Gustavo Freitas, CEO do Mercadão do Óculos (Exame/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 12h24.
Última atualização em 20 de janeiro de 2025 às 13h44.
Marmeleiro, no Paraná, com seus 15.900 habitantes, pode parecer um lugar improvável para grandes negócios. Mas a cidade virou exemplo da expansão do Mercadão dos Óculos. Desde agosto de 2024, a loja local tem faturado uma média de 115 mil reais por mês. E a fórmula para esse sucesso é simples: um modelo de negócio enxuto, pensado para atender cidades menores, antes esquecida por redes de franquias. É a estratégia do Super Fit, modelo de loja que já colocou a rede em dezenas de pequenos municípios Brasil afora, acelerando sua expansão.
Hoje, o Mercadão dos Óculos conta com mais de 750 lojas em operação e, após faturar 500 milhões de reais em 2024, a expectativa é chegar a 700 milhões de reais em 2025. Para isso, pretende abrir 200 novas unidades, muitas delas em cidades como Marmeleiro.
Fundado em 2012, em São José do Rio Preto (SP), o Mercadão nasceu com a missão de democratizar o acesso a óculos de qualidade. Em 2013, entrou no franchising e cresceu rapidamente. Para atender diferentes mercados, desenvolveu três formatos de lojas: Super Fit (até 15 mil habitantes), Fit (até 30 mil) e Tradicional (para cidades maiores).
Um dos pilares dessa expansão é a eficiência logística. O centro de distribuição, localizado em Vitória, no Espírito Santo, é responsável por abastecer todas as unidades da rede. “Nosso estoque é compacto. Uma loja inteira cabe no porta-malas de um carro. Isso permite uma logística ágil e de baixo custo, especialmente em cidades menores”, diz Gustavo Freitas, CEO do Mercadão dos Óculos.
O Super Fit, criado em 2023, exige um investimento inicial de 150 mil reais e oferece uma operação de baixo custo e retorno rápido. Marmeleiro exemplifica o potencial do modelo: em apenas quatro meses, a unidade já se tornou uma referência na região. “Essas cidades têm uma demanda reprimida e poucos serviços locais. Com nosso modelo, conseguimos atender bem e gerar lucro mesmo em mercados menores”, diz Freitas.
Além disso, o formato beneficia os clientes, que antes precisavam viajar para grandes centros para encontrar óculos e lentes. “Nosso público valoriza a conveniência de comprar localmente. O deslocamento é caro, e a assistência regional faz toda a diferença”, completa Freitas.
A linha própria de lentes do Mercadão, a Eurolen, lançada em 2019, já é a quarta maior do Brasil. Exclusiva das lojas da rede, ela representa 85% das vendas de lentes e é um dos grandes motores de seu crescimento.
Uma das tecnologias que mais chama atenção dos consumidores é a lente com bloqueio de luz infravermelha, que ajudam a prevenir o envelhecimento precoce da região dos olhos. A produção de todas as lentes é realizada em parceria com 20 laboratórios homologados distribuídos por todas as regiões do Brasil. Essa rede de parceiros garante agilidade na entrega e qualidade padronizada, mesmo em cidades menores ou mais distantes.
O mercado óptico brasileiro movimentou 25 bilhões de reais em 2023, impulsionado por fatores como o envelhecimento da população, maior conscientização sobre saúde visual e o uso de óculos como acessório de moda. Apesar de desafios como a pirataria e os altos custos logísticos, o setor segue em expansão, com expectativa de crescer 4,2% em 2025.
Para transformar a experiência de compra, o Mercadão investiu recentemente em totens digitais com inteligência artificial. Esses equipamentos realizam o visagismo — análise facial que sugere as armações mais adequadas para o formato do rosto — e o mapeamento de visão, ajudando o cliente a escolher a lente ideal.
Atualmente, 70 das mais de 750 unidades da rede já contam com a tecnologia. Os totens têm aumentado o ticket médio das lojas em 10% e a conversão de vendas em 20%. Para ampliar o alcance, a empresa adotou um modelo de locação dos totens, tornando sua instalação mais acessível para os franqueados.
“O cliente entende tecnicamente as diferenças entre os produtos e percebe o valor das opções premium. Isso faz toda a diferença na decisão de compra”, explica Freitas. A meta é que uma parcela significativa das lojas conte com os totens até 2025, reforçando o ponto de venda como um espaço de consultoria personalizada.
Num ritmo mais cauteloso, o Mercadão avança em sua estratégia de internacionalização. Em 2021, abriu três lojas próprias em Portugal, nas cidades de Lisboa, Porto e Cascais. A ideia era testar o modelo de negócios no mercado europeu antes de expandir por meio de franquias. A meta para 2025 é abrir entre cinco e dez unidades no país.
Portugal foi escolhido por sua cultura semelhante à brasileira e pelo mercado de franquias bem estruturado. “Foi o lugar ideal para aprendermos e ajustarmos nosso modelo antes de avançar internacionalmente”, comenta Freitas.
Na América Latina, os planos incluem mercados como Panamá, Colômbia, Paraguai e Argentina, mas com desafios maiores. “Esses mercados têm culturas muito diferentes e exigem uma abordagem adaptada. Estamos analisando a entrada por meio de master franqueados, que entendem as particularidades locais”, explica o CEO.
Apesar das oportunidades, o cenário macroeconômico global impõe barreiras, como juros altos e flutuações cambiais. “Esses fatores exigem que sejamos estratégicos. Não adianta forçar a expansão sem entender profundamente o mercado”, conclui Freitas.
Com uma abordagem que equilibra ousadia e cautela, o Mercadão dos Óculos busca consolidar sua presença no Brasil e em mercados internacionais, sempre mantendo o foco em qualidade e eficiência.