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Como esta empresa gaúcha saiu da recuperação judicial, cresceu 170% e vai faturar R$ 360 milhões

Empresa cortou custos, renegociou prazos, investiu em inovação e aproveitou o crescimento do segmento de picapes no Brasil

Leandro Scheer Mantovani e Lucas Bertuol, da Keko Acessórios: "O consumidor final começou a procurar mais pelos nossos produtos, o que fortaleceu a marca" (Luís Henrique Bisol Ramon/Divulgação)

Leandro Scheer Mantovani e Lucas Bertuol, da Keko Acessórios: "O consumidor final começou a procurar mais pelos nossos produtos, o que fortaleceu a marca" (Luís Henrique Bisol Ramon/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 08h43.

O mercado automotivo brasileiro passou por altos e baixos nos últimos anos.

Entre crises econômicas, pandemia e mudanças no perfil do consumidor, muitas empresas precisaram se reinventar para sobreviver. Algumas não conseguiram. Outras encontraram formas de crescer no meio do caos.

A Keko Acessórios, de Flores da Cunha, cidade gaúcha a 145 quilômetros de Porto Alegre, quase não sobreviveu. Em 2018, atolada em dívidas e sem conseguir renegociar com bancos, a fabricante de acessórios para picapes entrou em recuperação judicial.

Seis anos depois, conseguiu não só pagar as dívidas e sair da crise, como mais que dobrou de tamanho. Em 2025, a expectativa é faturar 360 milhões de reais, um crescimento de 170% desde o início da recuperação.

O que mudou? A empresa cortou custos, renegociou prazos, investiu em inovação e aproveitou o crescimento do segmento de picapes no Brasil. Nos últimos dois anos, esse mercado cresceu quase 40% e trouxe novas oportunidades.

"Antes, picape era um carro de fazendeiro. Hoje, está nas ruas das grandes cidades", diz Liliam Scheer Mantovani, gerente de marketing da Keko.

Agora, com a crise superada, a empresa investe na expansão da fábrica e na adoção de novas tecnologias.

Entre 2024 e 2025, serão aplicados 30 milhões de reais em ampliação e novos equipamentos. "Nos últimos anos, aprendemos a operar com sustentabilidade financeira. Agora, é hora de crescer com segurança", afirma Lucas Bertuol, gerente administrativo-financeiro da Keko.

Como a Keko entrou na recuperação judicial

Até 2014, a Keko vinha em ritmo acelerado de crescimento, com aumento médio de 20% ao ano. Para acompanhar essa expansão, investiu 100 milhões de reais em uma nova fábrica em Flores da Cunha. O problema foi que a maior parte desse investimento veio de financiamentos bancários.

Na época, a taxa Selic estava em 7,5% ao ano. Mas, entre 2015 e 2016, subiu para 14,5%, encarecendo drasticamente o custo da dívida. A empresa tentou renegociar os prazos com bancos e consultorias como a KPMG, mas não teve sucesso.

A crise se agravou em 2018.

Primeiro, com a greve dos caminhoneiros, que travou a logística e derrubou as vendas. Depois, com o cancelamento de um grande projeto com uma montadora, que cortou 20 milhões de reais da receita prevista. Sem saída, a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial.

"Foi uma decisão difícil, mas necessária para reorganizar a empresa e evitar um colapso", diz Leandro Scheer Mantovani, presidente executivo da Keko.

O que a empresa fez para sair da crise

Desde o início do processo, a Keko seguiu algumas diretrizes para recuperar a credibilidade no mercado e manter a operação saudável.

  1. Gestão horizontal: a empresa reduziu camadas hierárquicas e aproximou a diretoria da operação. "Isso deu mais velocidade nas decisões", afirma Mantovani.
  2. Foco no essencial: projetos e processos foram enxugados para dar agilidade à produção.
  3. Planejamento financeiro e tributário: a renegociação das dívidas permitiu transformar 80% dos débitos de curto prazo para longo prazo.
  4. Inovação em produtos: empresa passou a priorizar acessórios com alto valor agregado, como capotas elétricas e estribos automáticos.
  5. Fortalecimento do digital: durante a pandemia, a Keko apostou nas vendas online e percebeu um novo perfil de cliente. "O consumidor final começou a procurar mais pelos nossos produtos, o que fortaleceu a marca", diz Bertuol. Hoje, 25% da receita vem da venda direta para o consumidor final e exportações.

A transparência com os funcionários, fornecedores e clientes também foi essencial. A empresa manteve diálogo aberto com todos os envolvidos e, mesmo com a recuperação judicial, conseguiu preservar empregos e credibilidade no setor.

O impacto do crescimento das picapes

Nos últimos anos, o mercado de picapes no Brasil mudou. Modelos como Fiat Toro, Ford Maverick e RAM 1500 popularizaram o segmento e trouxeram novos consumidores. O crescimento acumulado foi de quase 40% desde 2022.

A Keko soube aproveitar esse movimento. "O consumidor de picapes mudou. Antes, eram só fazendeiros e moradores do interior. Hoje, vemos cada vez mais picapes rodando nas cidades", diz Liliam Mantovani.

A empresa fabrica acessórios como capotas marítimas, estribos, engates e santo-antônios, itens que aumentam a funcionalidade e personalização dos veículos. Além disso, fornece peças diretamente para 12 montadoras.

"Nos últimos dois anos, tivemos sete novos modelos de picapes no mercado, o que abriu mais espaço para a nossa atuação", afirma a executiva.

O futuro da Keko

Agora que deixou a recuperação judicial para trás, a Keko foca na expansão. A empresa investirá 30 milhões de reais para ampliar a fábrica e comprar novos equipamentos, como prensas, dobradeiras e centros de usinagem.

Além disso, continuará fortalecendo as práticas de ESG (ambiental, social e governança) e ampliando sua presença digital.

"Desde o início da Keko, ESG sempre fez parte da nossa cultura, mesmo antes de se tornar um conceito amplamente discutido", diz Mantovani.

A meta da empresa é continuar crescendo de forma sustentável e se consolidar como um player global no mercado de acessórios automotivos. Se nos últimos seis anos a Keko enfrentou sua pior crise e saiu maior do que entrou, agora o objetivo é manter o ritmo – sem correr os mesmos riscos do passado.

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