitária. Comecei a ficar meio perdida, não tinha mais braços para tudo”, lembra. Atualmente, ela faz parte do Sebraetec.
Além da fábrica de salgados, Adriana tem participação na loja de A’Dorada, separada da indústria, e duas lojas de uma marca de salgadinhos no copo. Dos clientes da indústria, Adriana tem orgulho de dizer que muitos estão desde o início da pandemia – como empreendedores que vendem no condomínio onde moram ou que mantêm um pequeno negócio de alimentação.
“O maior desafio do empreendedor, na minha opinião, é a gestão de pessoas, desde o funcionário até o cliente”, diz. Para 2023, é nessa frente que ela quer investir, aprendendo a lidar melhor com gestão de pessoas, além de não perder de vista os controles financeiro e de processos. “Hoje atendo a toda a Baixada Santista e já estamos com clientes em São Paulo. Temos prospecção para crescer 30% no ano que vem”, conta.
O cabelereiro Gerson Nascimento dos Reis, de Osasco, montou seu primeiro salão em 1997, chamado Studio Hair. Em setembro de 2021 abriu um salão especializado em cabelos afro, o Studio World of Hair. “O grande diferencial é que nós somos especializados em cabelos crespos e cacheados, então o cliente que nos procura não vem apenas para fazer um cabelo; ele vem aqui para viver uma experiência, com uma equipe bem preparada para atendê-lo” diz Reis.
Atualmente Reis comanda quatro unidades do seu negócio: duas em Osasco, sendo uma para o público feminino e outra para o masculino, e duas na cidade de São Paulo, nos bairros da Barra Funda e República. Todos os ambientes dos salões, especialmente o da República, são decorados e arrumados para o cliente poder tirar boas fotos e postar nas redes sociais, o tal “ambiente instagramável”.
Em 2022, surgiu a ideia de criar o ônibus-salão, com todos os serviços do cabeleireiro disponíveis em um ônibus, atendendo quem estiver por perto. “A intenção é ficar parado semanalmente em cada região da cidade de São Paulo, para cada vez mais pessoas terem acesso aos serviços disponíveis” conta.
O ônibus-salão ainda não está funcionando por conta de uma série de leis que precisam ser cumpridas para poder começar a rodar. Mas Reis chega ao fim de 2022 com a meta de, em 2023, estar com tudo em ordem para circular por São Paulo com seu negócio sobre rodas. Paralelamente, também tem planos de aumentar o número de unidades do salão.
Reis afirma que tem tido o Sebrae-SP como parceiro há muitos anos, participando de programas que o orientaram como montar um plano de negócio, cuidar da parte financeira, precificação, entre outros temas. “O Sebrae-SP me ajuda em tudo praticamente.”
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