Senna Tower: projeto receberá investimento de R$ 3 bilhões (FG Empreendimentos/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 1 de fevereiro de 2025 às 08h43.
Construir um arranha-céu já é um desafio. Mas erguer o maior prédio residencial do mundo em uma cidade litorânea, com solo rochoso e forte influência dos ventos, exige um nível de engenharia que poucas empresas no planeta dominam. Esse é o plano da FG Empreendimentos, que, ao lado da Havan, quer tirar do papel o Senna Tower, em Balneário Camboriú (SC).
O edifício, que terá mais de 500 metros de altura, carrega a marca do piloto Ayrton Senna e aposta em um conceito de alto luxo. Mas antes de falar de design, interiores e vistas panorâmicas, a construtora tem um desafio bem mais urgente: como fazer o prédio não sair do lugar.
Agora, a empresa deu o primeiro passo prático para resolver essa questão. O projeto de fundação começou a ser testado no local da obra, e a solução adotada é inédita para edifícios desse porte.
“A fundação precisa atender a todos os requisitos técnicos de segurança sem ressalvas. É a base do prédio, e não pode haver margem para erro”, afirma Stéphane Domeneghini, diretora-executiva da Talls Solutions, empresa do Grupo FG especializada em supertalls.
Na engenharia, arranha-céus são classificados de acordo com a altura. Edifícios acima de 300 metros entram na categoria supertall. Se passarem de 600 metros, entram na lista dos megatall – um grupo ainda mais seleto, com apenas três prédios no mundo.
O Senna Tower será um supertall, com mais de 500 metros, o que faz dele o prédio residencial mais alto já projetado. Para efeito de comparação, ele será maior que o Empire State Building, em Nova York (381 metros), e do que a Torre Eiffel, em Paris (330 metros).
Em prédios gigantes como o Burj Khalifa, em Dubai, e o Merdeka 118, na Malásia, a fundação geralmente usa grandes estacas cravadas profundamente no solo para garantir estabilidade. Mas o terreno de Balneário Camboriú exigiu outra abordagem.
O Senna Tower será sustentado por um sistema de estacas Auger Cast, tecnologia nunca usada antes em edifícios acima de 300 metros. Elas são totalmente armadas e em maior quantidade do que o convencional, o que reduz a carga por estaca e aumenta a segurança estrutural.
Uma estaca armada tem uma estrutura interna de aço (a chamada armadura) dentro do concreto. Isso a torna mais resistente e flexível a movimentos, o que é essencial em prédios muito altos.
A novidade no Senna Tower é que todas as estacas são armadas do topo até a base. Normalmente, em prédios altos, só as partes superiores das estacas recebem essa armadura, enquanto a parte inferior depende mais do concreto e do próprio solo para dar suporte. Ao armar toda a estaca, o projeto reforça a segurança, já que a carga fica distribuída de maneira mais equilibrada.
Em prédios desse porte, é comum usar menos estacas, mas cada uma delas muito mais robusta e responsável por suportar grandes cargas. No caso do Senna Tower, a estratégia foi o oposto: em vez de poucas estacas superdimensionadas, optou-se por muitas estacas menores e mais bem distribuídas, reduzindo a carga individual de cada uma.
Além disso, o projeto incorpora um sistema avançado de sensores e fibra óptica para monitorar em tempo real o comportamento da fundação, desde a fase de construção até a operação do prédio. Isso permitirá ajustes caso alguma movimentação inesperada ocorra.
“A decisão foi buscar mais segurança em vez de apenas seguir o padrão tradicional. Testamos equipamentos no Brasil e no exterior para chegar à melhor solução para esse tipo de solo”, diz Domeneghini.
Antes de iniciar a obra, a equipe está realizando testes práticos para validar a solução. Estacas já foram implementadas no terreno e passam por provas de carga e ensaios de tração, seguindo recomendações de Harry Poulos, engenheiro que trabalhou no Burj Khalifa e no Dubai Tower.
O projeto também será apresentado no Congresso Mundial de Geotécnica, em Viena, na Áustria, reforçando seu caráter inovador e inédito.
Se os testes confirmarem que a fundação é segura e eficiente, a FG Empreendimentos poderá iniciar a construção da superestrutura do prédio. Com um investimento de 3 bilhões de reais, o Senna Tower será um marco para a engenharia brasileira e um dos maiores desafios já enfrentados pelo setor no país.
A previsão de conclusão ainda não foi divulgada, mas o projeto já colocou Balneário Camboriú no radar da engenharia global.
Agora, resta saber quando os primeiros moradores poderão dizer que vivem no maior prédio residencial do mundo.