Ben Van Leeuwen e Laura O’Neill, em 2009: "Pode parecer improvável, mas somos um tipo diferente de alma gêmea. Como sócios, funcionamos melhor do que como casal." (Getty Images)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de março de 2025 às 09h10.
O setor de sorvetes premium é altamente competitivo nos Estados Unidos. Marcas tradicionais disputam espaço nos freezers dos supermercados, enquanto sorveterias artesanais tentam se destacar com ingredientes sofisticados e propostas inovadoras.
Dentro desse cenário, a Van Leeuwen Ice Cream se consolidou como um fenômeno: começou em 2008 com um caminhão amarelo em Nova York e hoje tem mais de 70 lojas próprias e presença em 10.000 supermercados pelo país.
O que poucos sabem é que, além dos desafios do negócio, os fundadores precisaram administrar um divórcio no meio do caminho.
Ben Van Leeuwen e Laura O’Neill, que criaram a empresa ao lado de Pete Van Leeuwen, começaram como um casal apaixonado pelo sonho de empreender. Em 2011, o relacionamento acabou, mas a sociedade continuou. O que poderia ter sido o fim da empresa se transformou em um dos fatores que ajudaram a impulsionar o crescimento.
"No começo, achei que teria que sair", disse Laura à Inc, publicação especializada norte-americana. "Mas percebemos que dava para fazer isso funcionar. A maioria das pessoas não mantém esse tipo de relação, mas nos tornamos quase família."
A história começou em 2006, quando Ben e Laura se conheceram em Londres. Pouco tempo depois, se mudaram para Nova York, onde, junto com Pete, começaram a escrever o plano de negócios da sorveteria.
A ideia era criar um sorvete de ingredientes puros e simples, sem conservantes ou estabilizantes artificiais.
O trio arrecadou 60.000 dólares entre amigos e familiares e comprou dois caminhões usados para rodar pela cidade.
O primeiro dia de operação foi emblemático: aconteceu um dia depois do casamento de Ben e Laura, quando os dois precisaram acordar de ressaca para levar o caminhão a uma feira em Tribeca. "Tudo era sobre o negócio. Mesmo nos momentos mais difíceis, nunca pensamos em parar", diz Ben.
O sucesso foi rápido. Em 2010, abriram a primeira loja física no Brooklyn e, em pouco tempo, o faturamento chegou a 1 milhão de dólares. Dois anos depois, inauguraram uma fábrica própria no bairro de Greenpoint para acelerar a produção. O crescimento, no entanto, coincidiu com um desgaste na relação pessoal entre Ben e Laura.
Separar uma vida pessoal de uma sociedade não é simples. No caso de Ben e Laura, a decisão de seguir como sócios exigiu maturidade.
"No começo, foi difícil", conta Laura. "Mas, depois que superamos a parte dramática, percebemos que nossa amizade e nossa parceria profissional eram mais fortes do que nosso casamento."
A dinâmica de trabalho também mudou. Nos primeiros anos, os três sócios tomavam todas as decisões juntos. Hoje, cada um tem funções mais bem definidas.
Laura lidera a operação na Costa Oeste, onde mora desde 2017, e Ben segue em Nova York, focado na inovação e na criação de novos sabores. "No começo, fazíamos tudo juntos. Agora, conversamos o tempo todo, mas sabemos que o negócio precisa andar sem depender de uma única pessoa", diz Ben.
O modelo de sorvete artesanal e ingredientes premium ganhou espaço rapidamente. Hoje, a Van Leeuwen está presente em 10 estados dos EUA e já cruzou fronteiras, com uma loja em Singapura. A empresa também conquistou os supermercados, vendendo potes de sorvete em redes como Whole Foods e Walmart.
Parte do sucesso vem da estratégia de lançar sabores inusitados, como sorvete de mac and cheese, feito em parceria com a Kraft, e um sabor inspirado no molho ranch da Hidden Valle
y. As combinações viraram assunto nas redes sociais e ajudaram a consolidar a marca entre os consumidores mais jovens.
Agora, o plano é expandir ainda mais. O objetivo é chegar a 100 lojas nos próximos anos, mantendo a aposta em ingredientes selecionados e sabores inesperados.
O tempo consolidou a relação entre Ben e Laura. Mesmo morando em cidades diferentes, os dois mantêm uma rotina de contato intenso e, quando Laura está em Nova York, ainda fica hospedada na casa de Ben. "Se você supera a parte difícil de um rompimento, pode manter uma grande amizade", diz Laura.
Ben complementa: "Pode parecer improvável, mas somos um tipo diferente de alma gêmea. Como sócios, funcionamos melhor do que como casal."