D vice-presidente, Marcelo Chiarello; presidente do grupo, Vinícius Marins, e diretor financeiro, Sidnei Locatelli, da Reunidas: (Reunidas/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 25 de outubro de 2023 às 08h00.
Última atualização em 25 de outubro de 2023 às 13h30.
O aniversário de 70 anos do grupo catarinense Reunidas, de transporte de cargas e de pessoas, foi em 2020, mas a comemoração mesmo está sendo feita agora.
A empresa, que tem sede em Caçador, a 380 quilômetros de Florianópolis, está saindo de um processo de recuperação judicial iniciado em 2016. À época, a companhia entrou na Justiça pelo processo de reestruturação com dívidas na casa dos 79,5 milhões de reais.
Sete anos depois, a empresa começou a arrumar a casa, mirando novos focos de investimentos e frentes de faturamento. Com isso, saíram do processo de recuperação judicial — e esperam faturar 300 milhões de reais já neste ano.
A Reunidas nasceu em 1950 de uma sociedade de três empresários do ramo de transporte, e se consolidou no século passado como uma das principais empresas de transporte do sul do país.
Hoje, atua principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Algumas de suas linhas de ônibus, porém, vão até o Norte e Nordeste. Seus caminhões, com frete, circulam pelas quatro regiões, mas quase todos até São Paulo.
A recuperação judicial, em 2016, veio num momento de transformação do setor. Além da crise econômica que pairava sobre o país desde alguns anos antes, mais pessoas tinham carros próprios ou circulavam de avião do que nas décadas anteriores.
Além disso, a Reunidas lidava com dificuldade para pagar tributos e perdeu a certificação negativa de débito, que garantia a manutenção de parte das suas operações.
“Transporte de passageiros é uma concessão pública, então é preciso manter a regularidade fiscal, que é demonstrada por meio da certificação negativa de débito”, diz Vinícius Marins, atual presidente do grupo. “Por alguns motivos, como enchentes e alguns custos, além de aumento das dívidas, a empresa perdeu a certificação, o que engessou o negócio”.
Como a Reunidas saiu dessa, então? A lista é longa. Nos últimos sete anos, a gestão da empresa saiu da estrutura familiar, que ainda é sócia majoritária do negócio, para lideranças de mercado.
Venderam ativos para recuperar a certificação negativa, reajustaram frotas e linhas e passaram a investir com mais força no transporte de cargas. Para ter uma ideia, quando a Reunidas entrou em recuperação judicial, o frete de cargas representava menos de 30% do negócio. Hoje, é metade da entrada de dinheiro do grupo.
No meio do percurso, porém, houve outro imprevisto. “Foi feito um planejamento em 2016, e estávamos alcançando”, diz Marins. “Em 2020, tivemos problemas pandêmicos. Durante a pandemia, ficamos 17 meses impedidos de operar. Foi colocada uma restrição de 50% da capacidade dos ônibus, sendo que precisávamos de uma ocupação mínima de 64% para não rodar em prejuízo”.
Um dos entendimentos dos executivos sobre os caminhos para sair da crise passam pela profissionalização dos cargos de gestão. Quando a recuperação judicial começou, em 2016, a empresa era conduzida por sucessores do fundador. Depois, durante o processo, começou um caminho gradativo de gestores de mercado assumindo cadeiras de liderança. “Mas todos os executivos já eram pratas da casa. Não veio nenhum executivo de mercado”, afirma Marins.
Para ajudar a superar a crise, também houve venda de imóveis e veículos, algo previsto no plano de reestruturação aprovado por credores.
Com isso, saíram de 700 para 480 ônibus e caminhões. O valor gerado pelas vendas foi usado para regular dívidas com credores e reorganizar os compromissos financeiros. Também regularam as dívidas tributárias.
“Diminuímos a frota, e ficamos com veículos melhores, mais modernos”, afirma Marins. “E por conta da pandemia, reduzimos consideravelmente algumas linhas, otimizando frequências para equalizar custos”. Pela pandemia, também houve cerca de 600 demissões.
Agora, o caminho da reestruturação passa pelo setor de cargas. Em relação ao transporte de passageiros, há uma certa estabilidade. O número de passageiros não voltou a ser o mesmo que tinha antes da pandemia, mas também não cai mais tanto.
Por ali, aumentou a concorrência com a entrada de outras empresas que oferecem o serviço, mas sob um outro modelo de negócio, como o caso da Buser, que divide o preço de um ônibus fretado entre os passageiros.
Nas cargas, a Reunidas vê mais opção de crescimento. “No transporte de passageiros, o grupo vai continuar investindo, mas a expansão é limitada, porque é uma concessão pública”, diz Marins. “Uma expansão na divisão carga não possui toda essa burocracia, e entendemos que há mais possibilidade de expansão”.
O grupo já tem a divisão de carga desde 1970, mas é agora, nos últimos anos, que o negócio ganhou caldo e passou a representar 50% do faturamento, que volta a se aproximar do de antes da pandemia, de 300 milhões de reais.
Como já tinham a operação há anos, a estratégia foi intensificar a relação com os até então clientes, e achar novos para compor a fatia da receita. Nesse caso, a pandemia ajudou. Durante o período de maior restrição, com as pessoas em casa, aumentou a venda online e, consequentemente, a estrutura logística por trás dessas vendas.