Leandro Scheer Mantovani e Lucas Bertuol, da Keko Acessórios: "O consumidor final começou a procurar mais pelos nossos produtos, o que fortaleceu a marca" (Luís Henrique Bisol Ramon/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 08h43.
O mercado automotivo brasileiro passou por altos e baixos nos últimos anos.
Entre crises econômicas, pandemia e mudanças no perfil do consumidor, muitas empresas precisaram se reinventar para sobreviver. Algumas não conseguiram. Outras encontraram formas de crescer no meio do caos.
A Keko Acessórios, de Flores da Cunha, cidade gaúcha a 145 quilômetros de Porto Alegre, quase não sobreviveu. Em 2018, atolada em dívidas e sem conseguir renegociar com bancos, a fabricante de acessórios para picapes entrou em recuperação judicial.
Seis anos depois, conseguiu não só pagar as dívidas e sair da crise, como mais que dobrou de tamanho. Em 2025, a expectativa é faturar 360 milhões de reais, um crescimento de 170% desde o início da recuperação.
O que mudou? A empresa cortou custos, renegociou prazos, investiu em inovação e aproveitou o crescimento do segmento de picapes no Brasil. Nos últimos dois anos, esse mercado cresceu quase 40% e trouxe novas oportunidades.
"Antes, picape era um carro de fazendeiro. Hoje, está nas ruas das grandes cidades", diz Liliam Scheer Mantovani, gerente de marketing da Keko.
Agora, com a crise superada, a empresa investe na expansão da fábrica e na adoção de novas tecnologias.
Entre 2024 e 2025, serão aplicados 30 milhões de reais em ampliação e novos equipamentos. "Nos últimos anos, aprendemos a operar com sustentabilidade financeira. Agora, é hora de crescer com segurança", afirma Lucas Bertuol, gerente administrativo-financeiro da Keko.
Até 2014, a Keko vinha em ritmo acelerado de crescimento, com aumento médio de 20% ao ano. Para acompanhar essa expansão, investiu 100 milhões de reais em uma nova fábrica em Flores da Cunha. O problema foi que a maior parte desse investimento veio de financiamentos bancários.
Na época, a taxa Selic estava em 7,5% ao ano. Mas, entre 2015 e 2016, subiu para 14,5%, encarecendo drasticamente o custo da dívida. A empresa tentou renegociar os prazos com bancos e consultorias como a KPMG, mas não teve sucesso.
A crise se agravou em 2018.
Primeiro, com a greve dos caminhoneiros, que travou a logística e derrubou as vendas. Depois, com o cancelamento de um grande projeto com uma montadora, que cortou 20 milhões de reais da receita prevista. Sem saída, a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial.
"Foi uma decisão difícil, mas necessária para reorganizar a empresa e evitar um colapso", diz Leandro Scheer Mantovani, presidente executivo da Keko.
Desde o início do processo, a Keko seguiu algumas diretrizes para recuperar a credibilidade no mercado e manter a operação saudável.
A transparência com os funcionários, fornecedores e clientes também foi essencial. A empresa manteve diálogo aberto com todos os envolvidos e, mesmo com a recuperação judicial, conseguiu preservar empregos e credibilidade no setor.
Nos últimos anos, o mercado de picapes no Brasil mudou. Modelos como Fiat Toro, Ford Maverick e RAM 1500 popularizaram o segmento e trouxeram novos consumidores. O crescimento acumulado foi de quase 40% desde 2022.
A Keko soube aproveitar esse movimento. "O consumidor de picapes mudou. Antes, eram só fazendeiros e moradores do interior. Hoje, vemos cada vez mais picapes rodando nas cidades", diz Liliam Mantovani.
A empresa fabrica acessórios como capotas marítimas, estribos, engates e santo-antônios, itens que aumentam a funcionalidade e personalização dos veículos. Além disso, fornece peças diretamente para 12 montadoras.
"Nos últimos dois anos, tivemos sete novos modelos de picapes no mercado, o que abriu mais espaço para a nossa atuação", afirma a executiva.
Agora que deixou a recuperação judicial para trás, a Keko foca na expansão. A empresa investirá 30 milhões de reais para ampliar a fábrica e comprar novos equipamentos, como prensas, dobradeiras e centros de usinagem.
Além disso, continuará fortalecendo as práticas de ESG (ambiental, social e governança) e ampliando sua presença digital.
"Desde o início da Keko, ESG sempre fez parte da nossa cultura, mesmo antes de se tornar um conceito amplamente discutido", diz Mantovani.
A meta da empresa é continuar crescendo de forma sustentável e se consolidar como um player global no mercado de acessórios automotivos. Se nos últimos seis anos a Keko enfrentou sua pior crise e saiu maior do que entrou, agora o objetivo é manter o ritmo – sem correr os mesmos riscos do passado.